RULFO, JUAN

JUAN RULFO

«Vim a Comala porque me disseram que vivia aqui o meu pai, um tal Pedro Páramo. Foi a minha mãe quem mo disse. E eu prometi-lhe que viria vê-lo quando ela morresse. Apertei-lhe as mãos como sinal de que o faria pois ela estava à beira da morte e eu disposto a prometer-lhe tudo. «Não deixes de ir visitá-lo» - recomendou-me. Chama-se assim e assado. Tenho a certeza de que gostará de conhecer-te.» Na altura nada mais pude fazer para além de lhe dizer que sim, que o faria, e de tanto lho dizer, continuei a dizê-lo mesmo depois do trabalho que as minhas mãos tiveram para se afastarem das suas mãos mortas.»
(In Pedro Páramo)

Juan Nepomuceno Carlos Pérez Rulfo Vizcuíno, o escritor mexicano conhecido como Juan Rulfo (16 de Maio de 1917- 7 de Janeiro de 1986), nasceu em Apulco, pequena localidade do estado de Jalisco. Descendente de uma família de proprietários rurais arruinada pela guerra, o pai e dois tios morreram durante a Guerra de Cristero, a mãe quando ele tinha 10 anos. A tragédia marcava o homem e o escritor, e o tema da morte haveria de estar presente em todos as suas histórias. Em Los muertos no tienen ni tiempo ni espacio, diálogo com Juan Rulfo o escritor fala desses anos «Tive uma infância muito dura, muito difícil. Uma família que se desintegrou muito facilmente num lugar que foi totalmente destruído. Desde o meu pai e minha mãe, inclusive todos os irmãos de meu pai foram assassinados. Vivi, portanto, numa zona devastada. Não apenas de devassidão humana, mas devassidão geográfica. Nunca encontrei até à data uma lógica que explique tudo isto. Não se pode atribuir à Revolução. Foi mais uma coisa atávica, uma coisa de destino, uma coisa ilógica.(...)».
Juan Rulfo vive num orfanato, em Guadalajara, entre 1928 a 1932, seguindo-se o seminário, ainda que por curto período de tempo. Parte depois para a Cidade do México, com o propósito de estudar direito, não termina os estudos mas começa a escrever trabalhos literários. A par de um emprego de agente da imigração, colabora com a revista América e em 1944 funda a revista literária Pan. O livro de contos A planície em Chamas (1953) e o romance Pedro Páramo (1955) são suficientes para apontar ao panorama literário sul-americano, e não só, um novo rumo.
Juan Rulfo impõem-se como o principal percursor do Realismo-Mágico, movimento literário que integra nomes tão sonantes como Gabriel García Márquez, Jorge Luís Borges e Julio Cortázar, seguidores e admiradores de Rulfo.Abandona cedo a escrita de romances e contos, mas continua presente na cena artística mexicana. Em parceria com Garcia Márquez e Carlos Fuentes escreve roteiros televisivos; roteiros de cinema reunidos no livro O Galo de Ouro e outros Textos para Cinema; e faz trabalhos fotográficos, com a mesma força, dimensão e emoção da escrita.Membro da Academia de Letras Mexicanas, vencedor do Prémio Príncipe das Astúrias e Prémio Cervantes, desde 1962 até à sua morte que Juan Rulfo ocupou o cargo de director do Departamento de Publicações do Instituto Nacional Indígena do México. Juan Rulfo é também, e justamente, o nome de um prestigiado prémio literário.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA RECORD

PEDRO PÁRAMO E CHÃO EM CHAMAS ( L! )

A pedido da mãe moribunda, o narrador parte para Comala à procura do pai, Pedro Páramo. O pai morreu e todos os habitantes da aldeia. Também são fantasmas que lastimam as suas vidas antigas e falam de quem foi Pedro Páramo. O homem cruel, o senhor das terras, o pai de bastardos que desiste de tudo o que conseguiu, quando a única mulher que amou morre louca.