LOBO ANTUNES, ANTONIO


ANTONIO LOBO ANTUNES




Proveniente de uma família da alta burguesia, licenciou-se em Medicina e especializou-se em Psiquiatria. Exerceu a profissão no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, dedicando-se desde 1985 exclusivamente à escrita. A experiência em Angola na Guerra do Ultramar como Tenente e Médico do Exército Português durante vinte e sete meses (de 1971 a 1973) marcou fortemente os seus três primeiros romances.
Em termos temáticos, a sua obra prossegue com a tetralogia constituída por A Explicação dos Pássaros, Fado Alexandrino, Auto dos Danados e As Naus, onde o passado de Portugal, dos Descobrimentos ao processo revolucionário de Abril de 1974, é revisitado numa perspectiva de exposição disfórica dos tiques, taras e impotências de um povo que foram, ao longo dos séculos, ocultados em nome de uma versão heróica e epopeica da história. Segue-se a esta série a trilogia Tratado das Paixões da Alma, A Ordem Natural das Coisas e A Morte de Carlos Gardel – o chamado «ciclo de Benfica» –, revisitação de geografias da infância e adolescência do escritor (o bairro de Benfica, em Lisboa). Lugares nunca pacíficos, marcados pela perda e morte dos mitos e afectos do passado e pelos desencontros, incompatibilidades e divórcios nas relações do presente, numa espécie de deserto cercado de gente que se estende à volta das personagens.
António Lobo Antunes começou por utilizar o material psíquico que tinha marcado toda uma geração: os enredos das crises conjugais, as contradições revolucionárias de uma burguesia empolgada ou agredida pelo 25 de Abril, os traumas profundos da guerra colonial e o regresso dos colonizadores à pátria primitiva. Isto permitiu-lhe, de imediato, obter um reconhecimento junto dos leitores, que, no entanto, não foi suficientemente acompanhado pelo lado da crítica. As desconfianças em relação a um estranho que se intrometia no meio literário, a pouca adesão a um estilo excessivo que rapidamente foi classificado de «gongórico» e o próprio sucesso de público, contribuíram para alguns desentendimentos persistentes que se começaram a desvanecer com a repercussão internacional (em particular em França) que a obra de António Lobo Antunes obteve.
Ultrapassado este jogo de equívocos, António Lobo Antunes tornou-se um dos escritores portugueses mais lidos, vendidos e traduzidos em todo o mundo. Pouco a pouco, a sua escrita concentrou-se, adensou-se, ganhou espessura e eficácia narrativa. De um modo impiedoso e obstinado, esta obra traça um dos quadros mais exaustivos e sociologicamente pertinentes do Portugal do século XX.
A sua obra prosseguiu numa contínua renovação linguística, tendo os seus romances seguintes (Exortação aos Crocodilos, Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura, Que Farei Quando Tudo Arde?, Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo), bem recebidos pela crítica, marcando definitivamente a ficção portuguesa dos últimos anos.
Em 2007 foi distinguido com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário de língua portuguesa. Em 2008 foram-lhe atribuídas, pelo Ministério da Cultura francês, as insígnias de Comendador da Ordem das Artes e das Letras francesas.
Lobo Antunes foi militante da Aliança Povo Unido, por alguns meses, em 1980.


LIVRO SUGERIDO - EDITORA OBJETIVA



MEMÓRIA DE ELEFANTE (L!)



Memória de Elefante é o primeiro romance de Lobo Antunes. Lançado em Portugal em 1979, alcançou um sucesso tão extraordinário que permitiu a seu autor abandonar a Medicina e se dedicar integralmente à carreira de escritor.
O livro se passa em um único dia, um lírico dia na vida de um médico psiquiatra que regressou de Angola e, separado da mulher e das filhas, vem sofrendo uma crise existencial ao longo dos últimos anos de vida.
Um romance belo e universal, que coloca em evidência a fragilidade humana e também o ânimo necessário para se superarem os obstáculos de qualquer vida adulta.


LIVRO SUGERIDO - ALFAGUARA EDITORA

EU HEI-DE AMAR UMA PEDRA
- (L!)


António Lobo Antunes esteve numa noite de Novembro de 2004 no Grande Hotel do Porto rodeado de amigos e admiradores para apresentar o seu romance “Eu Hei-de Amar Uma Pedra” e ao mesmo tempo celebrar o 25.º aniversário da sua carreira literária.
“Não posso estar sem escrever, a vida fica sem sentido”, foi uma das frases-chave da noite. Sobre “Eu Hei-de Amar Uma Pedra”, Lobo Antunes revelou tratar-se de uma história de amor. “Não há nada mais difícil de escrever do que uma história de amor”.
Lobo Antunes confessou ter sido a primeira vez que escreveu baseado numa história verdadeira. Num hospital, “estava a fazer um exame e vi passar uma senhora de oitenta e tal anos, muito direita, com os olhos azuis”, contou. “Era uma senhora pobre, uma camponesa, de uma aldeia ao pé de Cantanhede”, completou. Então, o médico que lhe fazia o exame contou a história da idosa. Em resumo, é a que se segue: aos 16 anos apaixonou-se por um rapaz da aldeia, tendo namorado sempre em frente à janela. Depois foi viver para Lisboa, onde ficou à guarda de umas tias velhas – “para tomar conta da virgindade”, apimentou Lobo Antunes –, tal como o rapaz se mudou para a capital. Aos 17 anos a rapariga ficou doente e foi internada em Coimbra, onde recebia cartas do seu apaixonado, mas às quais não respondia com medo de contagiá-lo. Sem resposta, o rapaz (que trabalhava na Rodoviária Nacional e estudava Direito), desistiu dela. Acabou por casar e ter filhos. Dez anos mais tarde reencontram-se. O casal desfeito pelos azares da vida passou a encontrar-se todas as quartas-feiras numa hospedaria de Lisboa entre as três e as seis da tarde – o que sucedeu durante 53 anos! O homem acabou por morrer na hospedaria na companhia do seu amor de sempre, que para evitar escândalos à família do falecido (alto quadro da RN) tudo fez para que o corpo fosse retirado do local discretamente. Não foi ao velório nem ao funeral. Entrou em depressão, foi hospitalizada e um dia passou à frente dos olhos de Lobo Antunes, que ganhou uma ideia para um romance.

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