TORRES, ANTONIO


ANTONIO TORRES

Aos 32 anos, Antônio Torres lançou seu primeiro romance, Um cão uivando para a Lua, que causou grande impacto, sendo considerado pela crítica “a revelação do ano”. O segundo “Os Homens dos Pés Redondos”, confirmou as qualidades do primeiro livro. O grande sucesso, porém, veio em 1976, quando publicou Essa terra, narrativa de fortes pinceladas autobiográficas que aborda a questão do êxodo rural de nordestinos em busca de uma vida melhor nas grandes metrópoles do Sul, principalmente São Paulo.
Obra-prima da literatura brasileira dos anos 70, Essa terra ganhou uma edição francesa em 1984, abrindo o caminho para a carreira internacional do escritor baiano, que hoje tem seus livros publicados em Cuba, na Argentina, França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Estados Unidos, Israel e Holanda, onde foram muito bem recebidos. Em 2001 a Editora Record lança uma reedição comemorativa (25 anos) de Essa Terra. Torres, porém, não restringiu seu universo ao interior do Brasil. Passeia com a mesma desenvoltura por cenários rurais e urbanos, como em Um táxi para Viena d’Áustria, de 1991.
Em 1997, Torres decidiu retornar ao tema e aos personagens do consagrado Essa terra. Vinte anos depois, narrador e protagonista voltam à pequena Junco em O cachorro e o lobo, para encontrar uma cidade já transformada pela chegada do progresso. É um romance de fina carpintaria literária que foi saudado pela crítica como o melhor de todos os livros de Antônio Torres.
Foi condecorado pelo governo francês, em 1998, como “Chevalier des Arts et des Lettres”, por seus romances publicados na França. E ganhou o Prêmio Machado de Assis 2000, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da sua obra.
Em seu mais novo romance, Meu Querido Canibal (Editora Record 2000), Torres se debruça sobre a vida do líder tupinambá Cunhambebe, o mais temido e adorado guerreiro indígena, para traçar um painel das primeiras décadas de história brasileira. Com este romance ganha o Zaffari & Bourbon, maior prêmio literário do país, R$100.000,00, dividido com o escritor catarinense Salim Miguel (NUR na Escuridão), promovido pela 9a Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA RECORD


PELO FUNDO DA AGULHA


Personagem principal de Essa terra, Totonhim e Junco, cidade natal do escritor Antônio Torres e de seu personagem mais célebre, surgem novamente para o público em 1997, com O cachorro e o lobo, no qual se conta o regresso do protagonista à cidade depois de ausência de 20 anos. Mas ainda faltavam coisas pra contar. O emocionante acerto de contas entre Totonhim e suas memórias de Junco acontece agora, com PELO FUNDO DA AGULHA, que fecha uma trilogia primorosamente construída na velocidade de um pau-de-arara.
São três tempos de um personagem catalisador da vida brasileira na última metade do século XX. Em Essa terra, ele aparece moço, recebendo seu irmão Nelo, que partira para São Paulo. Cultuado como alguém que deu certo, Nelo volta falido para sua Junco, no sertão baiano, e acaba cometendo suicídio por não corresponder às expectativas dos seus e por não se reencontrar mais com a cidade. 0Em O cachorro e o lobo, a narrativa ganha lentidão. Transcorridos 20 anos, Totonhim reaparece para comemorar o aniversário de 80 anos do pai. Atormenta-o o desemprego, mas ainda consegue representar o papel do homem bem-sucedido, distribuindo presentes e festejando com seus conterrâneos. Nesta viagem perigosa, seu pai teme que ele siga o exemplo do irmão, e lhe proporciona um almoço que é um elogio da vida e uma noite de amor com sua primeira namorada.
Em PELO FUNDO DA AGULHA, 10 anos depois, Totonhim está sozinho no mundo. Aposentou-se, separou-se da mulher e dos filhos, perdeu o melhor amigo e faz uma outra viagem de volta – totalmente interior. Embalado pela imagem da mãe velhinha, mas ainda com visão boa para enfiar a linha pelo fundo da agulha, sem usar óculos, ele repassa vários lances de sua vida, como se a olhasse por esse orifício. As figuras agora existem só na memória de Totonhim, que revela o lado paulista de sua história.
Ele está em uma nova encruzilhada. O homem fora de combate deita na cama e pensa no sentido de tudo. Não há ninguém para consolá-lo e ele se sente perseguido pelas histórias de amigos e parentes que se suicidaram. Quer voltar para Junco, Junco não existe mais. "Tentei, neste livro, fazer uma reflexão sobre este crepúsculo do mundo em que vivemos. Um mundo pós-utópico, pós-modernista, pós-tudo. Entendo que por trás dos impasses do personagem Totonhim não estão apenas os meus próprios. Nem apenas da minha geração. O que me parece é que de repente nos vemos todos – jovens, adultos e velhos – numa espécie de encruzilhada do tempo, em busca de uma saída para o futuro. E onde está esta saída? Eis a questão", conta o autor.
Ao som de velhas canções, Torres constrói em PELO FUNDO DA AGULHA uma narrativa musical, com idas e voltas, representando o próprio movimento desses migrantes que habitam dois tempos e dois mundos, fazendo a passagem contínua de um para o outro.

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