FORSTER, EDWARD MORGAN


EDWARD MORGAN FORSTER


Edward Morgan Forster nasceu em Londres em Janeiro de 1879. Escreveu: Where the Angels Fear to Tread (1905), The Longest Journey (1907), A Room with a View (1908) e Howard´s End (1910). Passaram-se catorze anos antes de ser publicada a sua mais famosa obra, A Passage to India. Maurice, romance sobre uma relação homossexual, foi completado em 1914 mas publicado somente em 1971, um ano depois da morte de Forster. Forster escreveu também The Life to Come and other Stories, The Eternal Moment and other Stories e ensaios críticos, biografias, dois livros sobre Alexandria, entre os quais Pharos e Pharillon, e o libreto para a ópera Billy Budd de Benjamin Britten.

LIVROESCOLHIDO - EDITORA GLOBO

MAURICE

'Maurice', de E.M. Forster, foi escrito entre 1912 e 1913, mas só foi publicado em 1971, após a morte do autor e conforme o seu desejo. O romance narra a história de Maurice e suas paixões por outros rapazes, o que é, ainda hoje, uma temática controversa. As razões para Maurice ter permanecido inédito são explicadas, em parte, pelo próprio autor nas notas escritas em 1960 e que se encontram ao final da presente edição. É a primeira vez que Maurice é publicado no Brasil. Tendo em conta o tema da homossexualidade na literatura moderna do princípio do século, surpreende a perspectiva de Forster, o caráter radical do seu enfoque. Em sua narrativa não encontrarmos as saídas mais corriqueiras em torno do tema. A experiência vivida por seus personagens não se consuma em algum tipo de sublimação, ou na condenação de suas condutas, mediante alguma conclusão trágica. Pelo contrário, 'Maurice' é um romance que aponta para um final feliz. E de uma felicidade perene, pois fica implícito que Maurice e seu companheiro talvez vivam daí para a frente juntos e monogamicamente. Ao mesmo tempo, Forster enfrenta outros valores poderosos da sociedade, como o religioso, e sua opção é clara, atirando os jovens do romance definitivamente no ateísmo sem culpas. Outra audácia sua talvez seja o modo como toca numa das aporias centrais na história da afetividade até hoje; a diferença de classes entre os envolvidos como fator de impossibilidade de realização do amor. Temática corriqueira na literatura amorosa e chave fundamental para a interpretação de seus outros romances, ela é projetada em Maurice no âmbito de relações entre pessoas do mesmo sexo. A paixão de Maurice por Scudder, um ''simples'' guarda-caças de seu amigo Clive, consolida uma aliança que transcende suas diferenças sociais. No terreno mais específico das representações, o amor homossexual entre os antigos, particularmente os gregos, comparece em Maurice, tal como em outros romances e novelas do período. Mas todas as referências à Grécia culminam no contrário. Se na acrópole de Atenas não é possível uma grande revelação que torne o amor entre dois homens ''natural'', esvazia-se a chancela simbólica e filosófica para os desejos de um homem pelo outro, e Forster torna essa paixão definitivamente concreta. Em mais um aspecto o romance é crucial no terreno dessas representações literárias. Maurice não possui nenhum traço diferenciador que o estigmatize ou sobreleve. Ele é apenas um jovem comum, engolindo aos poucos o duro conhecimento que adquire ao se chocar com a estrutura quase monolítica dos interditos sociais. Não é o artista incompreendido, o marginal, o demoníaco, o intelectual anti-burguês, ou Oscar Wilde e sua persona. É apenas um rapaz que sente amor por outros homens, sem nenhuma intelectualização ou simbolização estética. Eis aí uma perspectiva inesperada e, possivelmente, mais generosa com a sexualidade humana.

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