SEN, AMARTYA - KLIKSBERG, BERNARDO


BERNARDO KLIKSBERG

Filho de imigrantes judeus poloneses emigrados para a Argentina, é doutor em economia e administração pela Universidade de Buenos Aires e assessor de diversos organismos internacionais, entre os quais BID, Unesco e Unicef.

 AMARTYA SEN

Nasceu em Santiniketan, na Índia, em 1933. Foi professor na Delhi School of Economics, London School of Economics, Oxford e Harvard. Desde 1998 é master ("reitor") do Trinity College, Cambridge (onde, em 1959, recebeu seu PhD.). É um dos fundadores do WIDER, Instituto Mundial de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (Universidade da ONU). No seu clássico Collective choice and social welfare, de 1970, problemas éticos essenciais já eram focalizados. Em 1998, recebeu o Prêmio Nobel de Economia.


LIVRO SUGERIDO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS

AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR


As pessoas em primeiro lugar constitui um verdadeiro manifesto contra as desigualdades que afligem os países em desenvolvimento. Em seus eruditos artigos e conferências, reunidos na primeira parte do livro, Amartya Sen trata de alguns dos temas-chave do novo século segundo seu pensamento econômico inovador, concentrando o foco nas iniquidades que atingem os sistemas de segurança social da maioria dos países. Segundo Sen, a solução passa pela reversão dos mecanismos de perpetuação da pobreza, da ignorância e da violência - um imperativo ético baseado na dignidade inalienável da pessoa humana.
Kliksberg, na segunda parte, se dedica a investigar os gargalos sociais do desenvolvimento da América Latina. O economista aborda o problema central da exclusão em suas múltiplas manifestações: jovens ao mesmo tempo desempregados e fora da escola, marginalização das populações indígenas e afro-americanas, violência urbana. Sua visão integral da economia - que não negligencia a importância das manifestações culturais - perpassa o amplo panorama estatístico apresentado, fundamentando propostas para a imediata redução e, no longo prazo, eliminação das injustiças causadoras do subdesenvolvimento.

JUDT, TONY


TONY JUDT

Nasceu em Londres, em 1948. Formou-se pelo King's College, em Cambridge, e pela École Normale Supérieure, em Paris, e já lecionou em Cambridge, Oxford, Berkeley e na Universidade de Nova York, onde fundou, em 1995, o Remarque Institute, que se dedica ao estudo da Europa. Judt é atualmente professor titular de Estudos Europeus, ocupando cátedra instituída em homenagem a Ercih Maria Remarque, veterano da Primeira Guerra Mundial e autor do romance Nada de novo no front. Autor e organizador de onze livros, Judt é articulista freqüente em vários periódicos, como New York Review of Books, Times Literary Supplement, The New Republic e The New York Times
LIVRO SUGERIDO - EDITORA OBJETIVA

PÓS GUERRA - UMA HISTÓRIA DA EUROPA DESDE 1945 (L!)



A Europa de um historiador militante

(Francisco Carlos Teixeira da Silva)

Entramos diretamente na oficina de história de Judt, muito pessoal, e aos poucos somos levados para o interior de debates centrais sobre a história contemporânea, a política internacional e as formas de sociabilidade modernas. Tudo isso com a assunção de importantes teses de autores centrais do século XX, como Eric Hobsbawm, Richard Sennet ou A.J.P. Taylor. A nova Guerra dos Trinta Anos do século XX, o fim das utopias, a aceleração do tempo — breve ou longo no século XX — serão tratados como colunas centrais do texto, para além de um debate apenas teórico.

O Estado-mercado, de Phillip Bobbit merece, tal como a “nova direita” dos anos 80 — com o mito do Estado-mínimo e o mercado auto-regulável —, um cuidadoso trabalho de refutação. Este é, sem dúvida, o principal dos vários méritos do livro de Judt: a coragem de encarar verdades estabelecidas, buscar suas origens políticas e sociais e, por fim, a denúncia do trabalho dos intelectuais em erigi-las em mitos incapacitantes. Judt não se deteve, contudo, diante daquilo que denomina de “self-imposed moral amnésia” da intelectualidade européia, primeiro face ao nazismo, à colaboração e à recorrente justificativa de desconhecimento do fenômeno concentracionário e da limpeza étnica dos judeus na Europa culta. Ele vai além e explica o silêncio perante o stalinismo, durante décadas, como prova da própria decadência da Europa e dos seus intelectuais.

Numa obra anterior, “Passado imperfeito — Um olhar crítico sobre a intelectualidade francesa” Judt é severo com o uso de fontes irreprocháveis — sobre o silêncio de intelectuais como Sartre, Foucault ou Derrida sobre os crimes dos impérios coloniais, incluindo aí a França na Argélia, Madagascar e Vietnã e os soviéticos nas suas áreas de dominação. Mesmo em "Pós-Guerra", as teses centrais de Judt são demolidoras dos grandes mitos. A idéia da Europa vítima do fascismos, da unidade de todos na Resistência — incluindo aí a aceitação gaulista da imperiosidade política do esquecimento — são denunciadas como fraqueza e hipocrisia.

Em seu conjunto, cinco grandes teses atravessam as quase 900 páginas do livro: a redução da dimensão política e intelectual da Europa depois de 1945, acelerada pela perda dos impérios coloniais; a fragilização do que autor chama de “narrativas mestras” da História, incluindo o liberalismo exuberante e o marxismo; o surgimento de um “modelo europeu”, marcado pela superação — não unânime — do Estado-Nação e a imposição de formas cooperativistas em relações internacionais; o fracasso da americanização da Europa e a ilusão das elites locais, incluindo aquelas formadas a partir do fim do socialismo, numa sociedade marcada pela autonomia do mercado. Por fim, mas de forma totalizante para as demais teses defendidas, Judt defende a exaustão do processo político que impôs, depois de 1945, o silêncio e a amnésia histórica como forma de os europeus lidarem com o passado.

Evidentemente, o conjunto da obra de Judt, bem como seus artigos no “New York Review of Books”, possui esta marca típica: erudição e inconformismo. O relativo desconhecimento da obra de Judt no Brasil deve-se, em grande parte, ao fato de que o autor sempre desagradou a elite dos historiadores franceses, duramente atingidos pela sua crítica. Formado em Cambridge, Inglaterra, como especialista em história da França contemporânea, Judt (professor na New York University) mostrouse severo com a elite intelectual européia, sempre disposta a transferir a responsabilidade para o outro absoluto: o nazismo. As origens, a colaboração e, depois, a amnésia moral frente ao sofrimento alheio seriam marcas da intelectualidade européia, e francesa em especial. Somente depois de 1991 a adesão, por exemplo, dos franceses ao Regime de Vichy e sua participação no Holocausto — denunciada pelo historiador François Bédarida — puderam vir à luz do dia, rompendo com o silêncio gaulista e comunista.

Da mesma forma, as críticas deste judeu culto e irrequieto, originário de uma família de rabinos da Lituânia, ao Estado de Israel — chamado por ele de “etno-Estado” — valeram uma forte campanha de descrédito em 2006, com o cancelamento de palestras e conferências em virtude de pressões da Liga Americana Antidifamação. Para Judt, o “declínio moral de Israel” pode vir a ser uma ameaça à memória do próprio Holocausto, trazendo novo fôlego para o ressurgência dos fascismos e para a praga moral do negacionismo (a negação do Holocausto).

SENECA, LUCIUS ANNAEUS

LUCIUS  ANNAEUS  SENECA

Sêneca (Córdoba, 4 a.C. — Roma, 65 d.C.) foi um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano. Conhecido também como Sêneca, o Moço, o Filósofo, ou ainda, o Jovem, sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estóico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia européia renascentista.
Quanto ao agir humano, Sêneca deu grande importância à dimensão ética interior, negou qualquer valor às diferenças sociais e políticas dos homens: todos os homens são iguais enquanto tais. Não havia filósofo estóico que, mais do que ele, tenha-se oposto à instituição da escravidão exaltado o amor e a fraternidade entre os homens. E dedicou-se a observar as questões existenciais que buscavam consolação diante da dor.
Aos 44 anos, famoso intelectual e orador, faz um discurso no foro, acentuando seu pensamento contrário à instituição da escravidão e as distinções sociais, pondo como fundamento das relações entre os homens a fraternidade e o amor. Sêneca propõe que se deve comportar-se com os inferiores como gostarias que se comportassem contigo aqueles que te são superiores. Tal discurso provocou a ira do imperador romano Calígula, que se sente ofendido e decide matar Sêneca. O filósofo foi salvo por uma das amantes de Calígula que argumentou sobre a frágil saúde de Sêneca, que este não teria vida longa. Sobre sua doença, Sêneca declara que o médico dizia que a batida do pulso indicava uma agitação, mal definida de algo que perturbava as condições normais do organismo. No total o filósofo conheceu cinco imperadores romanos.
Em 62 solicita permissão a Nero para se afastar dos negócios em Roma, e escreve seus trabalhos filosóficos mais importantes. Em 65 os inimigos de Sêneca fazem uma falsa denúncia a Nero que o condena à morte através do suicídio. Esta morte foi uma agonia, como descreveu Tácito (Annales XV, 60-5) e foi esplêndidamente ilustrada por Rubens. Corta uma veia do pé em busca de uma morte tranquila. Porém demorou tanto a sangrar que pediu um banho quente para facilitar a hemorragia. Antes, lembra-se de um texto e chama um secretário para copiar um ditado. Enquanto a vida se esvai lentamente deixa seu pensamento imortal através da escrita. Ao final, como Sócrates, acabou tomando o veneno da cicuta.


LIVRO ESCOLHIDO - LANDY EDITORA

AS RELAÇÕES HUMANAS ( L! )


Sêneca escreveu As Relações Humanas em sua velhice quando já se tinha retirado da Corte para sua casa de campo. É uma série de cartas que ele dirige a Lucílio, não apenas um discípulo à distância, mas um amigo com quem ele partilha conhecimentos. A amizade é concebida como uma relação em que as parte se doam em envolvimento profundo, tal como ele diz inicialmente: "tu não poderás ler-me, não poderás lucrar com as minhas cartas se não souberes o que devemos ser um para o outro, se não compreenderes que essa troca de cartas deve também ser uma troca de almas". Assim, as cartas consagradas à amizade é um prelúdio que exorta o discípulo a cultivar com o mestre uma amizade virtuosa e inteira, para em seguida propiciar o desenvolvimento de temas mais aprofundados, aqueles que levarão o amigo à sabedoria. É assim que na seqüência vem os temas da eloqüência e dos livros, da atitude do sábio diante da morte, e, por último, a filosofia. Procura-se conduzir uma alma de qualidade à sabedoria, a discernir os verdadeiros valores, a viver segundo a Razão, a guiá-la para a contemplação da Natureza, portanto do Divino. O verdadeiro conhecimento é aquele que permite descobrir a Natureza e viver em harmonia com ela. Sobretudo, ele nos liberta do medo da morte. É missão do filósofo levar o homem a superar essa angústia. Meditações aprofundadas sobre a morte, sobre a amizade, sobre a filosofia, são encaminhadas a seu destinatário. O professor-amigo é uma chama viva, sempre à procura, dando de si ao outro para dar-se a si mesmo.

Nas relações humanas o perigo é coisa de todos os dias, escreve a Lucílio. Orientava o filósofo que precaver-se bem contra este perigo, estando sempre de olhos bem abertos: não há nenhum outro tão frequente, tão constante, tão enganador! A tempestade ameaça antes de rebentar, os edifícios estalam antes de cair por terra, o fumo anuncia o incêndio próximo: o mal causado pelo homem é súbito e disfarça-se com tanto mais cuidado quanto mais próximo está. Faz-se mal em confiar na aparência das pessoas que a nós nos dirigem: têm rosto humano, mas instintos de feras. Só que nestas apenas o ataque direto é perigoso; se nos passam adiante não voltam atrás à nossa procura. Aliás, orienta Sêneca, somente a necessidade as instiga a fazer mal; a fome ou o medo é que as forçam a lutar. O homem, esse, destrói o seu semelhante por prazer. Tu, contudo, pensando embora nos perigos que te podem vir do homem, pensa também nos teus deveres enquanto homem. Evita, por um lado, que te façam mal, evita, por outro, que faças tu mal a alguém. Alegra-te com a satisfação dos outros, comove-te com os seus dissabores, nunca te esqueças dos serviços que deves prestar, nem dos perigos a evitar. Que ganharás tu vivendo segundo esta norma? Se não evitas que te façam mal, pelo menos consegues que te não tomem por tolo. Acima de tudo, porém, refugia-te na filosofia: ela te protegerá no seu seio, neste templo sagrado viverás seguro ou, pelo menos, mais seguro.

A sabedoria de Sêneca não se limitava a teoria. Sua prática voltava-se para si mesmo, numa passagem ele pergunta: Que progresso já consegui? Comecei a ser amigo de mim mesmo.

LOBO ANTUNES, ANTONIO


ANTONIO LOBO ANTUNES




Proveniente de uma família da alta burguesia, licenciou-se em Medicina e especializou-se em Psiquiatria. Exerceu a profissão no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, dedicando-se desde 1985 exclusivamente à escrita. A experiência em Angola na Guerra do Ultramar como Tenente e Médico do Exército Português durante vinte e sete meses (de 1971 a 1973) marcou fortemente os seus três primeiros romances.
Em termos temáticos, a sua obra prossegue com a tetralogia constituída por A Explicação dos Pássaros, Fado Alexandrino, Auto dos Danados e As Naus, onde o passado de Portugal, dos Descobrimentos ao processo revolucionário de Abril de 1974, é revisitado numa perspectiva de exposição disfórica dos tiques, taras e impotências de um povo que foram, ao longo dos séculos, ocultados em nome de uma versão heróica e epopeica da história. Segue-se a esta série a trilogia Tratado das Paixões da Alma, A Ordem Natural das Coisas e A Morte de Carlos Gardel – o chamado «ciclo de Benfica» –, revisitação de geografias da infância e adolescência do escritor (o bairro de Benfica, em Lisboa). Lugares nunca pacíficos, marcados pela perda e morte dos mitos e afectos do passado e pelos desencontros, incompatibilidades e divórcios nas relações do presente, numa espécie de deserto cercado de gente que se estende à volta das personagens.
António Lobo Antunes começou por utilizar o material psíquico que tinha marcado toda uma geração: os enredos das crises conjugais, as contradições revolucionárias de uma burguesia empolgada ou agredida pelo 25 de Abril, os traumas profundos da guerra colonial e o regresso dos colonizadores à pátria primitiva. Isto permitiu-lhe, de imediato, obter um reconhecimento junto dos leitores, que, no entanto, não foi suficientemente acompanhado pelo lado da crítica. As desconfianças em relação a um estranho que se intrometia no meio literário, a pouca adesão a um estilo excessivo que rapidamente foi classificado de «gongórico» e o próprio sucesso de público, contribuíram para alguns desentendimentos persistentes que se começaram a desvanecer com a repercussão internacional (em particular em França) que a obra de António Lobo Antunes obteve.
Ultrapassado este jogo de equívocos, António Lobo Antunes tornou-se um dos escritores portugueses mais lidos, vendidos e traduzidos em todo o mundo. Pouco a pouco, a sua escrita concentrou-se, adensou-se, ganhou espessura e eficácia narrativa. De um modo impiedoso e obstinado, esta obra traça um dos quadros mais exaustivos e sociologicamente pertinentes do Portugal do século XX.
A sua obra prosseguiu numa contínua renovação linguística, tendo os seus romances seguintes (Exortação aos Crocodilos, Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura, Que Farei Quando Tudo Arde?, Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo), bem recebidos pela crítica, marcando definitivamente a ficção portuguesa dos últimos anos.
Em 2007 foi distinguido com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário de língua portuguesa. Em 2008 foram-lhe atribuídas, pelo Ministério da Cultura francês, as insígnias de Comendador da Ordem das Artes e das Letras francesas.
Lobo Antunes foi militante da Aliança Povo Unido, por alguns meses, em 1980.


LIVRO SUGERIDO - EDITORA OBJETIVA



MEMÓRIA DE ELEFANTE (L!)



Memória de Elefante é o primeiro romance de Lobo Antunes. Lançado em Portugal em 1979, alcançou um sucesso tão extraordinário que permitiu a seu autor abandonar a Medicina e se dedicar integralmente à carreira de escritor.
O livro se passa em um único dia, um lírico dia na vida de um médico psiquiatra que regressou de Angola e, separado da mulher e das filhas, vem sofrendo uma crise existencial ao longo dos últimos anos de vida.
Um romance belo e universal, que coloca em evidência a fragilidade humana e também o ânimo necessário para se superarem os obstáculos de qualquer vida adulta.


LIVRO SUGERIDO - ALFAGUARA EDITORA

EU HEI-DE AMAR UMA PEDRA
- (L!)


António Lobo Antunes esteve numa noite de Novembro de 2004 no Grande Hotel do Porto rodeado de amigos e admiradores para apresentar o seu romance “Eu Hei-de Amar Uma Pedra” e ao mesmo tempo celebrar o 25.º aniversário da sua carreira literária.
“Não posso estar sem escrever, a vida fica sem sentido”, foi uma das frases-chave da noite. Sobre “Eu Hei-de Amar Uma Pedra”, Lobo Antunes revelou tratar-se de uma história de amor. “Não há nada mais difícil de escrever do que uma história de amor”.
Lobo Antunes confessou ter sido a primeira vez que escreveu baseado numa história verdadeira. Num hospital, “estava a fazer um exame e vi passar uma senhora de oitenta e tal anos, muito direita, com os olhos azuis”, contou. “Era uma senhora pobre, uma camponesa, de uma aldeia ao pé de Cantanhede”, completou. Então, o médico que lhe fazia o exame contou a história da idosa. Em resumo, é a que se segue: aos 16 anos apaixonou-se por um rapaz da aldeia, tendo namorado sempre em frente à janela. Depois foi viver para Lisboa, onde ficou à guarda de umas tias velhas – “para tomar conta da virgindade”, apimentou Lobo Antunes –, tal como o rapaz se mudou para a capital. Aos 17 anos a rapariga ficou doente e foi internada em Coimbra, onde recebia cartas do seu apaixonado, mas às quais não respondia com medo de contagiá-lo. Sem resposta, o rapaz (que trabalhava na Rodoviária Nacional e estudava Direito), desistiu dela. Acabou por casar e ter filhos. Dez anos mais tarde reencontram-se. O casal desfeito pelos azares da vida passou a encontrar-se todas as quartas-feiras numa hospedaria de Lisboa entre as três e as seis da tarde – o que sucedeu durante 53 anos! O homem acabou por morrer na hospedaria na companhia do seu amor de sempre, que para evitar escândalos à família do falecido (alto quadro da RN) tudo fez para que o corpo fosse retirado do local discretamente. Não foi ao velório nem ao funeral. Entrou em depressão, foi hospitalizada e um dia passou à frente dos olhos de Lobo Antunes, que ganhou uma ideia para um romance.