CANFORA, LUCIANO

LUCIANO CANFORA
Luciano Canfora nasceu em Bari (Itália) em 1942. É professor de filologia clássica na Universidade de Bari, onde dirige o Departamento de Ciências da Antigüidade. Suas pesquisas, principalmente sobre Demóstenes e Tucídides, renovaram aspectos fundamentais das letras gregas. Publicou numerosas obras, constando entre as mais recentes Togliatti e i dilemmi della politica (1989), A biblioteca desaparecida: histórias da biblioteca de Alexandria (Cia. das Letras, 1989), Tucidide e l’Impero (1991), Le vie del classicismo 1 (1991), Vita di Lucrezio (1993), Storia della letteratura greca (1994), Il destino dei testi (1995), Ellenismo (1995), Teorie e tecnica della storiografia classica (1996), Le vie del classicismo 2. Classicismo e libertà (1997), Il mistero Tucidide (1999). Também é diretor da revista Quaderni di Storia.

LIVRO ESCOLHIDO - ESTAÇÃO LIBERDADE
CRÍTICA DA RETÓRICA DEMOCRÁTICA (L!)
Em breves capítulos de grande contundência, Luciano Canfora revira e desconstrói o mito de nossa famosa democracia, seja ela em sua vertente clássica, popular, parlamentar, ocidental, proletária, ou o que mais ainda se inventou para (des)caracterizá-la. Canfora atinge com estocadas certeiras um valor considerado perene, e o que sobra tem trejeitos de uma grande fraude. O discurso da democracia e sua bem azeitada retórica são usados pelos donos do poder para justificar que uma minoria de turno sempre acaba comandando as maiorias. Canfora demonstra como essa aristocratização da democracia e seu corolário de desmandos ocorrem em todos os tempos e todos os lugares [...]. Interessante vermos como sempre se falou em nome da democracia, como sempre se cooptou classe política, imprensa e eleitorado, e hoje, nesse mundo uníssono em que os deserdados parecem não ter mais defensores, a convergência “democrática” rumo ao “centro”, que existiu desde finais do século XVIII, parece ruir, e pela primeira vez em muito tempo novos discursos não mais necessariamente se submetem a consensos que tanto duraram. Que a retórica da democracia não seja mais valor universal gera restrições cada vez mais perigosas para sua prática — se é que um dia ela foi efetiva. Os novos extremismos aflorando a torto e a direito (radicalismos de direita e xenofobias, o novo unilateralismo imperial norte-americano, ou ainda os fundamentalismos das grandes religiões), as renovadas intervenções dos Estados Unidos para exportar democracia e liberdade à moda da casa — talvez a mais obtusa operação de manipulação retórica que se tem visto — nos lembram que retórica e prática andam cada vez mais distantes. Persistindo as ilusões, Canfora faz com que as percamos, ao clamar que o que se entende por democracia hoje não é operacional, que os mercados referendam tudo, e que o próprio exercício da democracia se restringe a escolher entre opções predeterminadas e passadas pelo crivo de aparelhamentos que zelam por coibir eventuais excessos... democráticos.

DEBORD, GUY

GUY DEBORD


Guy Debord nasceu em 28 de dezembro de 1931 em Paris e faleceu em 30 de novembro de 1994. Foi um dos pensadores da Internacional Situacionista e da Letrismo Internacional e seus textos foram a base das manifestações do Maio de 68.A Sociedade do Espetáculo é o trabalho mais conhecido de Guy Debord. Em termos gerais, as teorias de Debord atribuem a debilidade espiritual, tanto das esferas públicas quando da privada, a forças econômicas que dominaram a Europa após a modernização decorrente do final da segunda grande guerra.
Ele rejeita, como duas faces da mesma problemática, o
capitalismo de mercado do ocidente quanto o capitalismo de estado do bloco socialista. Segundo Debord, o sentimento de alienação pode ser atribuído a forças do “espetáculo”, que podem ser traduzidas como a natureza sedutora do capitalismo. Em sua análise, Debord desenvolve as noções de “reificação” e “fetichismo das mercadorias”, introduzidas por Karl Marx em sua obra “O Capital”, comprovando as raízes históricas, econômicas e psicológicas da “mídia”.
O ponto central de suas teorias é que a alienação é mais do que uma descrição de emoções ou um aspecto psicológico individual. É a conseqüência da forma mercantil de organização social que atinge o seu clímax no atual capitalismo. É uma constituição moderna da
luta de classes, desta forma, o espetáculo é uma forma mercantil de dominação burguesa sobre o proletariado, as duas classes revolucionárias.
Debord mostra algumas estratégias que buscam resistir à alienação através da supressão ou derivação da realidade espetacular, destruindo os valores burgueses.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA CONTRAPONTO


A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO (L!)

Girando em torno do conceito de espetáculo e "separação", o autor o define e redefine. O primeiro capítulo: A Separação Acabada, composto de 34 teses, é a mastigação, a trituração paciente de um conceito, um repisar incessante na busca de definições e perspectivas que a noção de espetáculo vai assumindo em seu discurso. Mas, a medida em que avançamos, mais claras se tornam suas teses.
De alta densidade teórica, o texto torna-se árido, impermeável, até mesmo incompreensível ao leitor não-instrumentado. O autor não facilita: seu texto é extremamente conceitual, por vezes hermético. É um texto filosófico sem qualquer dúvida e de clara inspiração marxista. E assim é pelo fato da International Situacionista ser um movimento de reflexão artística e politica na chave do socialismo. Pode-se dizer que Guy Debord tenta dar um passo a mais no caminho reflexivo de Marx no Capital. O espetáculo é o desdobramento, o segundo passo, a consequência última do superdesenvolvimento do capital. « O espetáculo é o capital em um tal grau de acumulação que ele se torna imagem. » (Tese 34).
Ao acreditarmos que o conceito de espetáculo nessa obra está na ordem do senso comum, entendido enquanto apresentação artística, como em espetáculo teatral, circense etc., descobrimos que ele é muito mais abstrato e complexo. E nada tem a ver com esse sentido dicionarizado.
Um erro muito comum é tomar o título "Sociedade do Espetáculo" como tese: vivemos numa sociedade onde tudo é espetáculo, espetacular, escandaloso, onde tudo é manchete, tudo é primeira página. Debord parece ir muito além disso. Enquanto conceito, espetáculo vai além e em outra direção dessa primeira leitura. É muito mais abrangente, muito mais fundamental, muito mais causa do que efeito, muito mais entranhado na vida social, em suas condições modernas de produção do que se sõe no primeiro momento. Nesse sentido, escreve Debord na tese 14:
« A sociedade que se baseia sobre a indústria moderna não é fortuitamente ou superficialmente espetacular, ela é fundamentalmente espetaculista. »

Começando o capítulo com a citação de

Feuerbach - Prefácio à segunda edição de A Essência do Cristianismo, Debord anuncia sua crítica, a negatividade de seu pensamento:
« E sem dúvida nosso tempo... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... é a ilusão que é sagrada para ele, a verdade é profana. Melhor, o sagrado se engrandece aos seus olhos na medida em que decresce a verdade e cresce a ilusão, de modo que o cúmulo da
ilusão é também para ele o cúmulo do sagrado. »
Debord então insinua aqui o que vem a ser o espetáculo: a ilusão mais real que a verdade, o simulacro da vida social, sua inversão nas relações sociais que se dão na sociedade moderna capitalista através das imagens. Nesse sentido, a tese 9 acima posta faz sentido. A verdade como momento do falso, num mundo invertido, simulado porém real. E continua:
« Considerado em seus próprios termos, o espetáculo é a afirmação da aparência e de toda vida humana, quero dizer, social, como simples aparência. » (Tese 10)
E ele localiza esse movimento como o segundo passo que a sociedade moderna deu no processo capitalista, um passo que radicalizou suas consequências: do ser ao ter, e do ter ao parecer; e na medida em parecer tornou-se ser.
« A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social ocasionou na definição de toda e qualquer realização humana uma evidente degradação do ser em ter. A presente fase da ocupação total da vida social pelos resultados acumulados da economia conduz a um deslizamento generalizado do ter em parecer (...). » (Tese 17)
Perceptivelmente, Debord repousa a gênese do espetáculo nas novas formas de produção advindas pelo capitalismo industrial e do desenvolvimento dos mecanismos da publicidade e dos meios de comunicação suportantes e suportados pela indústria agindo por ele na criação de uma vida social mediatizada por imagens. Como Marx, Debord localiza a divisão do trabalho como a
« Com a separação generalizada do trabalhador e de seu produto, se perdem todo ponto de vista unitário sobre a atividade cumprida, toda comunicação pessoal direta entre os produtores. Seguindo o progresso da acumulação dos produtos separados e da concetração do
processo produtivo, a unidade e a comunicação tornam-se atributo exclusivo da direção do sistema. O sucesso do sistema econômico da separação é a proletarização do mundo. » (Tese 26)
A raiz do espetáculo está na divisão do trabalho que é o isolamento dos trabalhadores, fazendo apenas sua tarefa na fabricação da mercadoria, seu apertar de parafuso. Assim a produção torna-se abstração para o trabalhador, apenas a direção do sistema é que contempla o todo. O mundo então perde sua unidade, a abstração atravessa toda a sociedade, isolando o indivíduo no interior de seu automóvel, frente à sua televisão. O espetáculo vem reunir esses isolados, preencher os espaços entre os átomos, mas sem reedificar o todo perdido. O espetáculo é o próprio todo no mundo do isolado. Assim a separação está acabada.

FAORO, RAYMUNDO

RAYMUNDO FAORO

Advogado, jurista e escritor brasileiro nascido em Vacaria, Rio Grande do Sul, considerado um dos grandes pensadores do Brasil, autor de análises imprescindíveis ao entendimento da sociedade, da política e do Estado brasileiro. Filho de agricultores, passou boa parte da infância e da juventude na cidade de Caçador, Santa Catarina (1930-1945), para onde se mudou com a família e onde fez o curso secundário, no Colégio Aurora.
De volta ao Rio Grande do Sul, como estudante universitário foi co-fundador da revista Quixote (1947) e escreveu para diversos jornais do Rio Grande do Sul. Formou-se em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1948) e três anos depois (1951) seguiu para o Rio de Janeiro. Admitido por concurso como Procurador do Estado, na função destacou-se como um dos mais importantes juristas do Brasil, especialmente reconhecido e bastante respeitado pela sua contribuição às Ciências Sociais.
Publicou um livro considerado um clássico: Os Donos do Poder (1958), pela Editora Globo, de Porto Alegre, onde analisou a formação do patronato político e o patrimonialismo do Estado brasileiro, levando em consideração as características da colonização portuguesa. Escreveu outros livros em que discutiu temas como a política brasileira, ensaios jurídicos, além de um estudo sobre as obras e os personagens do escritor Machado de Assis. Também atuou como articulista em diversos jornais e foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB (1977-1979). Na política diretamente lutou pela redemocratização do País, defendeu o fim dos Atos Institucionais do regime militar e participou ativamente no governo João Figueiredo, na campanha pela anistia ampla, geral e irrestrita.
Este carioca voluntário e emérito, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (2000) no lugar do jornalista Barbosa Lima Sobrinho. Recebeu o Prêmio José Veríssimo da Academia Brasileira de Letras (1959); o Prêmio Moinho Santista de Ciências Sociais (1978) e a Medalha Teixeira de Freitas, do Instituto dos Advogados do Brasil.
Faleceu vítima de enfisema pulmonar, aos 78 anos, no Rio de Janeiro, velado na ABL e enterrado no Cemitério São João Batista. Conhecido como O Embaixador da Cidadania,.teve outras publicações importantes como o ensaio Machado de Assis - A Pirâmide e o Trapézio (1975), A Assembléia Nacional Constituinte - A Legitimidade Recuperada (1980) e Existe um Pensamento Político Brasileiro? (1994).

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA GLOBO

OS DONOS DO PODER (L!)

Ensaio fundamental, acadêmico, para a compreensão da formação social e política brasileira. Partindo das origens portuguesas de nosso patronato político, o autor demonstra como o Brasil foi governado, desde a colônia, por uma comunidade burocrática que acabou por frustrar o desenvolvimento de uma nação independente. Sua análise abarca o longo período que vai da Revolução Portuguesa do século XIV até a Revolução de 1930 no Brasil.