WOLFF, FAUSTO

FAUSTO WOLFF

Fausto (1940) mora no Rio de Janeiro desde 1958. Trabalhou em diversos jornais e revistas e é um dos nomes mais respeitados da imprensa brasileira. Entre suas obras está O Lobo Atrás do Espelho. Representante de uma geração combativa e militante, o autor reúne textos que transmitem esperanças e frustrações com uma inteligência brilhante e uma perspicácia às vezes surpreendente.

LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA BERTRAND BRASIL

A MILÉSIMA SEGUNDA NOITE

Apesar do pessimismo ao qual somos impelidos por um olhar contundente e atento sobre a situação atual do país, o humor é sempre redentor e ajuda a compreender a estupidez que nos cerca.
Isso fica claro em A Milésima Segunda Noite (Bertrand Brasil, 742 págs.), coleção de pequenos textos com histórias, crônicas, fábulas e reflexões sobre os mais diversos temas (política, mulheres, literatura, etc.), sempre tendo como norte o humor e o texto conciso característico do autor, o gaúcho Fausto Wolff.

TREVISAN, JOÃO SILVÉRIO

JOÃO SILVÉRIO TREVISAN

João Silvério Trevisan (1944) nasceu na cidade de Ribeirão Bonito (SP). Escritor com domínio da prosa, é ensaísta, dramaturgo, tradutor, jornalista, coordenador de oficinas literárias, roteirista e diretor de cinema. Estudou Filosofia. Recebeu inúmeros prêmios em teatro, cinema e literatura, dentre os quais o Concurso Latinoamericano del Cuento, em Puebla – México, o Jabuti (três vezes) e o da Associação Paulista dos Críticos de Arte - APCA (duas vezes). Tem obras traduzidas para o inglês, o alemão e o espanhol. Escreve para jornais e revistas de todo o País e do exterior. Alguns livros de autoria de Trevisan:Testamento de Jônatas Deixado a David (contos, 1976). As Incríveis Aventuras de El Cóndor (romance juvenil, 1980). Em Nome do Desejo (romance, 1983). Vagas Notícias de Melinha Marchiotti (romance,1984).Devassos no Paraíso (ensaio histórico-antropológico, 1986). O Livro do Avesso (romance, 1992). Ana em Veneza (romance, 1994). Troços & Destroços (contos, 1997). Seis Balas num Buraco Só: A Crise do Masculino (ensaio, 1998).

LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA RECORD

SEIS BALAS NUM BURACO SÓ: A CRISE DO MASCULINO

O ensaio de João Silvério Trevisan prova que é possível uma discussào inteligente e sensível sobre a crise do masculino em meio a tantas banalidades consumidas freneticamente por homens e mulheres desesperados com as novas dificuldades que enfrentam.

TREVISAN, DALTON

DALTON TREVISAN
As histórias de Dalton Trevisan, um dos melhores contistas brasileiros contemporâneos, reproduzem um cotidiano angustioso numa linguagem direta e popular. Dalton Trevisan nasceu em Curitiba PR, em 14 de junho de 1925. Formado pela Faculdade de Direito do Paraná, liderou em Curitiba o grupo literário que publicou, em 1946, a revista Joaquim (em homenagem a todos os Joaquins do Brasil). A publicação, que circulou até dezembro de 1948, continha o material de seus primeiros livros de ficção, entre os quais Sonata ao luar (1945) e Sete anos de pastor (1948). Em 1954, publicou Guia histórico de Curitiba, Crônicas da província de Curitiba, O dia de Marcos e Os domingos ou Ao armazém do Lucas, edições populares à maneira dos folhetos de feira. A partir da gente de sua cidade, chegou a uma galeria de personagens e situações de significado universal, em que as tramas psicológicas e os costumes são agudamente recriados por meio de uma linguagem precisa e de sabor genuinamente popular, que valoriza os mínimos incidentes de um dia-a-dia sofrido e angustioso. Publicou também Novelas nada exemplares (1959), Morte na praça (1964), Cemitério de elefantes (1964) e O vampiro de Curitiba (1965). Isolado dos meios intelectuais, Trevisan obteve, sob pseudônimo, o primeiro lugar do I Concurso Nacional de Contos do estado do Paraná, em 1968. Escreveu depois A guerra conjugal (1969), Crimes da paixão (1978) e Lincha tarado (1980). Em 1994, publicou Ah é?, obra-prima de seu estilo minimalista. Além de escrever, Trevisan exerce a advocacia e é proprietário de uma fábrica de vidros.
Recebeu o Prêmio Camões 2012 e sua escolha foi unânime pelo júri da 24ª edição do prêmio, formado por seis representantes de Portugal, Brasil, Moçambique e Angola.
O homenageado passou a ser chamado de Vampiro de Curitiba devido ao seu estilo de vida  de reclusão. Trevisan não gosta de dar entrevistas nem de ser fotografado e dificilmente é visto nas ruas.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA RECORD

PICO NA VEIA

Um bom conto é pico certeiro na veia. Mais uma vez, Dalton Trevisan acerta o alvo. Em PICO NA VEIA, o autor usa contos curtos e secos, construídos com ironia cortante e humor cáustico, para lançar um olhar objetivo sobre a condição humana, em tudo o que esta tem de oculto e ambíguo. São textos enxutos que retratam a realidade do Brasil de hoje, onde a miséria, o desemprego e o desespero diante da desesperança provocam suicídios, humilhações, medo, amargura e exploração sexual — particularmente das mulheres —, numa ficção de primeira qualidade. PICO NA VEIA é uma coletânea composta de cerca de duzentos contos. Alguns mais longos, mas, em sua maioria, o livro é uma sucessão de miniestórias. Nelas, os temas recorrentes de Trevisan reaparecem: os desastres do amor, os infernos particulares, a guerra dos sexos, as cenas da vida cotidiana, a condição humana. Tudo composto com uma quase avara escolha de palavras, só perdoada pela acuidade poética dos melhores haicais. Nada se perde na preciosa essência de suas tramas. Há muitos anos, Dalton Trevisan afirmou que só chegaria à perfeição quando compusesse histórias completas com apenas duas ou três linhas. Em PICO NA VEIA, literalmente, para bom entendedor, meia-palavra basta. Dalton Trevisan — considerado pela crítica especializada como o escritor que melhor soube dar dignidade aos sentimentos humanos — mostra que menos é mais. Com apenas algumas palavras e outros sinais gráficos, PICO NA VEIA transmite todos as aflições de homens e mulheres. De Dalton Trevisan, pessoa, pouco se sabe. Ele guarda a sete chaves sua intimidade, não dá entrevistas, não se deixa fotografar, provocando frustração em muitos pela sua recusa irrevogável. A quem lhe pede entrevistas, responde que, para saber mais de sua vida, basta ler seus livros. Ele ali está de corpo e alma. E, em PICO NA VEIA, mais uma faceta de seu caráter é revelada.

TORRES, ANTONIO


ANTONIO TORRES

Aos 32 anos, Antônio Torres lançou seu primeiro romance, Um cão uivando para a Lua, que causou grande impacto, sendo considerado pela crítica “a revelação do ano”. O segundo “Os Homens dos Pés Redondos”, confirmou as qualidades do primeiro livro. O grande sucesso, porém, veio em 1976, quando publicou Essa terra, narrativa de fortes pinceladas autobiográficas que aborda a questão do êxodo rural de nordestinos em busca de uma vida melhor nas grandes metrópoles do Sul, principalmente São Paulo.
Obra-prima da literatura brasileira dos anos 70, Essa terra ganhou uma edição francesa em 1984, abrindo o caminho para a carreira internacional do escritor baiano, que hoje tem seus livros publicados em Cuba, na Argentina, França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Estados Unidos, Israel e Holanda, onde foram muito bem recebidos. Em 2001 a Editora Record lança uma reedição comemorativa (25 anos) de Essa Terra. Torres, porém, não restringiu seu universo ao interior do Brasil. Passeia com a mesma desenvoltura por cenários rurais e urbanos, como em Um táxi para Viena d’Áustria, de 1991.
Em 1997, Torres decidiu retornar ao tema e aos personagens do consagrado Essa terra. Vinte anos depois, narrador e protagonista voltam à pequena Junco em O cachorro e o lobo, para encontrar uma cidade já transformada pela chegada do progresso. É um romance de fina carpintaria literária que foi saudado pela crítica como o melhor de todos os livros de Antônio Torres.
Foi condecorado pelo governo francês, em 1998, como “Chevalier des Arts et des Lettres”, por seus romances publicados na França. E ganhou o Prêmio Machado de Assis 2000, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da sua obra.
Em seu mais novo romance, Meu Querido Canibal (Editora Record 2000), Torres se debruça sobre a vida do líder tupinambá Cunhambebe, o mais temido e adorado guerreiro indígena, para traçar um painel das primeiras décadas de história brasileira. Com este romance ganha o Zaffari & Bourbon, maior prêmio literário do país, R$100.000,00, dividido com o escritor catarinense Salim Miguel (NUR na Escuridão), promovido pela 9a Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA RECORD


PELO FUNDO DA AGULHA


Personagem principal de Essa terra, Totonhim e Junco, cidade natal do escritor Antônio Torres e de seu personagem mais célebre, surgem novamente para o público em 1997, com O cachorro e o lobo, no qual se conta o regresso do protagonista à cidade depois de ausência de 20 anos. Mas ainda faltavam coisas pra contar. O emocionante acerto de contas entre Totonhim e suas memórias de Junco acontece agora, com PELO FUNDO DA AGULHA, que fecha uma trilogia primorosamente construída na velocidade de um pau-de-arara.
São três tempos de um personagem catalisador da vida brasileira na última metade do século XX. Em Essa terra, ele aparece moço, recebendo seu irmão Nelo, que partira para São Paulo. Cultuado como alguém que deu certo, Nelo volta falido para sua Junco, no sertão baiano, e acaba cometendo suicídio por não corresponder às expectativas dos seus e por não se reencontrar mais com a cidade. 0Em O cachorro e o lobo, a narrativa ganha lentidão. Transcorridos 20 anos, Totonhim reaparece para comemorar o aniversário de 80 anos do pai. Atormenta-o o desemprego, mas ainda consegue representar o papel do homem bem-sucedido, distribuindo presentes e festejando com seus conterrâneos. Nesta viagem perigosa, seu pai teme que ele siga o exemplo do irmão, e lhe proporciona um almoço que é um elogio da vida e uma noite de amor com sua primeira namorada.
Em PELO FUNDO DA AGULHA, 10 anos depois, Totonhim está sozinho no mundo. Aposentou-se, separou-se da mulher e dos filhos, perdeu o melhor amigo e faz uma outra viagem de volta – totalmente interior. Embalado pela imagem da mãe velhinha, mas ainda com visão boa para enfiar a linha pelo fundo da agulha, sem usar óculos, ele repassa vários lances de sua vida, como se a olhasse por esse orifício. As figuras agora existem só na memória de Totonhim, que revela o lado paulista de sua história.
Ele está em uma nova encruzilhada. O homem fora de combate deita na cama e pensa no sentido de tudo. Não há ninguém para consolá-lo e ele se sente perseguido pelas histórias de amigos e parentes que se suicidaram. Quer voltar para Junco, Junco não existe mais. "Tentei, neste livro, fazer uma reflexão sobre este crepúsculo do mundo em que vivemos. Um mundo pós-utópico, pós-modernista, pós-tudo. Entendo que por trás dos impasses do personagem Totonhim não estão apenas os meus próprios. Nem apenas da minha geração. O que me parece é que de repente nos vemos todos – jovens, adultos e velhos – numa espécie de encruzilhada do tempo, em busca de uma saída para o futuro. E onde está esta saída? Eis a questão", conta o autor.
Ao som de velhas canções, Torres constrói em PELO FUNDO DA AGULHA uma narrativa musical, com idas e voltas, representando o próprio movimento desses migrantes que habitam dois tempos e dois mundos, fazendo a passagem contínua de um para o outro.

TÓIBIN, COLM







COLM TÓIBIN

Colm Tóibin nasceu na Irlanda, em 1955. Depois de se formar em História e Inglês, Tóibin seguiu em 1975 para Barcelona chegando a participar de muitas manifestações pela democratização do país e, em especial, pela autonomia catalã. Sua relação com a Catalunha está registrada nos livros Homage to Barcelona e The South, seu primeiro romance. De 1978 a 1985 viveu em Dublin escrevendo para vários jornais e revistas, inclusive com reportagens feitas por ele em 1985 durante uma viagem pela América do Sul e África. Nos anos 1990, publicou ficções e livros de ensaios. Desde 1994 escreve resenhas para London Review of Books. Em 2004 lançou seu quinto romance, The Master. Obras publicadas no Brasil: História da Noite (Record) e O Sul (Record).


LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS

O MESTRE

O Mestre é um romance sobre a vida do escritor americano Henry James (1843-1916), autor de clássicos como Retrato de uma senhora e Os embaixadores. Para compor a obra, o irlandês Colm Tóibín empreendeu uma pesquisa minuciosa em biografias do autor e de membros de sua família, em obras críticas e nas cartas trocadas entre Henry James, seu irmão William e alguns dos amigos mais próximos do escritor. Mas a pesquisa documental é apenas ponto de partida para Tóibín construir uma narrativa apaixonada e envolvente, que homenageia Henry James e procura desvendar alguns dos mistérios que permeiam a vida daquele que ficou conhecido como "o mestre" das letras americanas, notório por seu comportamento reservado e pela indefinição de sua vida sentimental. O romance compreende os cinco anos que vão de janeiro de 1895 até outubro de 1899, um período delicado para o escritor. Consagrado por Daisy Miller (1879) e Retrato de uma senhora (1881), James depositava esperanças de sucesso financeiro na literatura dramática, mas a estréia de sua peça Guy Domville (1895), encenada em Londres, foi vaiada na presença do próprio autor. O Mestre compõe um retrato de Henry James como um escritor dividido entre a necessidade profunda de isolamento e privacidade e o talento de observador da comédia humana, com uma capacidade notável de explorar sutilezas dos relacionamentos sociais e amorosos - características que fizeram dele um dos escritores mais refinados de todos os tempos. "Audacioso, profundo e de uma inteligência extraordinária." - The Guardian "Um romance belo, engenhoso e comovente." - The New York Times "Descrições evocativas e precisas, tonalidade melancólica mas serena, escrita sonora mas não pomposa - uma prosa magistral." - Washington Post
LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS
MÃES E FILHOS
São, como anuncia o título, os laços maternos, rompidos ou pendentes, que alimentam estas nove ficções curtas. O tema, sempre ameaçado de esgotamento , impõe, por outros meios, vitalidade a "Mães e Filhos".Tanto mães como filhos encontram-se, da primeira à última página, submetidos a um tipo de conexão que os converte em criaturas de exceção.Um criminoso e um depressivo até perambulam por estas histórias, mas o autor não se satisfaz na compaixão pelos desajustados.Ele prefere sondar o passado de modo mais ou menos reticente, sem que de lá traga uma razão pronta, tampouco uma satisfação que agrade a todos ou resolva problemas.Mais até que filhos desajustados, são as mães que tentam escapar de seus lugares projetados pelos filhos (ou que estão radicalmente ausentes na figura de mortas recentes) que tornam estes relatos tão angustiantes.Sobre eles paira uma forma de indecisão, quase sempre na figura de um passado que retorna subitamente, como em "Famous Blue Raincoat", canção que dá título a um dos contos mais sofridos do lote.Aqui, um passado encaixotado é involuntariamente libertado e, com ele, traz uma dor contida. A memória nos relatos de Tóibín não chega a ser, numa chave proustiana, um meio de busca. Seu efeito parece mais colateral, como um relâmpago (ou um choque) que traz de volta ao presente o impacto dos traumas.Figurados como retorno, reaparições ou reencontros, o que eles guardam em comum é o fato de não promoverem nenhum tipo de solução, o que se reflete nos fins sem conclusões que se repetem neste conjunto de histórias.Conduzido por este tipo de situação reiterativa, os ciclos de desencontro alcançam o ápice em "Um Longo Inverno", última, mais extensa e impactante história do conjunto.Nela, a desaparição súbita da figura da mãe coloca pai e filho em situação primeiro de busca, depois de espera, num suspense que revela muito enquanto pouco conta.Com o artifício das histórias de mistério, Tóibín nos conduz para a zona de sombra e de indefinições que torna a leitura de seus textos um exercício que proporciona um salutar desconforto.
(CÁSSIO STARLING CARLOS, Folha de São Paulo, 30/11/2008)

TABUCCHI, ANTONIO




ANTONIO TABUCCHI

Antonio Tabucchi nasceu em Pisa, Itália, em 1943. É professor de literatura portuguesa do Departamento de Português da Universidade de Pisa e um dos maiores especialistas da atualidade em Fernando Pessoa, sobre quem escreveu vários ensaios e cuja obra traduziu para o italiano. Apreciador também de literatura brasileira, traduziu poemas de Carlos Drummond de Andrade que foram publicados no volume Sentimento del mondo (Turim Einaudi 1987) e o romance Zero, de Ignácio de Loyolla Brandão. Do autor a Rocco já publicou A cabeça perdida de Damasceno Monteiro, Afirma Pereira, A mulher de Porto Pim, Noturno indiano, O anjo negro, Os três últimos dias de Fernando Pessoa, Os voláteis do beato Angélico, Requiem e Sonhos de sonhos.


LIVRO ESCOLHIDO – JOSÉ OLYMPIO (RECORD)


AFIRMA PEREIRA


“O escritor deve ser chato e incômodo. Deve inquietar, desassossegar a consciência das pessoas”, acredita Antonio Tabucchi. Por isso escolheu um modesto jornalista de meia-idade, em plena ditadura salazarista, para ser o protagonista do livro Afirma Pereira. Ao longo do romance, ambientado na Lisboa de 1938, o autor mostra as mudanças de comportamento do jornalista, que trocou uma rotina medíocre por atos corajosos contra a ditadura, até morrer. E essa ficção, com referências a fatos históricos ocorridos na Europa na década de 30, virou filme, dirigido por Roberto Faenza e encenado por Marcelo Mastroianni.
Valendo-se de recursos metafóricos, Tabucchi nos apresenta um personagem semimorto, pesado, que sua demais e aprecia temas ligados à morte. Personagens distintos, no entanto, se movimentam ao seu redor e, sob os efeitos daquele momento histórico de intensa opressão, conseguem lhe fornecer elementos definitivamente determinados para a sua radical transformação.
Nesse belíssimo romance, Antonio Tabucchi nos descreve um processo de maturação psicológica, que surpreende e encanta, tanto pela qualidade dos resultados alcançados por seu protagonista, como pelo arrojo e originalidade no desenvolvimento da narrativa.
Na escrita, a memória impulsiona Tabucchi. Para fazer Afirma Pereira, ele se inspirou num personagem real que conheceu rapidamente em Paris, nos anos 60: um jornalista português obrigado a se exilar na capital parisiense por ter publicado um artigo contra Salazar.
O autor escolheu Portugal como cenário dessa história, porque há anos se apaixonou pelo país. Seu interesse nasceu da leitura do poema “Tabacaria”, de Fernando Pessoa. A admiração pelo poeta levou-o a aprender português e a se tornar um dos maiores especialistas da atualidade em Fernando Pessoa.

SUASSUNA, ARIANO




ARIANO SUASSUNA

A força do arcaico é justamente sua contínua presentificação e, conseqüentemente, sua capacidade de se eternizar. A arte genuinamente popular se baseia nesse pensamento. Para transformar o local em simbólico e universal, ARIANO SUASSUNA, o decifrador de brasilidades, como já foi chamado, e um dos principais preservadores da cultura do país, alia os valores mais arraigados de sua região a seu imenso arcabouço erudito e teórico. Com uma escrita que junta, a um só tempo, elementos do Simbolismo, do Barroco e da literatura de cordel, esse ficcionista, poeta, dramaturgo e pensador da cultura, transforma o sertão no palco das questões humanas de qualquer lugar do mundo. Ele foi o criador do Movimento Armorial, que tem como projeto a confluência simultânea de todas as artes populares do Nordeste brasileiro, trabalhando a favor da dignidade humana. Romance d’A Pedra do Reino é considerado um dos melhores do país, e a peça O Auto da Compadecida, além de encenada diversas vezes por todo o mundo, já recebeu três adaptações cinematográficas.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA JOSE OLYMPIO


A PEDRA DO REINO


A pedra do reino é apresentado como um romance autobiográfico narrado por Dom Pedro Dinis Ferreira-Quadrena, o auto-proclamado “Rei do Quinto Império e do Quinto Naipe, Profeta da Igreja Católico-Serteneja e pretendente ao trono do Império do Brasil”. Quaderna, obcecado em criar uma versão essencialmente nordestina para o livro Compêndio narrativo do peregrino da América Latina, de Nuno Marques Pereira, se descreve como descendente dos verdadeiros reis brasileiros – que nenhuma relação têm com aqueles “imperadores estrangeirados e falsificados da Casa de Bragança”. Seus antepassados são, na verdade, os legítimos reis castanhos e “cabras” da Pedra do Reino do Sertão, que fundaram a sagrada Coroa do Brasil.

STEINER, GEORGE


GEORGE STEINER

George Steiner, um dos mais sofisticados intelectuais do circuito universitário anglo-saxão do século XX, nascido em Paris, em 1929, mas educado nos Estados Unidos, é um humanista pessimista. Como apreciador e crítico da grande cultura clássica greco-romana, ele se interroga sobre o seu declínio e visivelmente sofre com a espantosa contradição entre a exuberância do pensamento ocidental e o morticínio, especialmente dos judeus, desencadeado neste século pelas forças totalitárias, geradas por essa mesma cultura. Uma das suas maiores inquietações é responder como alguém pode escutar Schubert à tarde e, em seguida, sair para tortura e esfolar alguém à noite? Entremente, Steiner revela-se um amante extremado dos livros e da leitura, um homem angustiado com a soberania da tecnologia e o descenso da humanística.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA RECORD


LIÇÕES DOS MESTRES


Numa época em que as referências se acumulam e mais desorientam do que orientam, alguns raros autores nos servem de bússola. Entre eles, está, hoje, George Steiner. Um dos poucos com uma preocupação de dar um contexto às coisas, de conduzir a conversa ao longo da história, de mostrar de onde se veio e – mais do que para onde se vai – onde se está. Percorrer suas páginas é tomar a mão segura do mestre e se deixar levar. Algo que não existe mais. Aliás, trata disso seu novo livro pela editora Record. Lições dos Mestres explora, justamente, a relação mestre-discípulo – revelando como ela pode ser sofisticada, enriquecedora e plena em sutilezas que se perderam, por exemplo, na era do assédio sexual. Nesse pormenor, apenas para entrar num detalhe, Steiner acredita que nos isolamos na senda do politicamente correto. Reduzir, digamos, o relacionamento de Heidegger e Arendt a uma questão de sexual harassment é limitar demais as possibilidades. Afinal, como disse
Colm Tóibín, qual a graça de ser professor (e de acumular mestrados e doutorados), se não se puder nem mais dormir com os estudantes? A verdade é que o comezinho não tem lugar na prosa de George Steiner. Ele não engrossa o coro populista de elevar, vá lá, a cultura popular à categoria de grande arte – porque, apesar do apelo irresistível, simplesmente o lowbrow nunca vai chegar lá. Por outro lado, Steiner tem uma das linguagens acadêmicas mais límpidas de que se tem notícia e pode-se lê-lo, sem prejuízo da compreensão, no trem, no metrô ou no ônibus. Ele é tão agradável falando dos Pré-Socráticos quanto da ligação entre Virgílio e Dante, quando de Kepler e Tycho Brahe. A sensação, ao percorrer cada capítulo de Lições dos Mestres é que nada mais importa; e a constatação, eterna, de como perdemos tempo com assuntos menores, quando existe um mundo maravilhoso de homens e idéias que o nosso tempo insiste em deixar para trás. A batalha de George Steiner não deve ser solitária, contudo; engrossar suas fileiras é um imperativo não apenas seu mas da civilização.

SENNET, RICHARD








RICHARD SENNET

Nascido num bairro pobre e violento de Chicago, Richard Sennett escapou do destino pouco promissor que aquele ambiente lhe reservava. Uma família de militantes de esquerda e o dom musical o salvaram. Criança ainda, tocava violoncelo em concertos e compunha. A carreira, no entanto, seria interrompida antes dos 20 anos devido a uma lesão muscular. Foi então que começou a nascer o sociólogo e autor de livros elogiados, como "O Declínio do Homem Público".A flexibilidade exigida do trabalhador atual, assunto recorrente na obra de Sennett, pode ser observada na própria biografia do autor. No caso dele, a guinada deveu-se a uma circunstância pessoal; para a maioria, ela decorre das transformações por que passam as empresas.Em que pese sua trajetória de sucesso, Sennett, que, aos 63 anos, mora em Londres e leciona na London School of Economics, é crítico em relação aos efeitos dessa flexibilidade sobre a sociedade e os indivíduos.



LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA RECORD



A CORROSÃO DO CARÁTER (L!)



Dois livros, recém-editados, discutem a idéia de caráter moral. O primeiro, "A Corrosão do Caráter" (Editora Record), de Richard Sennett, de forma explícita; o segundo, "O Que é a Filosofia Antiga" (Editora Loyola), de Pierre Hadot, de modo tangencial, mas com igual sensibilidade crítica. A relevância dos livros para o debate ético entre nós é enorme.Usamos a palavra caráter, na língua corrente, para falar da maneira como a pessoa sente, pensa e age em face dos ideais morais estabelecidos. "Ter caráter", como assinala o dicionário "Aurélio", significa ser alguém "firme, coerente nas atitudes e com domínio de si". Ora, Sennett e Hadot mostram que o caráter moral não é uma manifestação irrefletida de nossos anjos ou demônios interiores. "Ter caráter" é um aprendizado, uma disciplina do espírito que depende do esforço individual, mas também dos meios culturais à disposição dos indivíduos.Na Antiguidade clássica e nos primórdios do cristianismo, diz Hadot, a busca da felicidade implicava sobretudo a luta contra as paixões da alma. O caráter era forjado na ascese pessoal, cujo objetivo era o controle dos prazeres ilusórios, que não eram apenas os prazeres do sexo, da comida ou da bebida, como costumamos pensar, mas, principalmente, os prazeres do poder, do dinheiro, da ostentação, da ira, da vingança ou da vaidade. Estóicos, epicuristas, céticos, cristãos etc. viam na razão e na vontade os meios de anular a cegueira moral das paixões e alcançar a moderação necessária à realização da justiça. A força do caráter era dada pela capacidade de bem governar a si ou aos outros.Na modernidade ocidental, como fez ver Sennett, ocorreu uma radical alteração do "ethos" antigo: o cuidado com o caráter deu lugar à preocupação com a "personalidade". O outro deixou de ser o fiador da fidelidade do sujeito ao bem comum para se tornar o cúmplice ansioso ou "voyeurista" de suas idiossincrasias psicológicas. A privacidade burguesa criou a "tirania da intimidade" e nos levou a crer que a felicidade consiste, quase exclusivamente, em satisfazer as aspirações da vida afetiva. O bem-viver não era mais descrito como realização das virtudes públicas, mas como satisfação sentimental. Em "A Corrosão do Caráter", Sennett dá um passo a mais na análise das metamorfoses da subjetividade. A cultura da intimidade, ao deslocar o centro da identidade pessoal do público para o privado, gerou um fator de instabilidade permanente na consciência de si. Os afetos, em especial os afetos sexuais, se mostraram incapazes de fornecer critérios duradouros para o julgamento ético do que somos ou queremos ser, dada a própria maneira como se constituem. Ou seja, uma das formas que temos de saber "o que é uma emoção privada" é justamente poder reconhecer o fenômeno mental sentido como algo que independe do escrutínio público para ser julgado bom ou mau. A vida emocional íntima, ao contrário da vida pública, é aquela em que podemos exercer, livremente, o direito à experimentação em matéria de estilização de preferências ou inclinações. Essa é a marca original e irrepetível da "personalidade" privada. A liberdade íntima, entretanto, tem um ônus. Decidir, sozinhos, se o que vivemos emocionalmente é bom ou mau pode ser uma tarefa hercúlea. O justo caminho pode se revelar, rapidamente, um descaminho, e a certeza de hoje pode se mostrar, amanhã, auto-engano, obrigando-nos a rever verdades recentes sobre nós mesmos. O efeito cultural da "tirania da intimidade" não foi, portanto, a autonomia em relação ao "outro público", mas a dependência transferida para os técnicos em normalidade psicológica. No entanto, a erosão da confiança em si, provocada pela fé na "sabedoria dos sentimentos", foi contrabalançada pela permanência de outras instâncias formadoras de identidade, entre as quais o trabalho. O valor do trabalho e o apreço pela competência profissional continuaram sendo estímulos para que o sujeito continuasse a se ver como alguém potente para agir com retidão e eficiência. Podíamos ter perdido a atração pela ação política; podíamos estar confusos quanto ao valor moral de muitas experiências emotivas, mas dispúnhamos de critérios razoavelmente claros e partilhados para avaliar a criatividade e a produtividade de cada um, no processo de fabricação de artefatos úteis ao mundo. Atualmente, mesmo esse frágil gancho com o que está "fora de nós" veio abaixo. Com as novas regras da livre concorrência, a insegurança da vida sentimental se estendeu à vida profissional. Qualquer parceria se tornou precária. A presença do outro não mais suscita apelo à colaboração, mas sim desejo de instrumentalização. Tornamo-nos uma multidão anônima, sem rosto, raízes ou futuro comum. E, se tudo é provisório, se tudo foi despojado da dignidade que nos fazia querer agir corretamente, quem ou o que pode apreciar o "caráter moral" de quem quer que seja? Na cultura da "flexibilidade", como reza o jargão neoliberal, ou fingimos acreditar em valores que não mais existem ou acreditamos, verdadeiramente, em miragens - e a alienação é ainda maior. Isolados do público, pela paixão dos interesses privados, e dos mais próximos afetivamente, pela degradação do trabalho e pela volubilidade sentimental, erramos em direção ao nada ou a qualquer coisa. Tanto faz o bem e o mal, o justo e o injusto, quando o que temos como guia é o bem-estar do corpo e das sensações.Resta acreditar que "consumir objetos de desejo" é o mesmo que "satisfazer desejos". Enquanto acreditamos nisso, o show continua: no desfile das drogas, cartões de crédito, pornografia na Internet etc. No momento em que deixamos de acreditar, a "alegria" muda de endereço: passa de nossos corpos para as mãos de quem comanda o espetáculo. Vide a epidemia de violência imotivada e distúrbios físico-mentais que fazem a "festa" dos patrões da indústria de armamentos e de medicamentos. Hadot e Sennett, é óbvio, não nos convidam a ser viúvas de Atenas, Roma ou Londres e Paris de fim de século. Ambos são mais sábios ou sagazes, como se preferir. Dizem, apenas, que o sentido da vida e da morte não se contabiliza. Podemos mudar o vocabulário que deu sentido à palavra "caráter", e por que não? Podemos criar formas inéditas de avaliar o bem e o mal que nos convêm, e por que não? Só duvido que possamos rebaixar nossa imaginação criativa a ponto de reduzi-la à bisonha e miserável rotina de acumular dinheiro, compulsiva e indefinidamente, sem jamais perguntar por quê e para quê?

SEGANFREDO, CARMEM & FRANCHINI, A. S.

CARMEM SEGANFREDO & A. S. FRANCHINI
Carmen Seganfredo nasceu em 1956, é bacharelada em Letras e tradutora. Vive em Porto Alegre
A.S. Franchini nasceu em 1964, é formado em direito e tradutor. Junto com Carmem Seganfredo escreveu os seguintes livros: Os irmãos Pitowkers (Sulina, 1999), As 100 melhores histórias da mitologia (L&PM, 2003), Em mares nunca navegados (Artes e Ofícios, 2003), As melhores histórias da mitologia nórdica (Artes e Ofícios, 2004), e Deuses, heróis & monstros – as asas de Ícaro e outras histórias da mitologia para crianças (L&PM, 2005).

LIVRO ESCOLHIDO – L&PM EDITORES

AS 100 MELHORES HISTÓRIAS DA BÍBLIA (L!)
As histórias da Bíblia são referências culturais no mundo inteiro. A influência do livro sagrado é notória na sociedade atual, tornando necessário o conhecimento de seus episódios e principais personagens. Por ser longo e de difícil leitura, o texto acaba afastando os leitores. E é por isso que a L&PM Editores lança a obra As 100 melhores histórias da Bíblia.Através de uma cuidadosa seleção realizada por Carmen Seganfredo e A.S. Franchini, este livro tornou-se possível, trazendo aos interessados a oportunidade de conhecer melhor os principais acontecimentos que marcaram a história judaico-cristã. Independente de religião ou credo, sua leitura é imprescindível para entender a nossa cultura, tão influenciada pelas histórias aqui contidas.O livro parte da criação do mundo e passa por todos os principais eventos da vida de Jesus Cristo, de seu nascimento à ressurreição. A seleção conta com histórias do Antigo e do Novo Testamento, incluindo A arca de Noé, A torre de Babel e Os dez mandamentos, além de apresentar todos os personagens mais importantes da Bíblia, como Abraão, Davi e Sansão.

SEBALD, W. G.




W. G. SEBALD

“Se o passado preocupasse mais as pessoas, os eventos que tanto nos afligem talvez ocorressem com menos freqüência. Pelo menos, a sós consigo mesmo em seu próprio quarto, não se faz mal a ninguém.”


Naturalidade
Bavária, Alemanha
Formação
Liceu Obersdorf, graduando-se em seguida em literatura alemã pela Universidade de Freiburg.
Outras atividades
Sebald seguiu uma carreira acadêmica concentrada especialmente na Universidade de East Anglia, onde se tornou professor de literatura européia e criou o Centro Britânico para Tradução Literária.
Você sabia?
Sebald não acreditava que os escritores lograssem tratar diretamente de temas como os horrores do Holocausto sem que caíssem nas armadilhas do sensacionalismo ou do sentimentalismo.
Opinião crítica
Aclamado por Susan Sontag como o “mestre contemporâneo da literatura do lamento e da inquietação mental”, sua súbita morte num acidente de automóvel privou o meio literário de uma das suas figuras mais originais. Os Emigrantes, seu primeiro livro traduzido para o inglês e publicado em 1996, recebeu vários prêmios na Alemanha e foi uma das estréias mais elogiadas da década. As traduções de Os Anéis de Saturno (The Rings of Saturn) em 1998 e Vertigem (Vertigo) em 1999 – também pelo poeta Michael Hulse – selaram sua reputação de maneira definitiva. Ao focar a história a partir de um olhar oblíquo em que combinava gêneros literários e dissipava as fronteiras entre fato e ficção e arte e documentário (recorrendo freqüentemente a nomes reais e fotografias), Sebald escreve num estilo que ele mesmo denominou “ficção em prosa”.
Obras recomendadas
Austerlitz, o derradeiro romance de Sebald, é amplamente reconhecido como seu tour-de-force. A história envolve um homem de seus 50 anos que recupera as lembranças de sua chegada à Inglaterra, vindo de Praga, a bordo do Kindertransport. Suas obras anteriores compõem uma trilogia onde se exploram questões como memória, exílio e identidade européia. No rastro de sua estrela literária em alta, mereceram traduções também sua poesia ‘Após a Natureza’ (After Nature) assim como sua obra de não-ficção ‘Sobre a História Natural da Destruição’ (On the Natural History of Destruction), em que aborda o bombardeio das cidades alemãs pelas forças aliadas.
Influências
Sebald tem sido comparado a Borges, Calvino, Thomas Bernhard, Nabokov e Kafka; em suas ficções em prosa, pode-se-lhe creditar a invenção de uma nova forma literária parte romance híbrido, parte memórias, parte narrativa de viagem.
Leia, portanto.
Tente qualquer um dos autores acima mencionados. Sebald era um fervoroso admirador de Elias Canetti, outro autor europeu exilado na Inglaterra.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA RECORD


OS EMIGRANTES


O narrador das histórias do escritor alemão W.G. Sebald, morto em dezembro numa estrada do interior da Inglaterra, é sempre o mesmo: um peregrino em busca do conhecimento. Lastima que só encontre ignorância no fim do caminho. Sebald, gigante da literatura contemporânea, de quem a Record lança Os Emigrantes, morreu justamente quando chegou ao topo. Ia receber o importante prêmio literário National Book Critics Circle por Austerlitz, seu último livro. A rigor, não se pode dizer que Sebald morreu, porque ele empresta seu nome ao narrador de seus livros. Publicado em alemão há dez anos, Os Emigrantes, síntese de sua obra, lida com essa questão da identidade. Conta a saga de quatro pessoas que abandonam o país em que nasceram. São eternos nômades numa terra devastada. O narrador investiga o passado desses emigrantes, o primeiro deles um senhor lituano atormentado pela idéia do êxodo. No segundo capítulo, um professor compreende o que significa não ser ariano após lutar como soldado do exército alemão e descobrir que seu avô era judeu. Você já leu histórias parecidas antes nos livros do austríaco Thomas Bernhard, implacável crítico do anti-semitismo.
Há muitos pontos em comum entre Sebald e Bernhard, mas, como lembrou Susan Sontag, também entre Sebald e Stendhal, outro escritor viajante. Mais um elo com Stendhal é a paixão pela música. Os Emigrantes é um quarteto com uma conclusão trágica: só nos resta o crédito no narrador da história alheia, que ele defende como se fosse a própria.

SCLIAR, MOACYR



MOACYR SCLIAR

Nasceu em Porto Alegre, em 1937. É formado em medicina, profissão que exerce até hoje. Autor de uma vasta obra que abrange conto, romance, literatura juvenil, crônica e ensaio, recebeu numerosos prêmios, como o Jabuti (1988 e 1993), o APCA (1989) e o Casa de las Americas (1989). Já teve textos traduzidos para doze idiomas. Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, a televisão e o teatro. Em 2003, tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS


OS VENDILHÕES DO TEMPLO (L!)


A expulsão dos vendilhões do Templo de Jerusalém - relatada em poucas linhas do Evangelho de São Mateus - é o ponto de partida para uma narrativa original, que se desdobra em três épocas: 33 d.C., 1635 e os nossos tempos.Na primeira parte, ambientada na Jerusalém da época de Cristo, o episódio bíblico é visto pela ótica de um dos vendilhões, camponês arruinado que chegou à cidade em busca de melhores dias e descobriu no comércio do Templo o trampolim para projetos mirabolantes. A trajetória de Cristo é vista indiretamente pelo olhar desse seu obscuro contemporâneo, e a vida cotidiana na Terra Santa é descrita com humor e vivacidade.Na segunda parte da obra, a narrativa dá um salto no tempo e no espaço. Em 1635, Nicolau, um jovem padre, chega a uma pequena missão jesuítica do sul do Brasil e se vê envolvido numa situação angustiante: com a morte súbita do sacerdote que dirigia a missão, torna-se responsável por uma comunidade indígena cujo idioma não fala. Um forasteiro se oferece como intérprete, mas em pouco tempo seu caráter suspeito se manifesta. A terceira parte do livro - a final - se passa nos dias de hoje, na cidade surgida a partir da aldeia jesuítica. A esquerda comemora a conquista da prefeitura. Um assessor de imprensa testemunha essas mudanças ao mesmo tempo em que, com ex-colegas de colégio, relembra a peça teatral encenada pelo grupo na infância, tendo como tema o episódio da expulsão dos vendilhões do Templo. As três histórias se entrelaçam e se iluminam umas às outras, desdobrando de maneira inesperada o núcleo temático do episódio bíblico, com diversas possibilidades cômicas e dramáticas e focalizando suas implicações morais. A exemplo do que fez no premiado A mulher que escreveu a Bíblia, Scliar parte da narrativa bíblica para traçar um painel muito pessoal e bem-humorado dos dilemas de nosso tempo.

SAID, EDWARD W.


EDWARD W. SAID

Edward W. Said nasceu na Palestina, em Jerusalém, a 1 de Novembro de 1935. Com o estabelecimento do estado de Israel, parte com a família para o exílio, passando pelo Egipto e pelo Líbano. Aos 17 anos vai para os Estados Unidos. Licenciou-se em Princeton e obteve o grau de doutor em literatura comparada pela Universidade de Harvard. Os seus primeiros livros são Joseph Conrad and the Fiction of Autobiography (1966) e Beginnings (1975). Desenvolveu a sua actividade docente como professor de literatura comparada na Universidade de Columbia. A partir da Guerra dos Seis Dias, em 1967, empenha-se na defesa da causa palestina nos EUA. Será Membro do Conselho Nacional Palestino a partir de 1977, tendo vindo a abandonar a instituição em 1991. Depois de Orientalism (1978), publica The Question of Palestine (1979), Covering Islam (1981), The World, the Text, and the Critic (1983) e After the Last Sky (1986). No âmbito da musicologia publica Musical Elaborations (1991), e em Culture and Imperialism (1993) amplia o estudo do discurso colonialista. Em 1993 posiciona-se abertamente contra os Acordos de Oslo. No ano seguinte publica The Politics of Dispossession, a que se seguiriam Representations of the Intellectual (1994), Peace and Its Discontents (1995). Só regressaria à Palestina 45 anos depois do exílio. Publicou ainda, entre outros livros, a autobiografia Out of Place (1999), The End of the Peace Process (2000) e Reflections on Exile and Other Essays (2000). Morreu aos 67 anos, em Nova Iorque, a 24 de Setembro de 2003.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA EDIOURO


CULTURA E RESISTÊNCIA (L!)


Um livro instigante, em que o leitor descobre, em tempos e lugares diferentes, os argumentos, a lucidez e a eloqüência de um dos mais notáveis intelectuais públicos do nosso tempo.Em entrevistas a David Barsamian, o renomado intelectual Edward W. Said expôe com paixão e energia suas idéias sobre temas que vão da guerra contra o terrorismo, da invasão do Iraque e do conflito israelo-palestino, à poesia palestina contemporânea.Cultura e resistência retrata a visão mobilizadora de Said por um futuro democrático e secular no Oriente Médio e no mundo.

ROTH, PHILLIP




PHILLIP ROTH

Philip Roth nasceu em Newark, New Jersey, que rapidamente se tornou o cenário para as suas primeiras obras. O seu pai era um vendedor de seguros de origem Autro-Húngara. Mais tarde, em Patrimony (1991), Roth retratou o seu pai de oitenta e seis anos, que sofria de um tumor cerebral.Rother frequentou a Universidade de Rutgers por um ano, tendo sido posteriormente transferido para a Universidade de Bucknell. Estudou na Universidade de Chicago, recebendo o seu diploma em Inglês. Em 1955 alista-se no exército mas foi dispensado depois de uma lesão durante a recruta. Continuou os seus estudos em Chicago e trabalho como professor de Inglês de 1955 a 1957. Desistiu do seu doutoramento em 1959 e começou a escrever crítica cinematográfica para o New Republic. No mesmo ano, lançou Goodby, Columbus, que se lhe mereceu o National Book Award e se tornou, posteriormente, num filme.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS

O ANIMAL AGONIZANTE

O Animal Agonizante, uma novela com pouco mais de cem páginas, publicada em 2001, contrasta com seus romances de 300 ou mais páginas, mas está na medida do Roth desta última fase.
O passado retorna, para Phillip Roth, como um visitante indesejado, um cobrador de dívidas que não podem ser pagas, um ponto de angústia.
Todos os seus personagens estão controlados com uma invejável habilidade. Aqui o talento foi obtido por um trabalho iniciado há mais de 40 anos.

RAGO, MARGARETH




MARGARETH RAGO

Professora livre-docente do Departamento de História do IFCH da Universidade de Campinas, Unicamp . É coordenadora do Grupo de Estudos Foucaultianos e da Linha de Pesquisa História, Cultura e Gênero do Programa de Pós-Graduação em História deste Depto. Foi professora-visitante no Departamento de História do Connecticut College, nos Estados Unidos, pela Comissão Fulbright. Publicou vários livros: O que é Taylorismo? ,Brasiliense,1984; Do Cabaré ao Lar. A utopia da cidade disciplinar, Paz e Terra,1985; Os Prazeres da Noite.Prostituição e Códigos da Sexualidade Feminina em São Paulo, Paz e Terra,1989; Narrar o Passado, Repensar a História, com Renato Aloisio Gimenes ,Unicamp,2000 e Entre a História e a Liberdade. Luce Fabbri e o Anarquismo Contemporâneo, ED.da Unesp, 2001.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA UNESP


ENTRE A HISTÓRIA E A LIBERDADE – LUCIA FABBRI E O ANARQUISMO CONTEMPORÂNEO


Nascida em 25 de julho de 1908, em Roma, e falecida em 19 de agosto de 2000, em Montevidéu, Luce Fabbri agitou a bandeira anarquista ao longo do século em dois continentes. A partir dos depoimentos da própria Luce Fabbri e de seus diversos textos – livros, folhetos, artigos de jornal e revista –, a historiadora Margareth Rago, professora da Universidade Estadual de Campinas e especialista em história do feminismo e do movimento anarquista, relata a vida fascinante dessa mulher que foi educadora do ensino secundário, professora da Universidade da República do Uruguai, escritora e poeta. Crítica feroz do stalinismo, Luce lutou contra o fascismo italiano e as ditaduras latino-americanas. Trata-se de um ponto de vista feminino sobre as experiências que compõem a história do anarquismo entre Itália, França, Suíça e América Latina.

RADITCHKOV, YORDAN




YORDAN RADITCHKOV

O real e o irreal convivem lado a lado em Yordan Raditchkov, sem quaisquer constrangimentos. É uma das muitas virtudes desse admirável escritor, possuídor do dom de um contador de histórias. Os contos têm a universalidade peculiar de toda a literatura fantástica mundial com laços naturais que nos lembram as histórias de Franz Kafka, Jorge Luis Borges, Gabriel Garcia Márquez, Julio Cortazar e, os brasileiros, Murilo Rubião e JoséJ. Veiga entre outros expoentes do realismo mágico universal. O contato com o texto de Raditchkov vai aos poucos levando o leitor, envolvido pela mestria da narrativa, a aceitar como normais situações inverossímeis: um mundo em que os peixes passam a morar em árvores, em que um hieróglifo desafia a inteligência (ou a estupidez?) humana, em que a Palavra se torna personagem ou, ainda, a incrível e mitológica história da migração dos verbludes (você já viu um verblude?), que deixaram a lua e vieram viver em nosso meio em tempos distantes, a tudo convertendo em areia.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA THESAURUS


CONTOS DE TENETZ


Todos os textos do livro parecem realmente histórias contadas por crianças (ou para crianças), por demonstrar uma rica imaginação e pela forma natural com que fluem convivendo com o inusitado. O fantástico, ou mágico, faz parte da realidade e dela não se distancia por um fio sequer. No entanto, de maneira alegórica, atrai a nós, adultos, para investigarmos nosso modo de ver as coisas. Yordan Raditchkov nos encanta com seu humor até quando filosofa, à maneira dos camponeses de sua terra: Quando tudo o mais cai de joelhos, a palavra é que nos socorre. (pág.29).Raditchkov mescla, então, entranhadamente, os instantâneos líricos, saídos das formas de vida e do espaço de sua Bulgária imaginária, à velha arte do contador de histórias, parece sempre fazer questão de afirmar que vem de um vilarejo, mostrando algo de um outrora ainda mais distante. Alguma coisa da atmosfera primitiva e mágica de um passado ancestral e da sabedoria oracular, a latência funda e a analogia estrutural do mito, na alquimia do verbo: (Em verdade lhes digo, a palavra arregaçou as mangas e fez também um moinho de fogo. Os nossos foram fazer farinha nele e todos admitiram que isso era já um verdadeiro milagre. A Palavra. Pág. 29) Mediante visões fugazes, instantes que têm a surpresa poética de uma epifania, se reata de repente a história perdida dos objetos e dos seres. Um leitor atento e minucioso notará ecos ou resquícios da literatura pós-simbolista na prosa modesta e despretensiosa de Yordan Raditchkov.

PUSHKIN, ALEKSANDER




ALEKSANDER PUSHKIN

Aleksander Pushkin é reconhecido como pai da literatura russa. Acadêmicos sempre comparam o impacto que ele teve na literatura nacional ao que Shakespeare teve na literatura inglesa. Entretanto, a significância de Pushkin para a literatura russa é muito maior. Antes, a literatura russa limitava-se a contos e algumas poesias e dramas, reproduzindo a forma ocidental. Pushkin mudou isso. Numa carreira construída nos vinte anos, Pushkin estabeleceu uma linguagem literária moderna à Rússia. Criou poemas e contos, libertou a literatura russa das convenções impostas pelas demais línguas européias, em especial, à francesa criando, assim, uma literatura unicamente russa em forma e conteúdo.
Nascido em 1799, Pushkin teve uma vida aristocrática e, em muitas de suas obras, apresenta-nos um caráter revolucionário. Mesmo com uma vida curta, Pushkin incomodou muitos governantes com seus pensamentos nada ortodoxos que provocaram sua ida para o exílio, onde teve a oportunidade de conhecer o sul da Rússia, fato que lhe proporcionou o encontro com um estilo romântico próprio, mesclando a solidão e a amargura do herói europeu com o gosto por uma vida simples.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA NOVA ALEXANDRIA


CONTOS DE BELKIN


Este livro reúne cinco contos que sintetizam a qualidade da prosa deste grande escritor, considerado o fundador da moderna literatura russa. Para narrar “O tiro”, “A nevasca”, “O agente funerário”, “O chefe de estação” e “A sinhazinha camponesa”, Pushkin cria um autor fictício, revelando cenas curiosas da vida na Rússia tzarista com sua prosa enxuta e irreverente que delicia o leitor com desfechos inesperados. Poeta, romancista, contista e dramaturgo Aleksander Serguéievitch Pushkin recebeu influência de autores como Byron, Shakespeare e Voltaire e, posteriormente, serviu de modelo para mestres como Dostoiévski e Gogol. Dono de um talento sem igual para recriar argúcia a essência da personalidade humana, deixou como legado uma extensa obra, que deve ser respeitada como sinônimo de grande literatura para leitores de qualquer época.

PUIG, MANUEL




MANUEL PUIG

Em plena ditadura militar, com problemas com a censura, Puig era ameaçado de morte pela Aliança Anticomunista por conta de seu homossexualismo e do modo irônico como retratava a sociedade argentina em sua obra. Em 1976, mudou-se para o México onde viveu até 1981, quando foi morar no Rio. Em 1989, retornou ao México, onde um ano depois morreu após cirurgia por conta de problemas vesiculares. Hoje Puig passa por processo de reavaliação no meio acadêmico e começa a ser visto como autor de uma obra muito além dos romances kitsch.

LIVRO ESCOLHIDO


BOQUITAS PINTADAS

PIRANDELLO, LUIGI


LUIGI PIRANDELLO

O italiano Luigi Pirandello (1867-1936) é um dos escritores mais representativos da literatura moderna. Além da fama alcançada como dramaturgo - Seis personagens à procura de um autor, Esta noite se representa de improviso e Cada um a seu modo - também ficou conhecido pelos seus romances e contos. Dentre os mais importantes figuram O falecido Mattia Pascal (romance) e Novelas para um ano (contos).
Mais conhecido como dramaturgo (Seis personagens à procura de um autor) e romancista (O falecido Mattia Pascal), Luigi Pirandello (1867-1936), Prêmio Nobel de 1934, manteve nos contos as mesmas indagações sobre o absurdo da vida.

LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA COSAC & NAIFY

UM, NENHUM E CEM MIL

Ao descobrir, por intermédio da esposa, que seu nariz pende para a direita, Vitangelo Moscarda, anti-herói deste livro, entrega-se por inteiro à especulação metafísica sobre sua própria identidade - quem será este homem que mal conhece suas feições? Como a vêem as pessoas mais próximas? o que restará dele uma vez subtraída sua imagem pública? A partir destas indagações, Vitangelo envolve-se numa série de situações tão angustiantes quanto burlescas, que põem em polvorosa a pequena cidade de Richieri.

PINTO, TÃO GOMES




TÃO GOMES PINTO

Editor e fundador da revista Veja e do Jornal da Tarde. Foi articulista e repórter da Folha de S. Paulo e de O Estado de S. Paulo, diretor de Redação da revista IstoÉ e editor das revistas Manchete e Imprensa. Foi ainda secretário de Comunicação Social do Governo do Estado de S. Paulo e assessor de Comunicação Social do Ministério da Indústria e Comércio.


LIVRO ESCOLHIDO - GERAÇÃO EDITORIAL


O ELEFANTE É UM ANIMAL POLÍTICO


Ao longo de mais de 40 anos de atividade como jornalista, Tão Gomes Pinto reuniu 20 das centenas de crônicas que publicou entre 1974 e 2004, tratando de assuntos tão diversos e distantes como a política sexual e as intrigas dos políticos.Na resenha do livro, publicada em Carta capital 398, José Onofre escreve: "Tão, cumpridas todas as etapas de sua carreira, não parece se alimentar do fel da decepção. A ironia e o ceticismo o protegem da credibilidade, principal razão da amargura de jornalistas, ...O Brasil vive um momento difícil e esse momento não se deve ao PIB, às CPIs e outras siglas tão em voga. Deve-se a seus mandantes, à perenidade da alienação dos que decidem. É bom ver essa cegueira através de um autor que mostra isso com pouca esperança, mas sem rancor."

PELBART, PETER PÁL



PETER PÁL PELBART

É doutor em filosofia e professor na PUC-SP. É tradutor e estudioso da obra de Gilles Deleuze (traduziu para o português "Conversações", "Crítica e Clínica" e parte de "Mil Platôs"). Escreveu sobre a concepção de tempo em Deleuze ("O Tempo Não-reconciliado", Perspectiva, 1998), sobre a relação entre filosofia e loucura ("Da Clausura do Fora ao Fora da Clausura: Loucura e Desrazão", Brasiliense, 1989, e "A Nau do Tempo-rei", Imago, 1993) e publicou, mais recentemente, "A Vertigem por um Fio: Políticas da Subjetividade Contemporânea", Iluminuras, 2000.


LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA ILUMINURAS

VIDA CAPITAL: ENSAIOS DE BIOPOLÍTICA


Variações sobre a questão da vida no contexto contemporâneo. Como o capital ´penetra´ a vida de todo mundo, desde o corpo até a subjetividade? De que modo aparece, no auge dessa captura, uma força vital inusitada? Que tradução política essa ´biopotência´ estaria em vias de conquistar para si? Ao percorrer domínios os mais diversos, da filosofia ao teatro, da política á loucura, o pensamento é deslocado de suas certezas, e pode reencontrar sua vocação maior: no extremo do perigo, sondar as forças que pedem outras composições

OZ, AMÓS




AMÓS OZ

Nascido em Jerusalém em 1939, Amos Oz, fundador do Movimento Peace Now, é o mais conceituado dos romancistas israelitas contemporâneos, estando a sua obra traduzida em praticamente todo o mundo. Em 1992, recebeu o Prémio da Paz da Feira do Livro de Frankfurte, em 2004, o Prémio Internacional Catalunya, atribuído pelo governo autónomo catalão.A história tempestuosa da sua terra natal reflecte-se na escrita de Amos Oz. Na sua prosa, tanto na ficção como na não-ficção, existe um traço comum: a examinação da natureza humana, o reconhecimento da sua fragilidade e a glória na diversidade. Oz faz um apelo constante para o fim da ambivalência, para o diálogo e para a canalização das paixões em direcção à fé no futuro. Com uma economia de palavras, apresenta o povo de Israel, as suas atribulações políticas e a sua paisagem biblíca

LIVRO ESCOLHIDO – EDIT. COMPANHIA DAS LETRAS

DE AMOR E TREVAS

De amor e trevas foi lançado com estrondoso sucesso em Israel. Mesclando a história vista pelos olhos de um menino dotado de grande imaginação, criado em um meio de intelectuais de renome, como o futuro prêmio Nobel de Literatura Shai Agnon, a cenas domésticas e urbanas de tocante lirismo, Oz reconstrói minuciosamente um universo no qual a erudição era menos considerada que a força bruta, mais urgente para a árdua tarefa de construir uma nação. As brincadeiras do menino sempre envolvem os grandes conflitos da história. Escondido, ele gosta de recriá-las mudando o final sempre que este fora adverso para o povo judeu. Mas, contraditoriamente, o autor reafirma a tradição pacifista e conciliadora que consolidou ao longo de toda a sua vida adulta, ao não dar grande importância a sua própria participação como combatente na guerra dos Seis Dias, de 1967, ou na do Yom Kippur, de 1973. Como em toda obra de Oz, o mais importante na vida é viver, não morrer – nem matar.
LIVRO ESCOLHIDO - EDIT. COMPANHIA DAS LETRAS

RIMAS DA VIDA E DA MORTE ( L! )

Em seu último livro, "Rimas da Vida e da Morte", a prática de inventar histórias para as pessoas é o próprio enredo. Mas qual romance não exercita isso? Todos. Mas, aqui é diferente. Oz cria um personagem, escritor desiludido, embora bem-sucedido, que brinca de inventar histórias sobre o público que vai assisti-lo na leitura de um de seus romances.Resultado: uma metainvenção. Um personagem inventado que inventa personagens. Embarcamos, assim, numa invenção dupla, até chegar um momento em que o próprio protagonista começa a perder sua legitimidade narrativa e desconfiamos de que ele também seja uma invenção de algum outro narrador. Geralmente, quando lemos um livro, fazemos como Coleridge ( poeta, crítico e ensaista inglês; Inglaterra, 21/10/1772 - 25/07/1834) aconselhou: praticamos a suspensão da descrença ("suspension of disbelief") e acreditamos em tudo, por absurdo que seja, em nome do fluxo narrativo. Esse é um dos maiores prazeres da literatura: acreditar.Mas a metalinguagem cria uma certa desconfiança e um nó no leitor. Afinal, no que podemos confiar aqui? A melhor resposta, sem dúvida, é: em tudo. Porque tudo, em literatura e provavelmente também fora dela, é invenção. Quando percebemos, estamos torcendo pelo desenrolar das ações dos personagens inventados, sabendo que sua vida não passa de especulação da cabeça do escritor. InvençõesUma descrição de um personagem falso, que, de início, parece estereotipada ("ali está uma mulher corpulenta, que já abandonou há anos todas as dietas e esforços para emagrecer, já desistiu da forma física e decidiu galgar esferas mais elevadas") vai, aos poucos, tornando-se afetuosa, e o autor desencantado também vai se enamorando de suas invenções ("Debaixo de seu discurso inflamado, brota sempre, sem nenhuma exceção, uma espécie de borrifo de alegria que emana das profundezas, uma corrente do Golfo de cordialidade e de exultante bondade").E todas essas invenções são espelhadas, entremeadas com rimas ingênuas de um autor também imaginário (mas agora a imaginação é muito mais verdadeira do que todo o resto), autor de um livro chamado: "Rimas da Vida e da Morte". "Tem o sábio sem juízo / e tem o tolo muito sério / tem o pranto após o riso / mas quem sabe o próprio mistério?"Para os pragmáticos que pensam que sabem alguma coisa sobre seu mistério e que se satisfazem com opiniões prontas sobre as coisas e as pessoas, ou seja, para os muito seguros de si (meio caminho para o fanatismo), um bom remédio é rimar a vida com a morte, a mentira com a verdade e perceber que o "caminho certo" é a ponte mais óbvia para o erro.

(Noemi Jaffe - Folha de São Paulo 200908)

NASIO, JUAN-DAVID

JUAN-DAVID NASIO

J.D. Nasio naît en
1942 en Argentine. Il quitte l'Amérique du Sud en 1969 ; il s'établit en France et se met à travailler avec Jacques Lacan. Il devient professeur à l'université de Paris VII.
Il participe au séminaire que Lacan donne à l'
École freudienne de Paris et ouvre le sien en 1978, traduit les écrits de Lacan en espagnol.
En
1986, il fonde les Séminaires psychanalytiques de Paris.
En
1999, il est promu chevalier de la légion d'honneur.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA JORGE ZAHAR

ÉDIPO – O COMPLEXO DO QUAL NENHUMA CRIANÇA ESCAPA

O que é o complexo de Édipo? A partir de sua vasta experiência como palestrante e clínico, J.-D. Nasio analisa separadamente o desenvolvimento do conceito mais crucial da psicanálise no menino e na menina. Sempre claro e objetivo em suas exposições, avalia a presença do Édipo na raiz das neuroses ordinárias e mórbidas do homem e da mulher, e sintetiza os principais tópicos relativos ao tema – como a castração, a figura do Falo e o papel exercido pelo pai nesse processo. Ao longo do livro, seções curtas com esquemas e quadros comparativos. E ainda: um apanhado de citações-chave de Freud e Lacan sobre o Édipo.
LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA JORGE ZAHAR
A DOR DE AMAR

MURAKAMI, HARUKI


HARUKI MURAKAMI


Um dos mais populares escritores japoneses, Haruki Murakami nasceu em Kyoto em 1949. Cresceu em Kobe, cidade portuária que lhe rendeu uma visão de mundo cosmopolita, um dos pilares de sua obra. Seus dias de universidade foram caóticos e intensos, incluindo uma participação ativa nos protestos contra a guerra do Vietnã. Formou-se em dramaturgia clássica no Departamento de Literatura da Universidade de Waseda. Pouco depois, montou um bar em Kokubunji, Tóquio (1974 a 1981), sobre o qual diria mais tarde: “Tudo que preciso saber na vida aprendi no meu bar de jazz.” Nesse período, publicou seus dois primeiros livros: Hear the Wind Sings (1979) e Pinball 1973 (1980).
Depois viriam Caçando carneiros (1982), publicado no Brasil pela Estação Liberdade em 2001; Hard-boiled Wonderland and the End of the World (1985), que lhe rendeu o prestigioso Prêmio Tanizaki; Norwegian wodd (1987), com mais de 20 milhões de cópias vendidas em um ano, e, em seguida, Dance Dance Dance (1988), entre outras obras. Seus livros de ficção mais recentes são After the quake (2000) e Kafka on the shore (2002).
Em 1996, Murakami recebeu o Prêmio Literário Yomiuri, prêmio já concedido a importantes nomes da literatura japonesa, como Kenzaburo Oe, Kobo Abe e Yukio Mishima.
Suas maiores influências literárias são Raymond Chandler, Kurt Vonnegut e Richard Brautigan. Paralelamente à atividade de escritor, traduziu para o japonês autores como F. Scott Fitzgerald, John Irving, Tim O´Brien, Truman Capote e Paul Theroux.
Após morar alguns anos na Europa e nos Estados Unidos, Murakami voltou ao Japão e atualmente vive nas proximidades de Tóquio.

LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA ESTAÇÃO LIBERDADE

DANCE, DANCE, DANCE

Inserindo-se no contexto muito em voga do “pense globalmente, escreva localmente”, em Dance Dance Dance Haruki Murakami segue a trajetória do protagonista de Caçando carneiros, agora à procura de um antigo amor que sumira misteriosamente do hotel miserável em que viviam, o Hotel do Golfinho. Na busca por Kiki, o personagem-narrador, um escritor free-lance de revistas, perde-se cada vez mais num universo de realismo fantástico, "kafkiano", envolvendo-se com uma garota clarividente, um astro de cinema extravagante, um poeta maneta, garotas de programa e outros personagens do gênero.Ambientado em Tóquio, o romance aborda temas como a solidão, o amor e a efemeridade da vida e retrata uma sociedade em constante transformação, altamente consumista e regida por valores como fama, dinheiro e poder. Ao som de músicas dos anos 60, 70 e 80, o narrador e seus amigos vivem num mundo de carros importados e Dunkin Donut’s, e acabam se envolvendo em um caso de assassinato. Um das características da obra de Murakami é justamente a utilização de referenciais da música, do cinema, das artes e do entretenimento para expressar sua visão das sociedades capitalistas altamente desenvolvidas, como a japonesa e a americana, da cultura de massa e do comportamento maniqueísta gerado por este sistema.O autor se utiliza de recursos lingüísticos e estilísticos, faz um jogo textual (a escrita japonesa possui quatro sistemas diferentes de grafia – o ideograma, o fonograma hiragana, o Katakana e o alfabeto romano – e Murakami alterna esses sistemas no decorrer do texto) para expressar onomatopéias e palavras estrangeiras, citando, em um jogo cheio de ironia, desde inúmeras referências a marcas famosas de vestuário e grandes cadeias alimentícias globalizadas até o zodíaco e a astrologia orientais, tudo para demonstrar a que ponto chega a dependência, a massificação e a objetificação do sujeito moderno, realçando ao mesmo tempo as mudanças que ocorrem na sociedade japonesa. Há também o recurso ao subtexto, frases destacadas em estilos de fonte diferentes ao longo dos capítulos que, se lidas seqüencialmente, formam um roteiro do livro, causando-nos uma estranha sensação de déjà vu, na medida em que este parece antecipar os acontecimentos, demonstrando que o narrador de uma forma ou outra já sabe, ou pelo menos intui, o rumo dos acontecimentos. E nós, com ele.

LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA OBJETIVA

NORWEGIAN WOOD

Ambientado em meio à turbulência política da virada dos anos 1960 para os anos 1970, Norwegian Wood, como a canção dos Beatles que lhe empresta o título, é uma balada de amor e nostalgia cuja rara beleza confirma Murakami como uma das vozes mais talentosas da ficção contemporânea.
Publicado originalmente em 1987 e inédito no Brasil, Norwegian Wood foi o livro que alçou o japonês Haruki Murakami da condição de autor cult à de ícone cultural. Com mais de quatro milhões de cópias vendidas no Japão, é um romance de formação com toques autobiográficos, ambientado na Tóquio do final da década de 1960, que narra a iniciação amorosa do jovem estudante de teatro Toru Watanabe. Comparado a O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, por sua influência em toda uma geração de jovens leitores, o livro capta com maestria e lirismo a angústia e o desamparo da transição da adolescência à idade adulta.
Em 1968, Toru Watanabe acaba de chegar a Tóquio para estudar teatro na universidade, e mora em um alojamento estudantil só para homens. Solitário, dedica seu tempo a identificar e refletir sobre as peculiaridades dos colegas. Um dia, Toru reencontra um rosto de seu passado: Naoko, antiga namorada de seu grande amigo de adolescência Kizuki antes deste cometer suicídio. Marcados por essa tragédia em comum, os dois se aproximam e constroem uma relação delicada onde a fragilidade psicológica de Naoko se torna cada vez mais visível até culminar com sua internação em um sanatório.
Tem início então um período de grande dilema para o jovem Toru: uma encruzilhada entre o compasso de espera pela recuperação de Naoko e os encantos de uma outra vida, mais vibrante, personificada pela exuberante e liberada Midori mas também por sua relação com uma mulher mais velha, Reiko.

MOLNAR, FERENC











FERENC MOLNAR


Ferenc Molnár (Budapeste, 12 de janeiro de 1878Nova Iorque, 1 de abril de 1952) foi um escritor húngaro. Emigrou para os Estados Unidos para escapar da perseguição dos nazistas aos judeus húngaros. Autor do conhecido livro Os Meninos da Rua Paulo, de 1906.
Ferenc Molnár
Ferenc Neumann nasceu na Hungria, em 1878, em uma família judia de classe média. Conforme as leis do Império Austro-Húngaro, que pretendiam aclimatar a população judaica na sociedade, teve seu sobrenome traduzido para o magiar, o idioma húngaro. Assim, Neumann transformou-se em Molnár, "moleiro". Aos vinte anos já publicava contos e romances, e teve diversas peças de teatro encenadas em toda a Europa. Entre suas principais obras estão a peça Lilion (1909), adaptada para o cinema por Fritz Lang em 1933, e Os meninos da rua Paulo, levado às telas três vezes: em 1929, num filme mudo de Béla Balogh; em 1969, com Essa rua é nossa, de Zóltan Fábri; e em 2003, num filme para a TV italiana de Maurizio Zaccaro. A ascensão do nazismo obrigou Molnár a se exilar nos Estados Unidos, em 1939. Morreu em Nova York, em 1952, sem ter voltado à Europa.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COSAC-NAIFY

OS MENINOS DA RUA PAULO

Quase cem anos depois da primeira edição, em 1907, a história dos meninos que travam batalhas de vida ou morte na Budapeste do final do século XIX ainda fascina leitores das mais diversas culturas e gerações. Este clássico da literatura juvenil já teve mais de um milhão de leitores e oitenta reimpressões só no Brasil, projetou mundialmente o nome de Ferenc Molnár (1878-1952) e foi adaptado para o cinema três vezes. Está para nascer uma geração que não se identifique com o espírito de amizade e união presente no livro.Depois da aula, os garotos da Sociedade do Betume se reúnem em seu sagrado grund, um terreno baldio da rua Paulo, para "jogar péla, brincar de clube, fingir de exército, arremedar eleições, sentirem-se importantes, viver num mundo que fosse só deles", como diz em seu prefácio o extraordinário tradutor deste livro, o intelectual húngaro radicado no Brasil Paulo Rónai (1907-92). Eis que uma outra turma, a dos camisas-vermelhas, se vê sem um espaço para jogar péla (uma versão primitiva do tênis) e decide declarar guerra à Sociedade do Betume para tomar-lhe o grund. Do líder Boka ao soldado raso Nemecsek, os meninos se organizam para uma batalha épica. O que está em jogo, ressalta Rónai, não são uns poucos metros quadrados de terreno baldio, mas "um reino para a aventura, a evasão, a liberdade".