A cultura narcísica e os malogros na educação

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AGUIAR, FLÁVIO

Flávio Aguiar nasceu em 1947, em Porto Alegre. Mora em Berlim e é colaborador da Revista do Brasil. Fez mestrado e doutorado em Teoria Literária na USP e foi professor de Literatura Brasileira dessa universidade de 1973 a 2006. No período da ditadura, foi editor de Cultura do jornal "Movimento". Foi diretor de TV e editor-chefe da página Carta Maior, com a qual continua a colaborar. Autor, organizador e colaborador de dezenas de livros, ganhou três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro: em 1983, com "A comédia nacional no teatro de José de Alencar" (Ensaio); em 2000, com "Anita" (romance); em 2007, como participante da obra coletiva "Latinoamericana – Enciclopédia sobre a América Latina e o Caribe" (org. de Emir Sader e Ivana Jinkings), também premiado como melhor livro do ano em não ficção.

LIVRO ESCOLHIDO  -  BOITEMPO EDITORIAL

CRÔNICAS  DO  MUNDO  AO  REVÉS

Em seu primeiro livro escrito em Berlim, onde vive desde 2007, o escritor e professor de Literatura Brasileira da USP Flavio Aguiar desafia o leitor a distinguir ficção de realidade em dezenove histórias de amor, ódio e sobrevivência. Nesse livro de contos, crônicas e “causos” –, a ambiguidade da narrativa é anunciada logo no início: uma das condições do mundo ao revés é não levar a sério demais quem narra, avisa o autor. “Somos bombardeados continuamente por imagens e mensagens sobre cuja idoneidade e veracidade não temos a menor ideia. Isso não nos impede, no entanto, de fazer escolhas nem de sair de uma história para entrar em outra”, afirma.
Exercendo liberdade total de expressão, Aguiar constrói múltiplos narradores que não se guiam pelo ideal do politicamente correto. Cada história é um fragmento de estilo, e o conjunto forma uma unidade tão controversa quanto a própria identidade do ser humano. Dividida em quatro partes (“Tempos difíceis”, “Palavras difíceis”, “Causos difíceis” e “Histórias difíceis”), a obra trata de uma variedade de temas que vão da história familiar do autor aos tempos da ditadura militar e suas cicatrizes na vida brasileira. “O livro se pauta pelo bom humor e pela ironia de seus narradores, mesmo ao enfrentar histórias trágicas, como muitas do golpe de 1964 e suas consequências. É um olhar irônico e distanciado que viaja também à infância e às pequenas histórias ocultas dos grandes segredos familiares”, diz o autor.
Como o autor ressalta numa “Advertência” inicial, o mundo ao revés é aquele onde se registra o impossível de acontecer – mas que, no entanto, acontece. Todas as histórias são permeadas por uma fina ironia, como a do militante da luta armada contra a ditadura no Cone Sul que se agarra à vida e sobrevive à prisão, mas não a supera, pelo contrário, alimenta pensamentos suicidas em seu retorno. O livro conta com apresentação da psicanalista Maria Rita Kehl e texto de orelha do escritor Roniwalter Jatobá.

POLAKOV-SURANSKY, SASHA



Sasha Polakow-Suransky

Editor da prestigiosa revista estadunidense Foreign Affairs.Tem doutorado em história moderna na Universidade de Oxford. Artigos publicados em The American Prospect, the International Herald Tribune, The New Republic, and Newsweek . Mora no Brooklyn, New York.




LIVRO ESCOLHIDO - ED. PANTHEON BOOKS

THE UNSPOKEN ALLIANCE: ISRAEL'S SECRET  RELATIONSHIP WITH APARTHEID SOUTH AFRICA  (ainda sem tradução no Brasil)




Em março de 1975, o então ministro da Defesa e hoje presidente de Israel, Shimon Peres, ofereceu a Pieter Botha, seu par no regime racista sul africano, mísseis Jericho com ogivas em "três tamanhos": convencionais, químicas ou nucleares. Contexto e mensagens deixam claro que o regime do premier John Vorster queria mísseis nucleares, com bombas fornecidas por Tel-Aviv ou produzidas na África do Sul com sua ajuda.
O negócio não foi fechado por razões de custo, mas a cooperação continuou e permitiu ao apartheid criar armas nucleares, desmanteladas quando Nelson Mandela subiu ao poder.




SEN, AMARTYA - KLIKSBERG, BERNARDO


BERNARDO KLIKSBERG

Filho de imigrantes judeus poloneses emigrados para a Argentina, é doutor em economia e administração pela Universidade de Buenos Aires e assessor de diversos organismos internacionais, entre os quais BID, Unesco e Unicef.

 AMARTYA SEN

Nasceu em Santiniketan, na Índia, em 1933. Foi professor na Delhi School of Economics, London School of Economics, Oxford e Harvard. Desde 1998 é master ("reitor") do Trinity College, Cambridge (onde, em 1959, recebeu seu PhD.). É um dos fundadores do WIDER, Instituto Mundial de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (Universidade da ONU). No seu clássico Collective choice and social welfare, de 1970, problemas éticos essenciais já eram focalizados. Em 1998, recebeu o Prêmio Nobel de Economia.


LIVRO SUGERIDO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS

AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR


As pessoas em primeiro lugar constitui um verdadeiro manifesto contra as desigualdades que afligem os países em desenvolvimento. Em seus eruditos artigos e conferências, reunidos na primeira parte do livro, Amartya Sen trata de alguns dos temas-chave do novo século segundo seu pensamento econômico inovador, concentrando o foco nas iniquidades que atingem os sistemas de segurança social da maioria dos países. Segundo Sen, a solução passa pela reversão dos mecanismos de perpetuação da pobreza, da ignorância e da violência - um imperativo ético baseado na dignidade inalienável da pessoa humana.
Kliksberg, na segunda parte, se dedica a investigar os gargalos sociais do desenvolvimento da América Latina. O economista aborda o problema central da exclusão em suas múltiplas manifestações: jovens ao mesmo tempo desempregados e fora da escola, marginalização das populações indígenas e afro-americanas, violência urbana. Sua visão integral da economia - que não negligencia a importância das manifestações culturais - perpassa o amplo panorama estatístico apresentado, fundamentando propostas para a imediata redução e, no longo prazo, eliminação das injustiças causadoras do subdesenvolvimento.

JUDT, TONY


TONY JUDT

Nasceu em Londres, em 1948. Formou-se pelo King's College, em Cambridge, e pela École Normale Supérieure, em Paris, e já lecionou em Cambridge, Oxford, Berkeley e na Universidade de Nova York, onde fundou, em 1995, o Remarque Institute, que se dedica ao estudo da Europa. Judt é atualmente professor titular de Estudos Europeus, ocupando cátedra instituída em homenagem a Ercih Maria Remarque, veterano da Primeira Guerra Mundial e autor do romance Nada de novo no front. Autor e organizador de onze livros, Judt é articulista freqüente em vários periódicos, como New York Review of Books, Times Literary Supplement, The New Republic e The New York Times
LIVRO SUGERIDO - EDITORA OBJETIVA

PÓS GUERRA - UMA HISTÓRIA DA EUROPA DESDE 1945 (L!)



A Europa de um historiador militante

(Francisco Carlos Teixeira da Silva)

Entramos diretamente na oficina de história de Judt, muito pessoal, e aos poucos somos levados para o interior de debates centrais sobre a história contemporânea, a política internacional e as formas de sociabilidade modernas. Tudo isso com a assunção de importantes teses de autores centrais do século XX, como Eric Hobsbawm, Richard Sennet ou A.J.P. Taylor. A nova Guerra dos Trinta Anos do século XX, o fim das utopias, a aceleração do tempo — breve ou longo no século XX — serão tratados como colunas centrais do texto, para além de um debate apenas teórico.

O Estado-mercado, de Phillip Bobbit merece, tal como a “nova direita” dos anos 80 — com o mito do Estado-mínimo e o mercado auto-regulável —, um cuidadoso trabalho de refutação. Este é, sem dúvida, o principal dos vários méritos do livro de Judt: a coragem de encarar verdades estabelecidas, buscar suas origens políticas e sociais e, por fim, a denúncia do trabalho dos intelectuais em erigi-las em mitos incapacitantes. Judt não se deteve, contudo, diante daquilo que denomina de “self-imposed moral amnésia” da intelectualidade européia, primeiro face ao nazismo, à colaboração e à recorrente justificativa de desconhecimento do fenômeno concentracionário e da limpeza étnica dos judeus na Europa culta. Ele vai além e explica o silêncio perante o stalinismo, durante décadas, como prova da própria decadência da Europa e dos seus intelectuais.

Numa obra anterior, “Passado imperfeito — Um olhar crítico sobre a intelectualidade francesa” Judt é severo com o uso de fontes irreprocháveis — sobre o silêncio de intelectuais como Sartre, Foucault ou Derrida sobre os crimes dos impérios coloniais, incluindo aí a França na Argélia, Madagascar e Vietnã e os soviéticos nas suas áreas de dominação. Mesmo em "Pós-Guerra", as teses centrais de Judt são demolidoras dos grandes mitos. A idéia da Europa vítima do fascismos, da unidade de todos na Resistência — incluindo aí a aceitação gaulista da imperiosidade política do esquecimento — são denunciadas como fraqueza e hipocrisia.

Em seu conjunto, cinco grandes teses atravessam as quase 900 páginas do livro: a redução da dimensão política e intelectual da Europa depois de 1945, acelerada pela perda dos impérios coloniais; a fragilização do que autor chama de “narrativas mestras” da História, incluindo o liberalismo exuberante e o marxismo; o surgimento de um “modelo europeu”, marcado pela superação — não unânime — do Estado-Nação e a imposição de formas cooperativistas em relações internacionais; o fracasso da americanização da Europa e a ilusão das elites locais, incluindo aquelas formadas a partir do fim do socialismo, numa sociedade marcada pela autonomia do mercado. Por fim, mas de forma totalizante para as demais teses defendidas, Judt defende a exaustão do processo político que impôs, depois de 1945, o silêncio e a amnésia histórica como forma de os europeus lidarem com o passado.

Evidentemente, o conjunto da obra de Judt, bem como seus artigos no “New York Review of Books”, possui esta marca típica: erudição e inconformismo. O relativo desconhecimento da obra de Judt no Brasil deve-se, em grande parte, ao fato de que o autor sempre desagradou a elite dos historiadores franceses, duramente atingidos pela sua crítica. Formado em Cambridge, Inglaterra, como especialista em história da França contemporânea, Judt (professor na New York University) mostrouse severo com a elite intelectual européia, sempre disposta a transferir a responsabilidade para o outro absoluto: o nazismo. As origens, a colaboração e, depois, a amnésia moral frente ao sofrimento alheio seriam marcas da intelectualidade européia, e francesa em especial. Somente depois de 1991 a adesão, por exemplo, dos franceses ao Regime de Vichy e sua participação no Holocausto — denunciada pelo historiador François Bédarida — puderam vir à luz do dia, rompendo com o silêncio gaulista e comunista.

Da mesma forma, as críticas deste judeu culto e irrequieto, originário de uma família de rabinos da Lituânia, ao Estado de Israel — chamado por ele de “etno-Estado” — valeram uma forte campanha de descrédito em 2006, com o cancelamento de palestras e conferências em virtude de pressões da Liga Americana Antidifamação. Para Judt, o “declínio moral de Israel” pode vir a ser uma ameaça à memória do próprio Holocausto, trazendo novo fôlego para o ressurgência dos fascismos e para a praga moral do negacionismo (a negação do Holocausto).

SENECA, LUCIUS ANNAEUS

LUCIUS  ANNAEUS  SENECA

Sêneca (Córdoba, 4 a.C. — Roma, 65 d.C.) foi um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano. Conhecido também como Sêneca, o Moço, o Filósofo, ou ainda, o Jovem, sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estóico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia européia renascentista.
Quanto ao agir humano, Sêneca deu grande importância à dimensão ética interior, negou qualquer valor às diferenças sociais e políticas dos homens: todos os homens são iguais enquanto tais. Não havia filósofo estóico que, mais do que ele, tenha-se oposto à instituição da escravidão exaltado o amor e a fraternidade entre os homens. E dedicou-se a observar as questões existenciais que buscavam consolação diante da dor.
Aos 44 anos, famoso intelectual e orador, faz um discurso no foro, acentuando seu pensamento contrário à instituição da escravidão e as distinções sociais, pondo como fundamento das relações entre os homens a fraternidade e o amor. Sêneca propõe que se deve comportar-se com os inferiores como gostarias que se comportassem contigo aqueles que te são superiores. Tal discurso provocou a ira do imperador romano Calígula, que se sente ofendido e decide matar Sêneca. O filósofo foi salvo por uma das amantes de Calígula que argumentou sobre a frágil saúde de Sêneca, que este não teria vida longa. Sobre sua doença, Sêneca declara que o médico dizia que a batida do pulso indicava uma agitação, mal definida de algo que perturbava as condições normais do organismo. No total o filósofo conheceu cinco imperadores romanos.
Em 62 solicita permissão a Nero para se afastar dos negócios em Roma, e escreve seus trabalhos filosóficos mais importantes. Em 65 os inimigos de Sêneca fazem uma falsa denúncia a Nero que o condena à morte através do suicídio. Esta morte foi uma agonia, como descreveu Tácito (Annales XV, 60-5) e foi esplêndidamente ilustrada por Rubens. Corta uma veia do pé em busca de uma morte tranquila. Porém demorou tanto a sangrar que pediu um banho quente para facilitar a hemorragia. Antes, lembra-se de um texto e chama um secretário para copiar um ditado. Enquanto a vida se esvai lentamente deixa seu pensamento imortal através da escrita. Ao final, como Sócrates, acabou tomando o veneno da cicuta.


LIVRO ESCOLHIDO - LANDY EDITORA

AS RELAÇÕES HUMANAS ( L! )


Sêneca escreveu As Relações Humanas em sua velhice quando já se tinha retirado da Corte para sua casa de campo. É uma série de cartas que ele dirige a Lucílio, não apenas um discípulo à distância, mas um amigo com quem ele partilha conhecimentos. A amizade é concebida como uma relação em que as parte se doam em envolvimento profundo, tal como ele diz inicialmente: "tu não poderás ler-me, não poderás lucrar com as minhas cartas se não souberes o que devemos ser um para o outro, se não compreenderes que essa troca de cartas deve também ser uma troca de almas". Assim, as cartas consagradas à amizade é um prelúdio que exorta o discípulo a cultivar com o mestre uma amizade virtuosa e inteira, para em seguida propiciar o desenvolvimento de temas mais aprofundados, aqueles que levarão o amigo à sabedoria. É assim que na seqüência vem os temas da eloqüência e dos livros, da atitude do sábio diante da morte, e, por último, a filosofia. Procura-se conduzir uma alma de qualidade à sabedoria, a discernir os verdadeiros valores, a viver segundo a Razão, a guiá-la para a contemplação da Natureza, portanto do Divino. O verdadeiro conhecimento é aquele que permite descobrir a Natureza e viver em harmonia com ela. Sobretudo, ele nos liberta do medo da morte. É missão do filósofo levar o homem a superar essa angústia. Meditações aprofundadas sobre a morte, sobre a amizade, sobre a filosofia, são encaminhadas a seu destinatário. O professor-amigo é uma chama viva, sempre à procura, dando de si ao outro para dar-se a si mesmo.

Nas relações humanas o perigo é coisa de todos os dias, escreve a Lucílio. Orientava o filósofo que precaver-se bem contra este perigo, estando sempre de olhos bem abertos: não há nenhum outro tão frequente, tão constante, tão enganador! A tempestade ameaça antes de rebentar, os edifícios estalam antes de cair por terra, o fumo anuncia o incêndio próximo: o mal causado pelo homem é súbito e disfarça-se com tanto mais cuidado quanto mais próximo está. Faz-se mal em confiar na aparência das pessoas que a nós nos dirigem: têm rosto humano, mas instintos de feras. Só que nestas apenas o ataque direto é perigoso; se nos passam adiante não voltam atrás à nossa procura. Aliás, orienta Sêneca, somente a necessidade as instiga a fazer mal; a fome ou o medo é que as forçam a lutar. O homem, esse, destrói o seu semelhante por prazer. Tu, contudo, pensando embora nos perigos que te podem vir do homem, pensa também nos teus deveres enquanto homem. Evita, por um lado, que te façam mal, evita, por outro, que faças tu mal a alguém. Alegra-te com a satisfação dos outros, comove-te com os seus dissabores, nunca te esqueças dos serviços que deves prestar, nem dos perigos a evitar. Que ganharás tu vivendo segundo esta norma? Se não evitas que te façam mal, pelo menos consegues que te não tomem por tolo. Acima de tudo, porém, refugia-te na filosofia: ela te protegerá no seu seio, neste templo sagrado viverás seguro ou, pelo menos, mais seguro.

A sabedoria de Sêneca não se limitava a teoria. Sua prática voltava-se para si mesmo, numa passagem ele pergunta: Que progresso já consegui? Comecei a ser amigo de mim mesmo.

LOBO ANTUNES, ANTONIO


ANTONIO LOBO ANTUNES




Proveniente de uma família da alta burguesia, licenciou-se em Medicina e especializou-se em Psiquiatria. Exerceu a profissão no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, dedicando-se desde 1985 exclusivamente à escrita. A experiência em Angola na Guerra do Ultramar como Tenente e Médico do Exército Português durante vinte e sete meses (de 1971 a 1973) marcou fortemente os seus três primeiros romances.
Em termos temáticos, a sua obra prossegue com a tetralogia constituída por A Explicação dos Pássaros, Fado Alexandrino, Auto dos Danados e As Naus, onde o passado de Portugal, dos Descobrimentos ao processo revolucionário de Abril de 1974, é revisitado numa perspectiva de exposição disfórica dos tiques, taras e impotências de um povo que foram, ao longo dos séculos, ocultados em nome de uma versão heróica e epopeica da história. Segue-se a esta série a trilogia Tratado das Paixões da Alma, A Ordem Natural das Coisas e A Morte de Carlos Gardel – o chamado «ciclo de Benfica» –, revisitação de geografias da infância e adolescência do escritor (o bairro de Benfica, em Lisboa). Lugares nunca pacíficos, marcados pela perda e morte dos mitos e afectos do passado e pelos desencontros, incompatibilidades e divórcios nas relações do presente, numa espécie de deserto cercado de gente que se estende à volta das personagens.
António Lobo Antunes começou por utilizar o material psíquico que tinha marcado toda uma geração: os enredos das crises conjugais, as contradições revolucionárias de uma burguesia empolgada ou agredida pelo 25 de Abril, os traumas profundos da guerra colonial e o regresso dos colonizadores à pátria primitiva. Isto permitiu-lhe, de imediato, obter um reconhecimento junto dos leitores, que, no entanto, não foi suficientemente acompanhado pelo lado da crítica. As desconfianças em relação a um estranho que se intrometia no meio literário, a pouca adesão a um estilo excessivo que rapidamente foi classificado de «gongórico» e o próprio sucesso de público, contribuíram para alguns desentendimentos persistentes que se começaram a desvanecer com a repercussão internacional (em particular em França) que a obra de António Lobo Antunes obteve.
Ultrapassado este jogo de equívocos, António Lobo Antunes tornou-se um dos escritores portugueses mais lidos, vendidos e traduzidos em todo o mundo. Pouco a pouco, a sua escrita concentrou-se, adensou-se, ganhou espessura e eficácia narrativa. De um modo impiedoso e obstinado, esta obra traça um dos quadros mais exaustivos e sociologicamente pertinentes do Portugal do século XX.
A sua obra prosseguiu numa contínua renovação linguística, tendo os seus romances seguintes (Exortação aos Crocodilos, Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura, Que Farei Quando Tudo Arde?, Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo), bem recebidos pela crítica, marcando definitivamente a ficção portuguesa dos últimos anos.
Em 2007 foi distinguido com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário de língua portuguesa. Em 2008 foram-lhe atribuídas, pelo Ministério da Cultura francês, as insígnias de Comendador da Ordem das Artes e das Letras francesas.
Lobo Antunes foi militante da Aliança Povo Unido, por alguns meses, em 1980.


LIVRO SUGERIDO - EDITORA OBJETIVA



MEMÓRIA DE ELEFANTE (L!)



Memória de Elefante é o primeiro romance de Lobo Antunes. Lançado em Portugal em 1979, alcançou um sucesso tão extraordinário que permitiu a seu autor abandonar a Medicina e se dedicar integralmente à carreira de escritor.
O livro se passa em um único dia, um lírico dia na vida de um médico psiquiatra que regressou de Angola e, separado da mulher e das filhas, vem sofrendo uma crise existencial ao longo dos últimos anos de vida.
Um romance belo e universal, que coloca em evidência a fragilidade humana e também o ânimo necessário para se superarem os obstáculos de qualquer vida adulta.


LIVRO SUGERIDO - ALFAGUARA EDITORA

EU HEI-DE AMAR UMA PEDRA
- (L!)


António Lobo Antunes esteve numa noite de Novembro de 2004 no Grande Hotel do Porto rodeado de amigos e admiradores para apresentar o seu romance “Eu Hei-de Amar Uma Pedra” e ao mesmo tempo celebrar o 25.º aniversário da sua carreira literária.
“Não posso estar sem escrever, a vida fica sem sentido”, foi uma das frases-chave da noite. Sobre “Eu Hei-de Amar Uma Pedra”, Lobo Antunes revelou tratar-se de uma história de amor. “Não há nada mais difícil de escrever do que uma história de amor”.
Lobo Antunes confessou ter sido a primeira vez que escreveu baseado numa história verdadeira. Num hospital, “estava a fazer um exame e vi passar uma senhora de oitenta e tal anos, muito direita, com os olhos azuis”, contou. “Era uma senhora pobre, uma camponesa, de uma aldeia ao pé de Cantanhede”, completou. Então, o médico que lhe fazia o exame contou a história da idosa. Em resumo, é a que se segue: aos 16 anos apaixonou-se por um rapaz da aldeia, tendo namorado sempre em frente à janela. Depois foi viver para Lisboa, onde ficou à guarda de umas tias velhas – “para tomar conta da virgindade”, apimentou Lobo Antunes –, tal como o rapaz se mudou para a capital. Aos 17 anos a rapariga ficou doente e foi internada em Coimbra, onde recebia cartas do seu apaixonado, mas às quais não respondia com medo de contagiá-lo. Sem resposta, o rapaz (que trabalhava na Rodoviária Nacional e estudava Direito), desistiu dela. Acabou por casar e ter filhos. Dez anos mais tarde reencontram-se. O casal desfeito pelos azares da vida passou a encontrar-se todas as quartas-feiras numa hospedaria de Lisboa entre as três e as seis da tarde – o que sucedeu durante 53 anos! O homem acabou por morrer na hospedaria na companhia do seu amor de sempre, que para evitar escândalos à família do falecido (alto quadro da RN) tudo fez para que o corpo fosse retirado do local discretamente. Não foi ao velório nem ao funeral. Entrou em depressão, foi hospitalizada e um dia passou à frente dos olhos de Lobo Antunes, que ganhou uma ideia para um romance.

CONRAD, JOSEPH

JOSEPH  CONRAD
                                                                                                                                                                            

Joseph Conrad, de nome de batismo Józef Teodor Nałęcz Korzeniowski (Berdyczew, 3 de dezembro de 1857 – Bishopboune, 3 de agosto de 1924).Escritor britânico de origem polaca.
Conrad foi educado na Polônia ocupada pela Rússia. O seu pai, um aristocrata empobrecido de Nałęcz, foi escritor e militante armado, sendo preso pelas suas actividades contra os ocupantes russos e condenado a trabalhos forçados na Sibéria. Pouco depois, a sua mãe morreu de tuberculose no exílio, e quatro anos depois também o seu pai, apesar de ter sido autorizado a voltar a Cracóvia. Destas traumáticas experiências de infância durante a ocupação russa é possível que Conrad derivasse temas contra o colonialismo como no romance Coração das Trevas (Heart of Darkness). A sua última obra publicada em vida foi 'The Rover' (1923), onde conta a história de Peyrol, um pirata que decide reformar-se.
Foi colocado sob os cuidados de seu tio, uma figura mais cautelosa do que qualquer um de seus pais, que não obstante, permitiu que Conrad viajasse para Marselha e começasse sua carreira como marinheiro com a idade de 17 anos. Em 1878, depois de uma tentativa falhada de suicídio, passou a servir num barco britânico para evitar o serviço militar russo. Aos 21 anos tinha aprendido inglês, língua que mais tarde dominaria com excelência. Conseguiu, depois de várias tentativas, passar no exame de Capitão de barco e finalmente conseguiu a nacionalidade britânica em 1884. Pôs pela primeira vez o pé em Inglaterra no porto de Lowestoft, Suffolk, e viveu em Londres e posteriormente perto de Cantuária, Kent.
O filósofo Bertrand Russell, que veio a conhecê-lo depois da sua chegada a Inglaterra, tinha verdeiro fascínio pela sua obra, em especial, pela obra Coração das Trevas. (O grau de amizade foi tal que Russell baptizou um de seus filhos com o nome "Conrad".)

LIVRO ESCOLHIDO - EDIT. COMPANHIA DAS LETRAS

CORAÇÃO DAS TREVAS


Foi considerado por Jorge Luis Borges como "o mais intenso de todos os relatos que a imaginação humana jamais concebeu". Além de ser um clássico da literatura contemporânea, a novela serviu de base para o filme "Apocalypse Now", de Francis Ford Coppola. Não é pouca coisa, mas não é demais em se tratando de Joseph Conrad e de um texto cujo tema central é a barbárie, a violência e a desumanização causada pela colonização europeia na África. Pela voz do narrador, Marlow, somos conduzidos até o coração do continente numa missão de resgate do comerciante Kurtz.

GRAVES, ROBERT



ROBERT GRAVES




Romancista e poeta inglês nascido em Londres.

O sofrimento vivido durante a primeira guerra mundial foi a matéria prima para os primeiros livros de poemas: Over the Brazier (1916) e Fairies and Fusiliers (1917). Ao deixar o exército (1919) graduou-se em Oxford e passou a dar aulas em diversas universidades.

Publicou o ensaio On English Poetry (1922) e exerceu a cátedra de literatura inglesa na Universidade do Cairo, no Egito (1926-1929). Consagrou-se com sua famosa autobiografia de seus anos juvenis, Good-Bye to All That (1929), onde estavam salientados os horrores da guerra e o desencanto amoroso que culminaria na inviabilidade de seu primeiro casamento. O sucesso dessa publicação motivou-o a escrever dois romances de natureza épica que consolidariam seu prestígio: I, Claudius (1934) e Claudius the God and his Wife Messalina (1934). Depois vieram os romances Count Belisarius (1938), sobre o general do império bizantino, e The Golden Fleece (1944).

Dedicou-se também ao estudo de inúmeros idiomas e mitologias. Sempre interessado pelo mundo mediterrâneo clássico, passou a residir em Deià (1946), uma aldeia de pescadores em Palma de Maiorca, onde ficou até morrer, aos noventa anos, deixando a impressionante marca de mais de uma centena de livros publicados. Durante o resto de sua vida em Maiorca, fez viagens para vários outros países como os Estados Unidos e proferiu conferências em inúmeras universidades.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA EDIOURO

O GRANDE LIVRO DOS MITOS GREGOS

O Grande Livro dos Mitos Gregos, de Robert Graves, é o mais completo, profundo e minucioso levantamento da miríade de mitos que cimentou a ideologia na sociedade grega antiga e que, por conseqüência, influenciou e influencia até hoje a Civilização Ocidental.

É assim que, decorridos mais de cinco milênios desde quando – conforme Graves – a mitologia grega começa a se estabelecer, ainda temos suas referências no pensamento atual.

O autor levou quase seis anos para escrever esse livro. Um trabalho de arqueologia profunda, no qual pinçou cuidadosamente os mitos clássicos e configurados, eliminando assim a profusão de lendas e outras narrativas que campearam toda a Grécia Antiga. É um trabalho de enorme fôlego, declinado em quase 900 páginas metodicamente organizadas em 171 capítulos. Perpassa desde os mitos da criação do mundo até a Odisséia. Cada mito é narrado, comentado e seus feitos e personagens são correlacionados à estrutura do pensamento moderno.


DAVIES, NORMAN




NORMAN DAVIES
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Historiador, professor emérito da Universidade de Londres.





LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA RECORD

EUROPA NA GUERRA 1939/1945: UMA VITÓRIA NADA SIMPLES


Davies produziu uma narrativa extraordinariamente lúcida, que foge ao convencional, reorganizando fatos bem estabelecidos que até agora vinham sendo rigidamente segregados. Hoje não resta dúvida de que o regime stalinista montou uma máquina de assassinatos em massa e que a proeminência do seu papel na derrota do Terceiro Reich exige grandes ajustes na narrativa convencional. Incorporando todas essas pesquisas, Davies oferece ainda ao leitor uma perspectiva detalhada de como a guerra vem sendo retratada em filmes, arte e literatura e como tal perspectiva afeta a percepção pública do conflito. Mas o melhor do livro é que Davies não se limita ao confortável papel de apenas desconstruir a narrativa convencional.O historiador se arrisca a recontar a história da guerra com base nas novas perspectivas e nas novas pesquisas, que não se revelam nada agradáveis à autocomplacência que predomina nos relatos tradicionais. Se você ensina às crianças que a guerra começou em 1941, elas tendem a imaginar que os Estados Unidos eram todo-poderosos desde o início. E não é difícil fazê-las acreditar que a omissão americana em desafiar Stalin deva ser creditada a fatores pessoais ou a um saudável “isolacionismo”. Mas não foi o caso. Davies argumenta que as forças americanas não tinham nenhuma paridade com a URSS até o início do ano de 1945, que o Exército Vermelho obteve as maiores vitórias contra a Alemanha nazista e que foi o comunismo soviético, não a democracia liberal, a fazer os maiores avanços. Outros dos grandes equívocos que a memória da guerra congelou foi designá-la como “guerra antifascista”. Neste ponto Davies recorre à cronologia. Houve um breve interlúdio, entre 1939 e 1941, no qual o movimento antifascista não foi universalmente aclamado pelo embaraçoso constrangimento provocado pela associação entre Stalin e Hitler. Somente com a invasão da Rússia pelos alemães o mundo retornou aos confortáveis trilhos maniqueístas e o antifascismo voltou à moda com tudo, mostrando-se particularmente apropriado à perspectiva americana, que precisava desesperadamente de uma “cruzada moral contra o Mal”. A partir daí, Stalin começou a posar tranquilamente como o benevolente “tio Joe”. Lembre-se de que este foi o clima reinante na coalizão dos “três grandes” no período da guerra e que este constituiu o espírito no qual os primeiros relatos de guerra se viram escritos. A memória não congela a narrativa valendo-se apenas de distorções, mas também de ausências e silêncios. Apoiado em dados sólidos, por isto mesmo estarrecedores, Davies mostra que as maiores instalações do Gulag soviético, os gigantescos campos de Kolima ou de Vorkuta, facilmente ultrapassavam em tamanho os maiores campos de concentração das SS, em Auschwitz ou Majdanek. O sistema soviético parece não ter tido nenhum equivalente às “fábricas nazistas exclusivas da morte”, como Treblinka, Sobibór ou Belzec. De qualquer forma, é de lamentar que Auschwitz, e não Treblinka, tenha sido escolhido como o local emblemático de lembrança do Holocausto. É um paradoxo que os libertadores de Auschwitz, os soldados do Exército Vermelho, fossem servos de um regime que tinha campos de concentração ainda maiores do que aquele que resgataram. Os historiadores têm de pelejar contra um fenômeno que Pierre Nora chamou de “lugares de memória”, ou seja, locais e monumentos históricos que exercem um apelo tão forte às pessoas que excluem ou minimizam todos os demais. Os massacres nas florestas de Katyn não foram nem de longe uma das maiores atrocidades da Segunda Guerra, mas a história posterior de sua vergonhosa ocultação serve como um teste decisivo de honestidade histórica. Cerca de 4,5 mil cadáveres de oficiais aliados (em sua maioria, poloneses) haviam sido descobertos pelos alemães em 1943. Havia provas circunstanciais de que o assassinato coletivo fora cometido pelos russos, mas todos atribuíram a culpa aos alemães. Os governos ocidentais recusaram-se a mencionar o assunto, exceto para apontar o dedo na direção dos nazistas, e o mundo foi mantido no escuro por 50 anos. Somente em 1990 Mikhail Gorbachev admitiu a culpa dos soviéticos e Boris Yeltsin, alguns anos depois, apresentou a prova, uma ordem de execução, assinada por Stalin, em março de 1940. Mas, até hoje, Katyn não foi enquadrado, nem pelas potências ocidentais, na categoria dos “crimes de guerra”, já que tal designação é usada apenas para referir-se aos crimes dos “inimigos”. A história é sujeita a malversações e congelamentos da memória, e a Segunda Guerra, que em grande medida criou o mundo atual, apresenta tentações especiais. Se é difícil para o indivíduo reconciliar-se com a própria memória, pode-se supor longo e doloroso o caminho das sociedades para descongelar o passado. Livros como o de Norman Davies mostram que a verdade histórica, ainda que relativa, pode ser um atalho libertador.

VIDAL-NAQUET, PIERRE


PIERRE VIDAL-NAQUET


Historiador, professor da École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, diretor do Centre Louis Gernet, fundado por Jean Pierre-Vernant. Intelectual de renome internacional, é autor de numerosas obras sobre a Grécia Antiga e sobre História Contemporânea. Especialista em história da Grécia, era filho de judeus massacrados pelos nazistas e desde cedo engajou-se na denúncia de todo esforço para minimizar o holocausto. Quando a França meteu-se na Guerra da Argélia, nos anos 50, Vidal-Naquet publicou uma obra competente e corajosa: "A tortura na República", onde denunciava a violência das tropas francesas contra prisioneiros argelinos. Trabalho pioneiro sobre maus tratos de presos políticos, o livro comoveu o país. Pela primeira vez a prática da tortura era descrita sem falsos pudores, demonstrando o sofrimento de vítimas e o esforço das autoridades para encobrir os próprios crimes. Judeu interessado nos direitos de árabes, o exemplo de Vidal-Naquet é honroso e atualíssimo.


LIVRO ESCOLHIDO - EDIT. COMPANHIA DAS LETRAS


O MUNDO DE HOMERO  ( L! )

Com suas duas grandes epopéias - a Ilíada e a Odisséia -, Homero é o poeta fundador da literatura ocidental. Pode-se mesmo dizer que, de um modo ou de outro, quase tudo o que se escreveu depois tem relação com seus poemas. Homero não é, entretanto, um autor bem conhecido. Discute-se, por exemplo, se seu nome encobre um, dois ou até diversos poetas. Discute-se, também, a relação de seus textos com a realidade histórica. No século passado, Schliemann pensava ter descoberto o sítio exato de Tróia na colina turca de Hissarlik. Hoje os arqueólogos e os historiadores não têm tanta certeza, mas, em compensação, outros aspectos da sociedade grega arcaica, como o surgimento da pólis, são compreendidos de forma mais adequada.Dirigindo-se tanto ao especialista como ao leitor comum, Vidal-Naquet apresenta uma síntese das principais questões relacionadas à identidade de Homero e à Grécia antiga. Com base nos estudos sobre as epopéias de Kosovo, oferece um conjunto de hipóteses bastante plausíveis relativas à gestação da Ilíada e da Odisséia.

CARRIÈRE, JEAN CLAUDE

JEAN CLAUDE CARRIÈRE

Nasceu em 17 de setembro de 1931, França. Escritor, roteirista, dramaturgo e ensaísta. Trabalhou como roteirista dos principais cineastas do mundo: Buñuel, Godard, Louis Malle, Milos Forman, Carlos Saura, Andrzej Wajda e Hector Babenco e adaptou para o teatro o épico indiano, o Mahabharata. Foi presidente da Federação Européia dos Ofícios da Imagem e do Som (FEMIS) e escreveu com Pascal Bonitzer um livro definitivo sobre a arte do roteiro: O exercício do roteiro, com a finalidade de ensinar a “captar e manter a atenção do espectador”. É um mestre na arte de contar histórias. E mestre no sentido pleno da palavra, pois dá aulas de roteiro pelo mundo afora, inclusive no Brasil com uma Oficina de roteiros para cinema, que realizou na FUNARTE de Brasília, em setembro de 1996. Numa entrevista com Betty Millan disse “Contar e matar, contar e morrer freqüentemente parecem ligados. Porque Xerazade, com seus mil e um contos, afasta de si a morte? Pela equivalência entre a história e a vida, mas sobretudo porque contar é matar e vencer a morte”. Conhecedor de tantas histórias, resolveu registrá-las no papel e escreveu O círculo dos metirosos (Códex, 2004) Realizou mais de 50 filmes, dentre os quais: Diário de uma camareira (1964); A bela da tarde (1967); Via Láctea (1969); Fantasma da liberdade (1974); Esse obscuro objeto do desejo (1977); O processo da revolução (1983) e Sombras de Goya (2006). Após ter estudado longamente o hinduismo para fazer a adaptação do Mahabharata, foi à Índia em 1994 para se encontrar com o Dalai Lama

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA EDIOURO

CONTOS FILOSÓFICOS DO MUNDO INTEIRO

Jean-Claude Carrière compilou, por mais de dez anos, contos dos mais diferentes povos. São histórias engraçadas, inteligentes e, muitas vezes, misteriosas, mas que tocam todos os pontos da interrogação humana, aguçando a curiosidade e a inquietude. Em uma história é difícil discernir o verdadeiro do inventado, uma vez que, algum tempo depois, o real e o imaginário se unem.

HARI, DAOUD



DAOUD HARI

Daoud Hari é membro de uma tribo sudanesa da região de Darfur. Ele trabalha como intréprete e guia para ONGs e jornais em busca de fatos por essa perigosa região, arrasada por conflitos sanguinários.
Hari foi capturado e detido como espião pelo governo do Sudão, em agosto de 2006. Na ocasião estava em companhia de Paul Salopek, vencedor do Prêmio Pulitzer, e seu motorista A (conhecido como "Ali").
Por meses os três foram espancados e passaram por muitas privações. Ao serem soltos, após grande clamor internacional de diplomatas e militares americanos, do cantor Bono e até mesmo do Papa, Hari mudou-se para os EEUU, onde começou a escrever suas memórias a fim de atrair a atenção do mundo para a situação de seu país e de seu povo.
Em 2008, Hari publicou suas memórias sob o título: OTradutor: Memórias de um Membro Tribal de Darfur (The Translator: A Tribesman’s Memoir of Darfur).
D. Hari também é conhecido como Suleiman A. M. Como ele explica em suas memórias, esta é uma identidade falsa, inventada por ele para se fazer passar por cidadão do Chade e assim poder trabalhar como intérprete nos campos sudaneses de refugiados. Pela lei do Chade, apenas seus cidadãos têm permissão para trabalhar nesses locais.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA ROCCO
O TRADUTOR - MEMÓRIAS DE UM HOMEM QUE DESAFIOU A GUERRA

Daoud Ibarahaem Hari nunca vai se esquecer do dia em que helicópteros do exército sudanês destruíram seu vilarejo em Darfur. Apesar de seu pai e de sua mãe terem escapado dos tiros de metralhadora disparados contra a população civil, seu querido irmão Ahmed, membro da resistência, morreu no campo de batalha. Indignado contra essa e tantas outras barbaridades cometidas contra homens, mulheres e crianças de seu país, Hari decidiu arriscar sua vida para denunciar ao mundo o genocídio no Sudão. Em vez de armas, porém, ele preferiu usar outra estratégia: a habilidade para falar árabe, inglês e zaghawa. Guia e tradutor de repórteres estrangeiros que cobriram a guerra iniciada em 2003, Daoud Hari contou com a ajuda dos jornalistas Dennis Michael Burke e Megan K. McKenna para dar o seu impressionante testemunho sobre a sinistra situação de sua terra natal no livro O tradutor – Memórias de um homem que desafiou a guerra.
Com a mesma fé e coragem com que conduziu jornalistas europeus e estadunidenses pelas montanhas de Darfur, o jovem da tribo zaghawa relata a crueldade com que o governo do Sudão perseguiu a sua tribo e o seu próprio povo, no objetivo de aniquilar seus povoados e abrir espaço para a exploração de petróleo no território sudanês. Milhões de pessoas refugiaram-se em abrigos no Chade, país vizinho, e centenas de milhares perderam a vida.
O horror implementado pelo governo sudanês deflagrou uma guerra civil, que mobilizou grupos rebeldes armados em todo o país, inclusive em suas fronteiras. Mover-se pelo conturbado Sudão era uma aventura tão perigosa e impactante que surpreendia até mesmo experientes membros da imprensa internacional. Uma repórter francesa, depois de ver corpos de crianças mortas durante o conflito, passou vários dias no hospital, sem falar, comer ou beber.
Da tragédia que se abateu sobre o Sudão, Daoud Hari transmite aos seus leitores uma mensagem de esperança, com os exemplos de solidariedade e dignidade que encontrou no país dividido pelas armas. Preso, torturado e acusado de espionagem, Hari –- ou Suleiman Abakar Moussa, na falsa identidade chadiana – exilou-se e hoje é um admirado militante dos direitos humanos nos EUA. Das memórias de um humilde tradutor que desafiou a guerra vem a lembrança de que a paz depende do esforço e da contribuição de cada um de nós.

ABULHAWA, SUSAN


SUSAN ABULHAWA

Susan Abulhawa, filha de pais refugiados da Guerra dos Seis Dias, é uma escritora americana de origem palestina. Viveu em vários lugares do Oriente Médio antes de se estabelecer nos EUA, onde fez pós-graduação em ciências biológicas. Frustrada pelas notícias tendenciosas sobre a situação de seu povo, começou a escrever ensaios para jornais, como o New York Daily News, Chicago Tribune, Christian Science Monitor, Philadelphia Inquirer etc. Em 2002, ao testemunhar a barbárie que ocorreu em Jenin, resolveu contar a história do seu povo. Ao regressar da visita, fundou a Playgrounds for Palestine, para construir áreas de lazer para as crianças de territórios ocupados. Como escritora participou de duas antologias: Shattered Illusions e Searching Jenin.



LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA RECORD
A CICATRIZ DE DAVID

Passado entre 1941 e 2002, A CICATRIZ DE DAVID é um romance pungente, que tenta entender uma das mais intricadas questões geopolíticas da humanidade. A autora, filha de refugiados palestinos, conhece de perto a realidade que trata nesta saga. Uma história que remonta aos momentos iniciais da criação do Estado de Israel e à expulsão dos palestinos, seguindo pelas as guerras e conflitos que duram até hoje.Com a criação do novo Estado 1948, a família palestina de Dalia e Hasan, que vive ao ritmo da colheita da azeitona em Ein Hod, vê seu destino mudar. O pequeno povoado torna-se importante peça do esforço sionista para estabelecer e expandir o Estado recém-formado. Durante a expulsão dos palestinos, o filho mais novo do casal, Ismael, marcado por uma cicatriz no rosto, é roubado pelo oficial israelense Moshe e entregue como presente à sua esposa Jolanta, uma sobrevivente de campo de concentração que não podia engravidar devido à violência praticada sexual por guardas nazistas. Dali em diante, o menino passa a se chamar David, e é educado segundo os preceitos da religião judaica, ignorando suas origens e desprezando os árabes, enquanto os membros de sua família biológica são expulsos das terras e deslocados para um campo de refugiados em Jenin, administrado pela ONU. É lá que nasce Amal, caçula de Dalia e Hasan e narradora desta saga de um mundo dividido. Seu nome significa esperança, algo que Dalia perdeu depois de anos de guerra e opressão, esperando retornar à amada Palestina de seus ancestrais. Pelos olhos de Amal, os leitores conhecem a rotina de gerações de refugiados e as humilhações impostas aos palestinos pelo exército israelense. Testemunham também histórias de amor que ultrapassam as barreiras das batalhas e do ódio, nascimentos de crianças e jovens desenvolvendo uma apreciação pela poesia e os estudos. Aguardando um hipotético retorno à terra natal, Yousef e Amal, os filhos sobreviventes da família dizimada, terão de amadurecer e dar sentido à suas vidas.Enquanto isso, Moshe, angustiado pelo remorso, ainda ouve os gritos da mãe da criança que seqüestrou. Sua inquietação é multiplicada pelo sonho de um lugar seguro para o povo judeu estar mergulhado em sangue. Dalia, sufocada pela demência, recebe a notícia de que o marido foi dado como morto após a guerra. Seu filho mais velho, Yousef, é constantemente espancado e torturado.Vinte anos depois de seu seqüestro, o jovem David seguirá para o front durante a Guerra dos Seis Dias, onde se defrontará com o irmão Yousef, combatente da causa palestina, que o reconhece pela sua cicatriz. É o início de uma guerra fratricida entre o irmão mais velho, vencido pelo ódio, e Ismael-David, que se tornou inimigo do próprio povo, e de uma longa jornada em busca da verdadeira identidade de um homem partido ao meio. Resta à narradora, Amal, que parte para os Estados Unidos para viver o sonho americano, preservar a memória da Palestina e dos entes próximos.



(p/ Felipe Vieira, RS, 15/01/2009)

CARPENTIER, ALEJO


ALEJO CARPENTIER

Romancista, contista, poeta e musicólogo, Alejo Carpentier nasceu em Havana em 1904. Filho de arquiteto francês, passou a infância na Europa. Em 1921, de volta a Havana, inicia estudos de Arquitetura, os quais abandona para dedicar-se ao jornalismo e à música. Em 1924, é nomeado chefe de redação da revista cubana Carteles, e começa a trabalhar como organizador dos primeiros concertos de "música nova".É preso em 1927 por participar de um protesto contra a ditadura de Machado. Abandona Cuba secretamente e muda-se para Paris, onde permanece até 1939. Durante sua estada em Paris, trabalha como crítico musical e como compositor; entra em contato com o grupo surrealista de A. Breton; e colabora com a revista Révolution Surrealiste.Em 1933, viaja a Madri, onde publica sua primeira novela. De volta a Cuba em 1939, alterna seu trabalho na rádio nacional com investigações musicológicas.Depois de um longo período na Venezuela (1945-1959), regressa a Cuba, onde desempenha diferentes funções políticas e docentes, tendo sido adido cultural em Paris.Em 1977, recebe o prêmio de literatura "Miguel de Cervantes". Um de seus mais interessantes aportes literários é o conceito do "real maravilhoso", desenvolvido no prólogo de seu romance El Reino de este Mundo. Este conceito é, sinteticamente, a coexistência em um mesmo espaço e tempo de dois mundos diferentes. Morre em Paris em 1980.


LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA MARTINS FONTES


PASSOS PERDIDOS

Ao fugir de uma vida árdua em Nova York, um musicólogo viaja para uma das raras regiões do mundo aonde a civilização não chegou – as altas extensões do rio Orinoco,tendo como missão a coleta de instrumentos musicais indígenas para uma das galerias de um museu organológico. À medida que ele penetra os labirintos da floresta, a viagem se revela também uma volta às etapas históricas mais significativas da América, ao tempo dos passos perdidos da humanidade: um lugar onde o progresso desvaneceu.
“Se, dentro dos cânones musicais, o jazz, a música popular e outros ritmos podem representar uma aproximação do homem com o próprio corpo e a natureza, fora deles restam ainda os ritmos primeiros, que mimetizam ou até são a natureza, quem sabe anteriores ainda à invenção da música como linguagem. E é dessa anterioridade que trata "Os Passos Perdidos". Neste romance, a arte como nós a conhecemos, formal e escrita, não mais redime, mas perde o homem civilizado, para sempre sentenciado à representação. Nele, um musicólogo de Nova York escapa para o rio Orinoco, atrás de uma suposta origem mimética dos instrumentos musicais. Embrenhado na floresta amazônica, descobre um tempo originário, onde a música não é atributo ou predicado de nada, ela somente é, assim como todo o resto.Fascinado pelo ser-em-si primitivo, o personagem não se dá conta de que a própria fascinação já é um afastamento e vai se perdendo, assim, de si mesmo e de tudo, condenado, como somos todos, à mordida irreversível da maçã. O que ocorre é que tudo isso é narrado de maneira tão arrebatadora que ficamos sem saber se preferimos a fonte original ou a civilização. Carpentier é prova de que o conhecimento também é capaz de nos reaproximar do incognoscível.”
(Noemi Jaffe, “Folha SP”, 19/10/2008)

ADORNO, THEODOR


THEODOR ADORNO

Adorno e a cultura de massa
Theodor Adorno, filósofo e sociólogo alemão, projetou-se como um dos críticos mais ácidos dos modernos meios de comunicação de massa. Ao exilar-se nos Estados Unidos, entre 1938 e 1946, percebeu que a mídia não se voltava apenas para suprir as horas de lazer ou dar informações aos seus ouvintes ou espectadores, mas fazia parte do que ele chamou de industria cultural. Um imenso maquinismo composto por milhares de aparelhos de transmissão e difusão que visava produzir e reproduzir um clima conformista e dócil na multidão passiva.
Theodor Adorno, nascido em Frankfurt, na Alemanha, em 1903, foi daqueles tantos intelectuais, cientistas, artistas, compositores e escritores alemães, que, na década de 1930, por serem de descendência judaica ou por inclinarem-se pelo socialismo, ou ambas as coisas, foram obrigados a emigrar para os Estados Unidos, naquilo que foi, talvez, a maior evasão de cérebros registrada na história contemporânea. Ele pertencia a um grupo de pensadores extremamente sofisticado que fazia parte da famosa Escola de Frankfurt, fundada em 1923, e que fora constrangido a sair do país nos anos seguintes da ascensão do nacional-socialismo ao poder.
É de se imaginar o contentamento dele quando, ainda na Suíça, no outono de 1938, recebeu um inesperado telefonema de Londres do seu particular amigo e parceiro, Max Horkheimer. Era um convite para que ele fosse à América para assumir uma pesquisa a serviço da Universidade de Princeton, a mesma que, em 1933, convidara Albert Einstein para integrar o seu corpo docente.
Tratava-se de um projeto e tanto, pois a Radio Research Projet queria saber tudo sobre os ouvintes norte-americanos. Nova Iorque provocou-lhe uma estranha reação. Chocou-o a convivência dos “palácios colossais...dos grandes cartéis internacionais”, com sombrios edifícios erguidos para os pequenos negócios, formando, no geral, um ar de cidade desolada. Nem mesmo o plano municipal de levar gente a morar nos subúrbios mais afastados, dando as residências um ar de individualidade, o consolou.


A estandartização americana
Para ele, um europeu refinado que passara boa parte da sua vida cultivando a música modernista de Alban Berg e, depois, a de Schönberg e sua atonalidade incidental, a América pareceu-lhe toda igual. Contraditoriamente, o país que mais celebrava e enaltecia a singularidade, a cada um procurar ser algo bem diferente dos demais, não parava de produzir e imprimir tudo idêntico, tudo estandartizado. A imensa rede de atividades que cobria toda a cidade era regida apenas pela ideologia do negócio. Numa sociedade onde as pessoas somente sorriam se ganhavam uma gorjeta, nada escapava das motivações do lucro e do interesse. Aprofundando-se no estudo da mídia norte-americana, entendeu que por detrás daquele aparente caos, onde rádios, filmes, revistas e jornais, atuavam de maneira livre e independente, havia uma espécie de monopólio ideológico cujo objetivo era a domesticação das massas. Quando o cidadão saía do seu serviço e chegava em casa , a mídia não o deixava em paz, bombardeando-o, a ele e à família, com programas de baixo nível, intercalados com anúncios carregados de clichês conformistas, comprometendo-o com a produção e o consumo.
Não se tratava, para ele, de que aqueles sem fim de novelas e shows de auditórios refletissem a vontade das massas, algo autêntico e espontâneo, vindo do meio do povo. Um anseio que os profissionais da mídia apenas procuravam dar corpo, transformando-os diversão e entretenimento. Ao contrário, demonstrava, isso sim, a existência de uma poderosa e influente indústria cultural que, de forma planejada, impingia aos seus consumidores doses cavalares de lugares comuns e banalidades, cujo objetivo era ajudar a reproduzir “o modelo do gigantesco mecanismo econômico” que pressionava sem parar a sociedade como um todo.
Lá, na América, não havia espaço neutro. Não ocorria uma cisão entre a produção e o lazer. Tudo era a mesma coisa, tudo girava em função do grande sistema. Dessa forma, qualquer coisa que causasse reflexão, uma inquietação mais profunda, era imediatamente expelida pela industria cultural como indigesta ou impertinente. Adorno, terminada a Segunda Guerra, voltou para a Europa, para Frankfurt, atarefado em reabrir a sua escola de sociologia. Morreu em 1969, arrasado com a humilhação que estudantes ultra-esquerdistas o submeteram, em plena sala de aula, durante a revolta de 1968/9.


Obras principais de Adorno

1933 - Kierkegaard. Konstruktion des Ästhetischen (Kierkegaard, a construção da estética)

1947 - Dialektik der Aufklärung. Philosophische Fragmente (A dialética do esclarecimento. Filosofia em fragmento), com Max Horkheimer)

1949 - Philosophie der neuen Musik (A filosofia da nova música)

1950 - The Authoritarian Personality (A personalidade autoritária) juntamente com E. Frenkel-Brunswik, D. J. Levinson e R. N. Sanford)

1951 - Minima Moralia. (Mínima morália)

1956 - Zur Metakritik der Erkenntnistheorie. (Sobre a metacrítica da teoria do conhecimento)

1967 - Negative Dialektik (Dialética negativa)

1970 - Ästhetische Theorie (Teoria estética)

1971 - Soziologische Schriften (Escritos sociológicos)


LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA DA UNESP

AS ESTRELAS DESCEM À TERRA: A COLUNA DE ASTROLOGIA DO LOS ANGELES TIMES

As Estrelas Descem à Terra é um texto sui generis no conjunto da obra de Theodor W. Adorno: por um lado, tem uma conexão direta com o núcleo duro do pensamento do filósofo, já que aborda temas como a interpenetração entre o racional e o irracional, o processo de dominação característico do capitalismo tardio, a cultura de massas etc. Por outro, trata-se de uma obra em que as idéias propriamente filosóficas de Adorno não ressaltam tão claramente como em outros de seus livros mais conhecidos. No que concerne ao background filosófico de As estrelas descem à Terra, a vinculação mais evidente é mesmo com a Dialética do Esclarecimento, obra em que Horkheimer e Adorno apontam para o fato de que o esclarecimento, longe de se limitar a um movimento intelectual europeu do século XVIII, o Iluminismo,tem suas raízes muito mais profundas na civilização ocidental, remontando à astúcia de Ulisses na epopéia homérica, no sentido de se valer de todos os meios que lhe eram disponíveis para alcançar o fim de retornar à ilha de Ítaca, onde, na qualidade de rei, era senhor de terras e rebanhos. Com isso querem os autores dizer que, adjacente a todo modelo de racionalidade que erige em fim último não a felicidade, mas objetos que, na verdade, seriam apenas meios de autoconservação da vida humana, reside uma indelével sombra da mais crassa irracionalidade.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA DA UNESP

INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA
Um dos grandes pensadores europeus de sua época se apresenta, neste livro, em uma atividade que poucos dos seus pares aceitariam. Em fase avançada da carreira, amplamente reconhecido, Adorno não hesita em ministrar curso introdutório à Sociologia para um público numeroso e sem preparo prévio. Logo em seguida, a expressão "fase avançada" serviria também para caracterizar sua vida, embora ninguém pudesse prevê-lo naquele momento de 1968, quando tinha 65 anos de idade. Morreria no ano seguinte, de enfarte, acossado por todos os lados - não só pela direita conservadora, como era de hábito - e após amargos embates com os militantes dos movimentos estudantis, que resultaram no cancelamento do curso de Sociologia preparado para 1969. Em uma das últimas aulas do curso de 1968 ele presta emocionada homenagem a colega recém-falecido, na qual enfatiza a tristeza, o desalento e as dúvidas do amigo sobre o acerto do retorno à Alemanha após a emigração, para comentar que ele próprio havia compartilhado esses sentimentos. Impossível não enxergar nessas palavras algo de premonitório.





SAFATLE, VLADIMIR P.


VLADIMIR PINHEIRO SAFATLE
Possui graduação em filosofia pela Universidade de São Paulo (1994), graduação em Comunicação social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (1994), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Lieux et transformations de la philosophie - Université de Paris VIII (2002). Atualmente é professor doutor do departamento de filosofia da Universidade de São Paulo. Foi professor visitante das Universidades de Paris VII e Paris VIII, além de responsável de seminário no Collège International de Philosophie (Paris). Desenvolve pesquisas nas áreas de: epistemologia da psicanálise, desdobramentos da tradição dialética hegeliana na filosofia do século XX e filosofia da música. É um dos coordenadores da International Society of Psychoanalysis and Philosophy.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA BOITEMPO

CINISMO E FALÊNCIA DA CRÍTICA (L!)

Um termo genérico e aparentemente pouco preciso – cinismo – é o ponto de partida de Vladimir Safatle em Cinismo e Falência da Crítica para entender as dinâmicas de racionalização que regem as várias esferas de socialização no capitalismo contemporâneo. Para o autor, é possível observar em dimensões relativamente autônomas da vida social uma certa racionalidade cínica, matéria-prima da organização das sociedades capitalistas atuais.Após a crise das antigas formas de pensar, uma certa estabilidade parece ter se enraizado, tornando dominante na sociedade contemporânea um pensamento único que impede a instauração de novas realidades. Em um contexto de relações sociais pautadas pela atitude cínica, decreta-se a falência de qualquer leitura crítica ou formas diversas de racionalização. Compreender o que o autor chama de “estabilização” desse estado de decomposição é um dos desafios da obra. Em Cinismo e falência da crítica, publicado pela Boitempo dentro da coleção Estado de Sítio, o cinismo aparece não somente como uma distorção em relação a princípios morais, mas descreve um descompasso na compreensão da racionalidade como processo de constituição de valores. O cinismo traria consigo a falência de certa forma de crítica social, afinal, em tal regime de “racionalidade cínica, não é mais possível pensar a crítica como indicação de déficits de adequação entre situações sociais concretas e ideais normativos”, diz Safatle. Os seis artigos que compõem o volume abordam, a partir dessa perspectiva, temas como dialética, sexualidade, estética e política, resgatando conceitos desenvolvidos por Adorno, Freud, Lacan e Hegel, entre outros pensadores, mostrando que o cinismo se alastrou em todas as esferas do pensamento crítico atual - e que problematizá-lo é preciso.

PECORARO, ROSSANO



Rosario Rossano Pecoraro

Possui graduação em Filosofia (1997) pela Università di Salerno (Itália), mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2002) e doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2006). Ensaista e jornalista publicou vários livros e ensaios no Brasil e no exterior. É organizador da obra em 3 volumes "Os filósofos - Clássicos da Filosofia" (Editora PUC-Rio/Editora Vozes). Atualmente atua na coordenação executiva do "Instituto de Estudos Avançados em Humanidades" do Centro de Teologia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (IEAHu/PUC-Rio) e é professor do curso de pós-graduação latu sensu em Filosofia Contemporânea da mesma instituição. É membro do GT da ANPOF "Filosofia da História e Modernidade" e coordenador do "Fórum Krisis" de Filosofia, Humanidades e Ciências Sociais. As suas pesquisas, de cunho interdisciplinar, são dedicadas às relações entre niilismo, nada, negação e ao aprofundamento de questões de Filosofia Política; Filosofia e Teatro; Filosofia da Tecno-Ciência

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA PUC/RIO – EDITORA VOZES

OS FILÓSOFOS - CLÁSSICOS DA FILOSOFIA ( L! )

Os Filósofos - Clássicos da filosofia é uma coletânea de ensaios, assinados pelos maiores especialistas brasileiros, sobre a vida e a obra dos autores clássicos da filosofia ocidental. A obra é distribuída em três volumes, que cobrem a vida e a obra dos grandes filósofos desde a Antigüidade clássica até a contemporaneidade. Cada ensaio traz os seguintes conteúdos: o filósofo e o seu tempo; a essência da sua filosofia; os conceitos-chave presentes na sua obra; os percursos e influências do seu pensamento; suas principais obras publicadas e uma seleção de textos, selecionados e traduzidos especialmente para essa obra.

BLOOM, HAROLD


HAROLD BLOOM


Harold Bloom é professor titular de Ciências Humanas, na Universidade de Yale, e já ocupou cátedra na Universidade de Harvard. Escreveu mais de 25 livros, entre os quais Hamlet: Poema Ilimitado, Gênio, Como e Por Que Ler, Shakespeare: A Invenção do Humano, O Cânone Ocidental, publicados pela Objetiva, além de O Livro de J e A Ansiedade da Influência. Ganhou o prêmio McArthur, da Academia Norte-Americana de Letras e Artes, e recebeu inúmeras distinções e diplomas honorários, inclusive a Medalha de Ouro de Crítica e Belles Lettres, conferida pela mesma academia, o Prêmio Internacional da Catalunha e o Prêmio Alfonso Reyes, do México. Bloom nasceu em Nova York, em 11 de julho de 1930.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA OBJETIVA

ANJOS CAÍDOS

Logo no primeiro parágrafo de Anjos Caídos, Harold Bloom mostra claramente o porquê deste seu ensaio: a fascinação ocidental pela figura dos anjos nas últimas duas décadas. Bloom demonstra um visível espanto diante da quantidade de livros e filmes em torno do universo angelical neste período. E inicia uma discussão mais profunda e contundente sobre o tema.Segundo o autor, existem três categorias simbólicas das religiões do Ocidente que se misturam muitas vezes, sem critérios de definição: os demônios, os diabos e os anjos caídos. Demônios e diabos são regularmente relacionados com o Mal no imaginário popular, enquanto os anjos caídos, apesar de caídos, ainda são anjos. O que, de certa forma, gera um certo glamour e uma aura sofisticada para esta última denominação.Mais uma vez Harold Bloom une seus incríveis conhecimentos acadêmicos em áreas incrivelmente distantes (como Teologia e estudos sobre Shakespeare) para criar um ensaio inovador e pertinente sobre um universo que, de tanto fascinar e se tornar presente no cotidiano ocidental, se transformou indevidamente em um espectro banal.Anjos Caídos conta ainda com as belas ilustrações de Mark Podwal, artista muito famoso nos Estados Unidos pelos seus trabalhos em capas de livros infantis e seus desenhos para o New York Times.

KAWABATA, YASUNARI


Yasunari Kawabata (Osaka, Honshu, 14 de junho de 1899 - Zuschi, 16 de abril de 1972)


Primeiro escritor japonês a ser laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1968.

Enquanto criança, Kawabata desejava tornar-se pintor, mas optou por se tornar escritor após publicar alguns contos durante o tempo em que frequentava o liceu.
Ainda jovem foi marcado por acontecimentos trágicos e pela solidão, ficando órfão com três anos, passando então a ser criado pelos avós, no campo. Perdeu a avó com apenas sete anos, a única irmã com nove anos e o avô com catorze.
Estudava Literatura na Universidade Imperial de Tóquio quando formou, juntamente com Yijunutsy Richii, um jornal de letras – Bungei Jidai – que ajudava a promover um novo movimento literário (Shinkankakuha) que, segundo Kawabata e Yokomitsu, tinha como principais preocupações a apresentação de “novas sensações” na literatura, considerando a arte pura como missão primordial do escritor. Nessa revista publicou, em 1926, "Izu no Odoriko" ("A Dançarina de Izu"), uma história que explorava o erotismo do amor juvenil, com imagens líricas inspiradas em escrituras budistas e poetas medievais japoneses.O seu primeiro romance foi Yukiguni ("O País das Neves"), começado em 1934 e publicado gradualmente de 1935 a 1937. Relata a história de amor entre um homem diletante da cidade de Tóquio e uma gueixa de uma povoação remota onde este encontra um refúgio do stress da sua vida citadina. Este romance colocou Kawabata imediatamente na posição de um dos escritores japoneses mais importantes e promissores, tornando-se o romance num clássico instantâneo que é, hoje, considerado uma das suas mais importantes obras-primas.
Iniciou em 1949 a série "Mil Garças", em que consta o célebre "Nuvens de Pássaros Brancos", e "O Som da Montanha".
Após o final da Segunda Guerra Mundial
Kawabata continuou a publicar romances como Senbazuru, Yama no Oto, “A Casa das Belas Adormecidas”, Utsukushisa to Kanashimi to e Koto (“Kyoto” em Portugal). No entanto o romance que Kawabata considerava ser o seu melhor foi "Meijin", publicado entre 1951 e 1954.
Kawabata foi ainda membro da Academia Imperial e presidente do
Pen Club do Japão, atuando em várias reuniões internacionais de escritores.
Suicidou-se em meio a um surto depressivo, em Zushi, perto de Yokohama.
O estilo de escrita de Yasunari Kawabata distingue-se por uma linguagem suave, mais abstracta que descritiva, onde predomina a subjectividade em relação à objectividade, aproximando-se muitas vezes da prosa poética.
Por seu tratamento de atmosferas e cores, ficou conhecido como alguém que "pintava as palavras" de branco irradiante, praticamente sem outras cores, como se vê em "O País das Neves" e em "Nuvens de Pássaros Brancos".
A solidão, a angústia da morte e a atração pela psicologia feminina foram seus temas constantes.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA GLOBO


BELEZA E TRISTEZA

Traduzido do japonês para o inglês por Howard Hibbett (professor emérito de literatura japonesa em Harvard) e do inglês para o português por Alberto Alexandre Martins (poeta e artista plástico, ganhador do prêmio Jabuti), tem prefácio de Teixeira Coelho (professor da ECA-USP) e posfácio de Roberto Kazuo Yokota (mestre em filosofia pela USP).Como toda a obra de Kawabata, Beleza e Tristeza é o romance de um mundo globalizado. Não, porém, de maneira explícita, pois a globalização não é seu tema. Ela é sua circunstância. Escrevendo em meados do século XX, sua obra tem por contexto histórico a modernização voluntária do Japão antes da Segunda Guerra, e sua ocidentalização (ou americanização) compulsória depois da derrota. Isso se reflete no livro de muitos modos. Por um lado, a própria forma do romance realista-psicológico é ocidental. Por outro lado, a visão de mundo é japonesa. E se o romance, na sua origem, é narração, isto é, ação, na sua migração para o Japão se torna contemplação. Uma contemplação, porém, expandida para a dimensão de um romance, e perturbada pela presença do passado no presente, assim como pela invasão do presente de um passado ainda marcante.Nas palavras do posfaciador, “Cenários e objetos apresentados não apenas situam a ação, mas caracterizam especialmente a inação, mais precisamente, a contemplação da situação. Kawabata dá preferência a ambientes esvaziados, silenciosos, em momentos inertes. Quando figura situações movimentadas, sugere que são desagradáveis, ruidosas, perturbadoras. Assim, desde a primeira cena no trem vazio, [contempla-se] a paisagem do Monte Fuji, interrompido pela presença ruidosa de turistas americanos. [...] Paisagens e vistas panorâmicas são como que pintadas no texto. [E se] o cenário interessa, é pelo simbolismo da ausência, seja do passado histórico que assombra os monumentos, seja da melancolia da contemplação solitária, seja da catástrofe anunciada ao futuro”.A referência à “pintura textual” não é arbitrária. Além de indicar outra marca de hibridismo do romance, desta vez de linguagem, “as personagens principais gravitam em torno do mundo da arte, de uma arte japonesa evanescente, vinculada a uma tradição sobressaltada pelo processo de modernização. Oki Toshio, escritor reconhecido, busca a reconciliação com sua antiga amante, Ueno Otoko, renomada pintora. [...] Oki faz sucesso com o romance que descreve a intensa relação clandestina mantida com Otoko, então adolescente, assim como a trágica sina da jovem após o rompimento. [...] No romance de Oki, como na pintura de Otoko, há a referência nostálgica – mesmo que indireta e simbólica – à separação, não apenas de um amor irresolvido, mas de todo um mundo dolorosamente desfeito. [...] A reconciliação de Oki e Otoko é impossível, a despeito de seus desejos; o mundo que os unia, inexiste. Todavia, foi o distanciamento e o desaparecimento desse mundo que propiciou sua arte”. E a de Kawabata.

CORTÁZAR, JULIO


JULIO CORTÁZAR


Belga de pais argentinos, voltou à Argentina aos quatro anos de idade. Filho de pai Diplomata. Seus pais se separaram posteriormente e foi criado pela mãe, uma tia e uma avó. Formou-se professor e lecionou em algumas cidades do interior do país, inclusive na Universidade de Cuyo, mas renunciou ao cargo quando Perón assumiu a presidência. Em 1951, Cortázar, por não concordar com a ditatura na Argentina, partiu para Paris (França), onde trabalhou como tradutor da Unesco e viveu até a sua morte, por leucemia, em 1984. Foi enterrado no cemitério de Montparnasse.
Em 1961, Cortázar visita Cuba pela primeira vez, época de intensificação de seu fascínio pela política. No mesmo ano teve um livro traduzido para o inglês. Em 1962, lança "Historias de Cronopios y Famas". 1963 marcou o lançamento de "Rayuela", que teve cinco mil cópias vendidas no mesmo ano. Em 1959 saiu o volume "Final del Juego". Seu artigo "Para Llegar a Lezama Lima" foi publicado na revista "Union", em Havana. Depois desses anos, Cortázar se comprometeu politicamente na libertação da América Latina sob regimes ditatoriais.
Seu livro mais conhecido é o romance O Jogo da Amarelinha (1963), que permite várias leituras orientadas pelo próprio autor. É autor de contos considerados como os mais perfeitos no gênero, maior parte de sua obra, reunidos em livros como Bestiário (1951), Final de Jogo (1956), Todos os Fogos o Fogo (1966) e As Armas Secretas (1959), para citar apenas alguns.
Cortázar inspirou um grande número de cineastas, entre eles o italiano Michelangelo Antonioni, cujo longa-metragem Blow-up foi baseado no conto As Babas do Diabo (do livro As Armas Secretas).
O escritor morreu em Paris, de leucemia, em 1984.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA


O JOGO DA AMARELINHA


Em 1963, um romance de Julio Cortázar se junta à série de grandes obras publicadas por escritores latino-americanos. Um livro difícil, que apresenta uma série de técnicas inovadoras e se inscreve dentro do espírito da vanguarda. Vinte anos depois, 'O Jogo da Amarelinha' é consagrado um clássico, uma das obras mais importantes da literatura de língua espanhola ao lado de Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Márquez. 'O jogo da Amarelinha' é um labirinto literário no qual Cortázar discute os questionamentos do homem diante de seu destino, conflitos, dúvidas e paixões. Dividido em três partes, pode ser lido de diversas formas. Cada leitor cria o seu próprio livro e ritmo.

CARPEAUX, OTTO MARIA

OTTO MARIA CARPEAUX



Otto Maria Carpeaux (Otto Karpfen, de nascimento), filho de pai judeu e mãe católica, nasceu em Viena (Áustria), em 9 de Março de 1900, onde cursou o ginasial. Ingressou na faculdade de direito, por sugestão familiar, abandonando-a um ano depois. Estudou filosofia (doutorou-se em 1925), matemática (em Leipzig), sociologia (em Paris), literatura comparada (em Nápoles) e política (em Berlim); além de dedicar-se à música.
Em
1930 casou-se com Helena Carpeaux.
Dedica-se intensamente à
literatura e ao jornalismo político. Converte-se à religião católica e torna-se homem de confiança de dois primeiros-ministros em Berlim, Engelbert Dollfuss e Kurt Schuschnigg, os últimos primeiro-ministros antes do Reich Alemão, respectivamente, o que o obrigando a seguir para o exílio. Em princípios de 1938 foge com a mulher para Antuérpia (Bélgica), onde ainda trabalha como jornalista na Gaset Van Antwerpen, maior jornal belga de língua holandesa.No Brasil
Diante da escalada
nazista, Carpeaux ainda sente-se inseguro e foge com a mulher, em fins de 1939, para o Brasil. Durante a viagem de navio, estoura a guerra na Europa. Recusando qualquer conciliação com o que estava acontecendo no Reich, muda seu sobrenome germânico Karpfen para o francês Carpeaux.
Ao desembarcar, nada conhecia da
literatura brasileira, nada sabia do idioma e não tinha conhecidos. Na condição de imigrante, foi enviado para uma fazenda no Paraná, designado para o trabalho no campo.
O cosmopolita e erudito Carpeaux ruma para
São Paulo. Incialmente passa dificuldades, sem trabalho, sobrevive à custa de desfeitas de seus próprios pertences, inclusive livros e obras de arte. Autodidata, o homem que já sabia inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, flamengo, catalão, galego, provençal, latim e servo-croata, em um ano aprende e domina o português.
Em
1940, tenta ingressar no jornalismo nacional, mas não consegue. É então que escreve uma carta a Álvaro Lins, a respeito de um artigo sobre Eça de Queiroz. A resposta é feita em forma de um convite, em 1941, para escrever um artigo literário para o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Seu artigo é publicado e um emprego é garantido. Iniciava uma publicação regular. Até 1942, Carpeaux escrevia os artigos em francês, que eram traduzidos.
Mostrando sua grande inteligência e erudição, divulgou autores estrangeiros e tornou-se um grande crítico literário. Nesse mesmo ano de
1942, Otto Maria Carpeaux naturalizou-se brasileiro. Ainda nesse ano, publica o livro de ensaios Cinzas do Purgatório.
Entre
1942 e 1944 Carpeaux foi diretor da Biblioteca da Faculdade Nacional de Filosofia. Em 1943, publica Origens e Fins.
De
1944 a 1949 foi diretor da Biblioteca da Fundação Getúlio Vargas. Em 1947 publica sua monumental História da Literatura Ocidental - o mais importante livro do gênero em língua portuguesa. Em 1950, torna-se redator-editor do Correio da Manhã. Em 1951, publica Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, obra singular na literatura nacional - reunindo, em ordem cronológica, mais de 170 autores de acordo às suas correntes, da literatura colonial até nossos dias. Sua produção crítica literária é intensa, escrevendo em jornais semanalmente.
Em
1953, publica Respostas e Perguntas e Retratos e Leituras. Em 1958, publica Presenças, e em 1960, Livros na Mesa.
Carpeaux foi forte opositor do
Golpe Militar, em 1964, redigindo artigos acerca da retrógrada autoridade da então nova ordem miltiar, participando de debates e eventos políticos.
Em
3 de fevereiro de 1978, sexta-feira de Carnaval, morre no Rio de Janeiro, de ataque cardíaco.


LIVRO ESCOLHIDO - EDIÇÕES DO SENADO FEDERAL


HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL - 4 VOLUMES


Essa extensa obra aborda a herança da literatura grega, o mundo romano, o cristianismo, a fundação da Europa, o universalismo cristão, a literatura dos castelos e aldeias, a oposição burguesa e eclesiástica, a transição do Trecento, a Renascença e Reforma no Quatrocento e Cinquecento, o Barroco e Classicismo, o Rococó e a revolução pré-romântica, o Romantismo, a literatura burguesa do Realismo ao Naturalismo, o Fin de Siécle do Simbolismo até as revoltas modernistas e as tendências contemporâneas.