NASSAR, RADUAM

RADUAM NASSAR


Raduan Nassar nasceu em Pindorama, São Paulo, a 27 de novembro de 1937. Seu nascimento se deu pelas mãos da parteira Rosa Conca de esquina da rua 15 de Novembro com a rua 1º de Maio, onde vivia a família Nassar.
Iniciou seus estudos primários no Grupo Escolar de Pindorama, em 1943, onde recitava poesias nas datas comemorativas. No ano seguinte, 1944, Raduan entra em uma fase de grande fervor religioso, e se tornaria, dois anos depois, coroinha.
Em 1947, inicia o curso ginasial do Colégio Estadual de Catanduva, na cidade de mesmo nome e começa a trabalhar com o pai. Dois anos depois, a família de Raduan muda-se para Catanduva a fim de tornar mais fácil o acesso das crianças da casa aos estudos. Em 1950, durante uma aula da quarta série ginasial, Raduan é acometido de uma convulsão ? a primeira de uma série de sete que se ocorreriam por mais dois dias seguidos. Diante de um diagnóstico irresponsável e alarmista, seus pais decidem transportá-lo para São Paulo, onde Raduan será tratado por um neurologista.
É a partir dessa data que o adolescente expansivo e de memória excelente passa a ser quieto e introvertido. Raduan abandonaria os estudos neste ano para só retomá-los no ano seguinte, 1951.
No mesmo ano é que o escritor começa a ler clássicos da literatura brasileira. Sua irmã Rosa, licenciada em Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, passa a ser a professora da escola em que Raduan estuda e também a prestar consideráveis progressos no aprendizado de língua portuguesa do irmão, em casa.
Em 1953, com o pai dos Nassar tendo em vista uma maior comodidade para que os filhos continuem os estudos, a família Nassar muda-se para o bairro de Pinheiros, em São Paulo, mais exatamente na rua Teodoro Sampaio, número 2173, local onde o pai de Raduan abre um armarinho, o Bazar 13. O Bazar 13 do pai dos Nassar se tornaria, anos mais tarde, uma empresa de expressão comercial em São Paulo.
Em 1955, Raduan ingressa na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e no curso de Letras Clássicas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Abandona, no segundo semestre do mesmo ano, o curso de Letras e conhece, no curso noturno de Direito, Hamilton Trevisan que acabaria apresentando-o a Modesto Carone, de quem Raduan se tornaria grande amigo.
O três amigos têm todos pretensões literárias e muitas de suas conversas são a respeito de literatura. Em 1957, Raduan ingressaria no curso de Filosofia da USP. Era o sexto dos irmãos Nassar a freqüentar a mesma faculdade, à época funcionando no antigo prédio situado à rua Maria Antonia, no centro de São Paulo.
Em 1959, decidido a se dedicar integralmente à literatura, Raduan abandona o curso de Direito no último ano e passa a freqüentar apenas o curso de estética na Faculdade de Filosofia. No ano seguinte, morre seu pai, João Nassar, então paralítico, depois de convalescer durante oito anos de grave doença. Cristão ortodoxo e agricultor num Líbano sob domínio otomano, o pai de Raduan foi o responsável pela primeira formação política dos filhos, pois estes cresceram ouvindo os relatos sobre aquela presença colonial.
Em 1961, deixa os negócios da família e viaja para o Canadá a fim de encontrar-se com duas tias, irmãs de seu pai, que moravam em Matane. Depois, segue para os Estados Unidos como imigrante, onde permanece por apenas dois meses. É também em 1961 que escreve o conto Menina a Caminho.
Volta ao Brasil no ano seguinte e retoma o curso de Filosofia na USP e o conclui um ano depois, em 1963. Em 1964, Raduan viaja para Alemanha com o intuito de estudar alemão. Fica sabendo do golpe militar de 31 de março através das cartas que recebe dos amigos. Comunica então ao Departamento de Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP sua decisão de não assumir a assistência da cadeira de Psicologia Educacional no campus de São José do Rio Preto daquela instituição. Decide também abandonar o curso de alemão e viajar para o Líbano, onde conhece a aldeia em que seus pais viveram, retornando, em seguida, ao Brasil.
De volta ao Brasil, Raduan passa a ser criador de coelhos na chácara Taipi, em Cotia, São Paulo. Seu sócio no empreendimento, Ernst Weber se dedicaria com ele ao jornalismo, alguns anos mais tarde. Em 1967, abandona a carreira de criador de coelhos e funda, ao lado dos irmãos, o Jornal do Bairro, no qual conta com a participação de seu amigos, sobretudo, de José Carlos Abbate, que assume as funções de redator-chefe da publicação, onde Ernst Weber se iniciou no jornalismo. Apesar de ser um jornal regional, o semanário se dedicava uma boa parte do seu conteúdo jornalístico à cobertura de fatos da política nacional e internacional.
Em 1970, Raduan Nassar escreve a primeira versão da novela Um Copo de Cólera, e os contos O Ventre Seco e Hoje de Madrugada. Dois anos depois, participa junto com seus familiares de uma leitura do Novo Testamento. As leituras duram quase que o ano todo. Ao mesmo tempo, ele retoma as leituras do Velho Testamento e do Alcorão (esta iniciada em 1968). Todo esse estudo religioso irá, mais tarde, se refletir de modo acentuado em Lavoura Arcaica.
Conhece sua futura companheira, a professora Heidrun Brückner, do Departamento de Línguas Germânicas da USP, em 1973, e, no ano seguinte, deixa o Jornal do Bairro por discordar de algumas mudanças editoriais. Nessa época, o semanário tinha uma tiragem de 160 mil exemplares.
Começa a trabalhar exclusivamente no livro Lavoura Arcaica, chegando a trabalhar mais de 10 horas por dia no texto. Depois de terminado o romance, Raja, irmão de Raduan, oferece uma cópia dos originais ao professor de psicologia Dante Moreira Leite, o qual encaminha os originais à Livraria José Olympio Editora, no Rio de Janeiro, que, em 1975, publica o livro com um ajuda financeira feita pelo próprio Raduan.
Em 1976, o livro ganha o prêmio Coelho Neto para romance, da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Jabuti e a Menção Honrosa da Associação Paulista de Críticos de Arte. Dois anos depois, a Livraria Cultura Editora publica Um Copo de Cólera, pela Alfaguara, de Madri.
Em 1982, a mesma Alfaguara lança a edição espanhola de Lavoura Arcaica, e, em 1984, a Editora Gallimard, da França, lança Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera. Nesse mesmo ano, 1984, Raduan compra a fazenda Lagoa do Sino, em Buri, sudeste do Estado de São Paulo e passa a se dedicar integralmente à produção rural, deixando claro, em entrevista concedida ao caderno Folhetim do jornal Folha de São Paulo, que abadonara a literatura. No mesmo número o Folhetim traria publicado o conto O Ventre Seco.
Raduan ainda teria seus livros e contos publicados em alemão, pela editora Suhrkamp, na década de 80 e o relançamento dos mesmos seria feito pela Companhia das Letras aqui no Brasil. Em 1994, o livro Menina a Caminho sai numa edição não-comercial em comemoração aos 500 títulos da Companhia das Letras.
Em 2000, Raduan não quis receber, das mãos de FHC, a Ordem do Mérito Cultural, condecoração sempre entregue com muita pompa para dezenas de intelectuais. Adota essa posição por ser um contundente crítico da política cultural do governo e também da política agrícola.


LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS

UM COPO DE CÓLERA

"... e estava assim na janela, quando ela veio por trás e se enroscou de novo em mim, passando desenvolta a corda dos braços pelo meu pescoço, mas eu com jeito, usando de leve os cotovelos, amassando um pouco seus firmes seios, acabei dividindo com ela a prisão a que estava sujeito, e, lado a lado, entrelaçados, os dois passamos, aos poucos, a trançar os passos, e foi assim que fomos diretamente pro chuveiro.""O corpo antes da roupa", afirma o personagem de Um copo de cólera ao narrar o que acontece numa manhã qualquer, depois de uma noite de amor, quando a aparente harmonia entre ele e sua parceira se rompe de repente. Tensa, contundente, a linguagem de Um copo de cólera alcança tal intensidade e vibração que faz desta narrativa uma obra singular da literatura brasileira, um clássico dos nossos tempos.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS

LAVOURA ARCAICA

 
Lavoura Arcaica é um texto em que se entrelaçam o novelesco e o lírico, por meio de um narrador em primeira pessoa –André – o filho encarregado de revelar o avesso de sua própria imagem e, conseqüentemente, o avesso da imagem da família. É sobretudo uma aventura com a linguagem: além de fundar a narrativa, a linguagem é também o instrumento que, com seu rigor, desorganiza um outro rigor, o das verdades pensadas como irremovíveis. Lançado em dezembro de 1975, foi imediatamente considerado um clássico, “uma revelação, dessas que marcam a história da nossa prosa narrativa”, segundo o professor e crítico Alfredo Bosi.

MELVILLE, HERMAN

HERMAN MELVILLE

Herman Melville, filho de Allan e Maria Gansevoort Melville, nasce a 1 de Agosto de 1819, em Nova Iorque. Após o colapso do negócio de importação da família, em 1830, e a morte do seu pai, passados dois anos, Melville interrompe os estudos. Em 1837, quando se torna professor de instrução primária perto de Pittsfield, Massachusetts, já havia trabalhado num banco, na quinta de um tio e no negócio do irmão. Embarcará, dois anos mais tarde, como marinheiro na Marinha Mercante, numa viagem que o levará até Liverpool. Em 1840, regressado aos EUA, vagabundeia por vários empregos, para embarcar, no ano seguinte, no baleeiro Acushnet, numa viagem que durará quatro anos. Em Outubro de 1844 desembarca em Boston, após múltiplas peripécias no mar e em terras distantes. Junta-se à família, começando a escrever as suas “aventuras”. Os seus dois primeiros livros, Typee (1846) e Omoo (1847) transformam-no num autor célebre e, apesar de Mardi (1849) ser um insucesso, é bem sucedido com Redburn, publicado no mesmo ano. A White-Jacket (1850) sucede-se Moby Dick (1851) e Pierre; or the Ambiguities (1852), novos fracassos editoriais. Em 1853 começa a escrever para revistas (a sua situação financeira nunca fora famosa) com Bartleby The Scrivener: A Story Of Wall Street, editado na publicação Putnam’s Monthly Magazine.A Israel Potter (1855) segue-se uma viagem à Europa e à Terra Santa. As passagens mais poderosas deste diário de viagem encontram-se em harmonia com o seu último romance, The Confidence-Man (1857). Em 1866, com Battle-Pieces and Aspects of the War, Melville inicia uma longa série de poesia, abandonando virtualmente a prosa. Nesse mesmo ano, consegue trabalho na alfândega de Nova Iorque. Nos anos seguintes escreve Clarel: A Poem and Pilgrimage in the Holy Land (1876), John Marr and Other Sailors (1888) e Timolean and Other Poems (1891). Nos finais de Setembro de 1891, morre, esquecido, em Nova Iorque. Só em 1924 será publicado Billy Budd, Sailor, obra que Melville terá deixado incompleta.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COSAC NAIFY

BARTLEBY, O ESCRITURÁRIO

Para ler a nova edição de "Bartleby, o Escrivão" - uma história de Wall Street, o leitor começa pelo desafio de ter de cortar, uma a uma, as vinte páginas não refiladas do livro. Só assim poderá libertar, aos poucos, este personagem enigmático da ficção moderna que, no dizer de Gilles Deleuze, desafia toda a psicologia e a lógica da razão. A sua famosa fórmula de resistência às ordens do advogado-patrão - Acho melhor não - e, mais tarde, de recusa ao próprio trabalho de escrivão e copista para o qual foi contratado, desperta uma sucessão tragicômica de acontecimentos. A cada resposta evasiva de Bartleby abre-se a fresta para a entrada do insólito nas atitudes e sentimentos despertados no dono do escritório, nos colegas de trabalho e até mesmo nas vizinhanças de Wall Street.

PROUST, MARCEL

MARCEL PROUST

Marcel Proust nasceu em Auteuil, subúrbio de Paris, em 1871. De saúde frágil, teve uma infância cheia de cuidados. Durante a adolescência, viveu nos Champs-Élysées, em Paris, onde o ar saudável lhe ajudava a diminuir os efeitos da asma. Em 1891, ingressou na Faculdade de Direito da Sorbonne; preparou-se para seguir a carreira diplomática, da qual desistiu para dedicar-se à literatura. Seus primeiros escritos datam de 1892, quando, com alguns amigos, fundou a revista Le Banquet. A seguir, passou a colaborar em La Revue Blanche, freqüentando ao mesmo tempo os salões aristocráticos parisienses, cujos costumes forneceram material para sua obra literária, iniciada com Os Prazeres e os Dias (1896). A morte da mãe, em 1905, fez dele herdeiro de uma fortuna razoável. Com a saúde cada vez mais debilitada, Proust acaba isolando-se dos meios sociais para dedicar-se exclusivamente à criação de Em Busca do Tempo Perdido, publicado entre 1913 e 1927, em oito volumes: No Caminho de Swann, À Sombra das Raparigas em Flor, O Caminho de Guermantes (1 e 2), Sodoma e Gomorra, A Prisioneira, A Fugitiva e O Tempo Redescoberto. Seu romance é tido por consenso como um dos maiores não apenas do século passado, mas de toda a história da literatura. Proust morreu em Paris, em 1922.

OBRA ESCOLHIDA - EDITORA GLOBO (1961)

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO ( L! )
Quando Marcel Proust morreu, em novembro de 1922, ele já havia inscrito há alguns meses a palavra "fim" abaixo de seu manuscrito de Em Busca do Tempo Perdido. Os três últimos volumes do romance - que soma ao todo sete - ainda por publicar, pedem retoques; embora A Prisioneira estivesse praticamente acabada, nós continuamos a ignorar onde deveria terminar Albertina Desaparecida e iniciar O Tempo Redescoberto, que só será publicado em 1927. Mas, já em 1909 Proust havia construído a estrutura de seu edifício: a qualquer momento em que a morte o surpreendesse, Em Busca teria oferecido a chave ao leitor.
Tudo começou em 1908, quando ele esboça um ensaio apresentado sob a forma narrativa e dirigido contra a crítica literária como a concebia Sainte-Beuve (1). Proust passa então, aos olhos de seus contemporâneos, por um espírito cultivado, refinado, até um pouco esnobe; ele é conhecido por ter publicado uma encantadora crônica, Os Prazeres e os Dias (1896), alguns artigos e traduções do crítico de arte e sociólogo britânico John Ruskin, mas não se sabe que ele tem guardado em suas gavetas, por não ter encontrado um desfecho, um longo romance (2) cujo herói chama-se Jean Santeuil.
Por volta do verão de 1909, o Conde de Sainte-Beuve metamorfoseia-se em romance. Imaginando que seu herói, convidado para passar uma manhã na casa da princesa de Guermantes, ele tem a revelação do tempo em suas duas espécies (tempo interior, graças a uma série de reminiscências, e tempo exterior, graças aos rostos envelhecidos dos convidados da princesa), Proust transforma em desfecho romanesco a conclusão de seu ensaio; mas este já estava carregado de cenas e personagens imaginários, a ponto de não se perceber mais o fio do discurso crítico. Em suma, o projeto, ao invés de se perder, ampliou-se.
Fascinado com a forma de se vestir de Madame Swann e com a cultura de seu marido (No Caminho de Swann), incomodado com as maneiras vulgares de jovens ciclistas em férias à beira-mar (À Sombra das Raparigas em Flor), ávido por convites para os salões onde são trocadas futilidades (No Caminho de Guermantes), torturado por amores que não valem a pena (A Prisioneira e Albertina Desaparecida), o herói de Em Busca - que se confunde muito mais com Proust do que o narrador que diz "eu" - traz em si uma obra-prima. Seguindo o método de Sainte-Beuve, quem suspeitaria?
A salvação através da arte
Sua admiração pelas pinturas de Elstir, ou pela música de Vinteuil, não parecem pesar muito diante dessa preguiça que aflige sua avó. Mas, essa "preguiça" é antes de tudo um temor reverencial diante da obra à qual ele se destina.
O herói do romance reflete seu criador: embora tenha sido um jovem apressado e ávido por sucesso, Proust teria a todo custo finalizado seu Jean Sauteuil e, em 1908, ter-se-ia prestado menos atenção, nos salões do Faubourg Saint-Germain em Paris ou no dique de Cabourg na Normandia, a seus ares "preciosos" do que a seu talento e seu sucesso literários. Em resumo, sua reputação de frivolidade era o inverso de uma alta exigência. Ela valeu-lhe, em 1912, a famosa recusa pela editora da Nova Revista Francesa (NRF) do primeiro volume de Em Busca, No Caminho de Swann: folheando o manuscrito, o escritor André Gide entreviu nele, como se esperava, histórias de duquesas e, vítima da "síndrome de Sainte-Beuve", expôs -se ao que chamou mais tarde de o maior remorso de sua vida, a ter passado ao largo do sentido de uma obra em gestação.
Do momento em que foi concebido o desfecho de Em Busca até a sua morte, ou seja durante treze anos (1909-1922), Proust multiplicou retratos e peripécias, reorientou ou amplificou algumas intrigas, inflou suas frases com comparações a fim de ligar o individual ao geral. Depois de acreditar, no início, que seu romance não ultrapassaria as mil páginas, ele acabou escrevendo mais de três mil. Até mesmo essa proporção faz sentido. Quando o caminho percorrido pelo herói encontra finalmente o tempo (que lhe permite reunificar seu eu) ele evoca com efeito o caminho de Perceval na conquista do Graal. Ora, se a natureza do Graal, tanto quanto a da obra do herói de Em Busca continua nos sendo mal conhecida, os esforços e o tempo que eles custaram dão-nos pelo menos uma idéia.
Como nos romances de cavalaria, alguns dos protagonistas que Proust coloca em cena param no meio do caminho. Swann, por exemplo, teria preferido enriquecer sua vida com belezas prontas, ao invés de uma beleza que ele próprio criasse. Ele pertence à categoria dos estetas, na qual seus contemporâneos classificavam Proust, enquanto este escrevia contra eles.
Em Balbec, que provavelmente evoca Cabourg, o herói de Em Busca aprende que as velas de regata, ou os vestidos das moças não atrapalham, aos olhos de um pintor impressionista, o espetáculo do mar eterno. O mundo exterior só possui o interesse de permitir uma alquimia do eu. Ao lhe restituir toda uma parcela de sua infância graças à memória involuntária, o sabor de uma pequena madeleine tem a mesma importância para o autor que o caso Dreyfus (3), ou os bombardeios aéreos de Paris.
Já em O Lírio no Vale, de Balzac, os ombros de Madame de Mortsauf possuíam mais importância do que os Cem Dias (4) e, em a Educação Sentimental, de Flaubert, a venda dos móveis de Madame Arnoux ofuscava, aos olhos de Frédéric, o golpe de Estado de Luiz Napoleão Bonaparte em 2 de dezembro de 1851. Já que o mundo se refrata numa consciência, o romance oferece sempre precedência ao frívolo em detrimento do essencial.
Mas, enquanto para os dois mestres do romance do século XIX a paixão amorosa causava essa inversão de valores, para Proust o amor era apenas uma doença. Seu herói deve senti-lo para refinar sua sensibilidade, mas apenas a obra de arte justifica que se reabilite o que se acreditava inicialmente insignificante. Essa desmistificação do amor é a base da subjetividade total de Em Busca. Que Swann ou o herói não cheguem a saber se Odette ou Albertine os traem faz parte de uma análise tradicional do ciúme; a modernidade de Proust vem do fato de que a questão, para ele, está fadada a permanecer em suspenso.
Como em um quadro impressionista, Em Busca tremula de incertezas. Proust contribui em suma para uma revolução literária comparável à que ocorre em seu tempo na pintura, e que realizarão de maneira mais radical os pintores não figurativos. Provando que o interesse de um livro reside menos na realidade que reflete do que na visão singular que expressa, ele inaugura o que Nathalie Sarraute - uma das líderes do Novo Romance (5) - chamará de a "era da suspeita", onde a suspeita é muito menos a de personagens romanescos e invejosos do que a do leitor, convidado a decifrar os arcanos de um estilo.

Pierre-Louis Rey
(Universitário )

1. Teoria determinista que consiste em explicar uma obra literária a partir do contexto histórico e social no qual está inscrito seu autor.
2. Manuscrito de mil páginas, que Proust nunca organizou e cujos pedaços foram publicados de acordo com a ordem cronológica da vida do herói.
3. Caso político-judiciário que abalou a França de 1894 a 1906.
4. Episódio do efemerísssimo retorno ao poder do imperador Napoleão Iº em 1815.
5. Expressão surgida nos anos 50 para designar o conjunto de escritores que colocam em questão a existência formal do romance, lançando-se na aventura do significante, a da escrita que se confronta a ela mesma.

GUIMARÃES ROSA, JOÃO

JOÃO GUIMARÃES ROSA

Grande renovador da prosa de ficção, João Guimarães Rosa marcou profundamente a literatura brasileira. Nascido na cidade de Cordisburgo (MG), formou-se em Medicina na cidade de Belo Horizonte (1930). Após clinicar algum tempo nos confins do Estado mineiro, onde aprendeu os segredos e as falas do sertão que marcariam sua obra, entrou para a carreira diplomática (1934), indo servir em Hamburgo, Baden-Baden, Lisboa, Bogotá e Paris. Dividido entre a literatura e a carreira diplomática, fez longas viagens pelo interior de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia, anotando os maneirismos de fala de jagunços, vaqueiros, prostitutas e beatas colhidos em conversas. Assim revolucionou a prosa brasileira e foi aclamado pelo público e pelos críticos ao escrever seu primeiro livro de contos: Sagarana (1946). Combinando o erudito com o arcaico e com as expressões populares, transformou a semântica, subverteu a sintaxe e apresentou ao leitor quase um novo idioma para contar as histórias da gente do sertão. Mais tarde publicou Corpo de Baile (1956), um conjunto de sete novelas, e o livro mais polêmico da literatura brasileira do século XX – Grande Sertão: Veredas (1956). Na construção da personagem principal (Riobaldo), fundiu o cotidiano com o requintado, o regional com o erudito, o folclore com a cultura livresca, o real com o fantástico e superou o regionalimo ao compor, numa narrativa épica/mítica, a própria condição humana. Ainda vieram Primeiras Histórias (1962), reunindo 21 contos curtos, e Tutaméia (1967), conjunto de 40 contos. Faleceu no Rio de Janeiro, três dias depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras. Posse esta que sempre adiara, temendo a emoção de vestir o fardão da Academia.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA NOVA FRONTEIRA

GRANDE SERTÃO VEREDAS (L!)

Grande Sertão : veredas é uma narrativa em primeira pessoa e quem tem a palavra é Riobaldo, que conversa com um suposto interlocutor. Ex-jagunço, chefe de bando, andarilho do sertão como cangaceiro, ele relata suas aventuras e desventuras ao mesmo tempo em que se questiona a respeito da existência de Deus e do diabo.Riobaldo ao querer se vingar da morte do amigo Joca Ramiro, chefe dos jagunços, assassinado à traição por Hermógenes, ex-companheiro de bando, ele faz um pacto com o diabo para destruir o traidor.Riobaldo torna-se líder do bando vingativo; até que os dois bandos se encontram e entram em confronto. Reginaldo, amigo de Riobaldo e por quem ele sente uma estranha atração que o perturba, entra em combate com Hermógenes e ambos morrem.Nesse momento Riobaldo descobre que Reginaldo é na verdade Diadorim, filha de seu amigo Joca Ramiro, que até então viveu disfarçada de homem. Amargurado, Riobaldo abandona a vida de jagunço e vai viver como um pacato fazendeiro. Confuso e decepcionado com a descoberta de que Reginaldo é na verdade Diadorim, seu grande amor ele desiste das aventura em bando e se recolhe para fazer algumas reflexões sobre a existência. Confuso pela dúvida da existência ou não do diabo e a possibilidade de fazer um pacto com ele, Riobaldo passa a querer entender o sentido e os mistérios da vida. Os fatos narrados por Riobaldo no romance não seguem uma ordem cronlógica, obedecem sim as lembranças que mais marcaram a sua vida. O suposto interlocutor nunca toma a plavra, por isso a narrativa se assemelha a uma reflexão em voz alta, ou seja, como se ele falasse sozinho, querendo em sua solidão entender os mistérios da existência e principalmente compreender o que induz as pessoas a cometerem as más ações. Riobaldo reve-la-se uma personagem diferente à medidade que tem a necessidade de ir além das aprências, e que faz questão de saber mais para entender o mistério da ações humanas.
EXCERTOS
1) Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...O sertão está em toda parte. (pg 24)
2) Quem muito se evita, se convive, (pg. 24)
3) Viver é negócio muito perigoso... (pg. 26)
4) O diabo na rua, no meio do redemunho... (pg.27)
5) Tudo é e não é... Quase todo mais grave criminoso feroz, sempre é muito bommarido, bom filho, bom pai, e é bom amigo-de-seus-amigosl Sei desses. Só quetem os depois - e Deus, junto. Vi muitas nuvens. (pg. 27)
6) O senhor não duvide - tem gente, neste aborrecido mundo, que matam só para ver alguém fazer careta... eh, pois, empós, o resto o senhor prove: vem o pão,vem a mão, vem o são, vem o cão. (pg. 28)
7) ... passarinho que se debruça - o vôo já está pronto! (pg. 29)
8) Quase que a gente não abria a boca; mas era um delem que me tirava para ele -o irremediável extenso da vida. (pg. 45)
9) Tem coisa e cousa, e o ó de raposa... (pg. 47)
10) Mas ciúme é mais custoso de se sopitar do que o amor. Coração de gente - o escuro, escuros. (pg.52)
11) Falar com o estranho assim, que bem ouve e logo longe se vai embora, é um segundo proveito: faz do jeito que eu falasse mais mesmo comigo. (pg. 55)
12) ...toda saudade é uma espécie de velhice. (jtg. 57)
13) O amor, já de si, é algum arrependimento. (pg. 58)
14) Ah, se eu pudesse mesmo gostar dele — os gostares... (pg. 66)
15) Confiança - o senhor sabe - não se tira das coisas feitas ou perfeitas; eía rodeia é o quente da pessoa, (pg. 72)
16) "Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho..." (pg. 74)
17) Eu sei: nojo é invenção, do “Que-Não-Há”, para estorvar que se tenha dó. (pg.75)
18) Deus existe mesmo quando não há. Mas o demónio não precisa de existir para haver - a gente sabendo que eíe não existe, aí é que eíe toma conta de tudo. (pg.
76)
19) Nem para se definir calado, em si, um assunto contrário absurdo não concede seguimento, (pg. 77)
20) Digo: o real não está na saída nem na chegada: eíe se dispõe para a gente é no meio da travessia. (pg. 80)
21)... me senti pior de sorte que uma pulga entre dois dedos. (pg. 82)
22) Cavalo que ama o dono, até respira do mesmo jeito. (pg. 89)
23) O senhor deve de ficar prevenido: esse povo diverte por demais com a baboseira,dum traque de jumento formam tufão de ventania. Por gosto de rebuliço. Querem-porque-querem inventar maravilhas glorionhas, depois eíes mesmos acabam temendo e crendo. Parece que todo mundo carece disso. Eu acho, que.(pg. 90)
24) Um homem consegue intrujar de tudo; só de ser inteligente e valente é que muito não pode. (pg. 92)
25) Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto. As pessoas, e as coisas, não são de verdade! E de que é que, a miúde, a gente adverte incertas saudades? Será que, nós todos, as nossas almas já vendemos? Bobeia, minha. E como é que havia de ser possível? Hem?! (pg. 100)
26) Sujeito muito lógico, o senhor sabe: cega qualquer nó. (pg. 108)
27) Vingar, digo ao senhor, é lamber, frio, o que outro cozinhou quente demais. O demónio diz mil. Esse! Vige mas não rege... (pg. 110)
28) O mal ou o bem, estão é em quem faz; não é no efeito que dão. (pg. 113)
29)Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. (pg. 115)
30) O que induz a gente para más ações estranhas, è que a gente está pertinho doque é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe! (pg. 116)
31) Aquele encontro nosso se deu sem o razoável comum, sobrefalseado, como do que só em jornal e livro é que se lê. Mesmo o que estou contando, depois é que eu pude reunir relembrado e verdadeiramente entendido - porque, enquanto coisa asssim se ata, a gente sente mais é o que o corpo a próprio é: coração bem batendo. Do que o que: o real roda e põe diante. - “Essas são as horas da gente. As outras, de todo tempo, são as horas de todos" — me explicou o compadre meu Quelemém. Que fosse como sendo o trivial do viver feito uma água, dentro dela se esteja, e que tudo ajunta e amortece — só rara vez se consegue subir com a cabeça fora dela, feito um milagre: peixinho pediu. Por que? Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; Brota é depois. (pg. 155)
32) A gente vive, eu acho, é mesmo para se desiludir e desmisturar. A semvergonhice reina, tão leve e leve pertencidamente, que por primeiro não se crê no sincero sem maldade. (pg. 162)
33)... que a assoprada na vaidade é a alegria que dá chama mais depressa e mais a ar. (pg. 163)
34) Os afetos. Doçura do olhar dele me transformou para os olhos de velhice da minfia mãe. (pg. 164)
35) O senhor sabe: preto, quando é dos que encaram de frente, é a gente que existe que sabe ser mais agradecida. (pg. 165)
36) O saber de uns, a morte de outros. (pg. 166)
37) Sozinho sou, sendo, de sozinho careço, sempre nas estreitas horas - isso procuro. (pg. 169)\
38) Artes que morte e amor têm paragens demarcadas. No escuro. (pg. 174)
39) ...amigo, para mim, não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber,...amigo, para mimf é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, doigual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto,quase; e os todos sacrifícios, (pg. 196)
40) Mas a natureza da gente é muito segundas-e-sábados. Tem dia e tem noite,vesáveis, em amizade de amor. (pg. 196)
41)Naquele dia eu tardava, no meio de sozinha travessia. (pg. 200)
42) Mas eu fui sempre um fugidor. Ao que fugi até da precisão de fuga. (pg. 200)
43) Medo de errar é que é a minha paciência. (pg. 201)
44) Um ainda não é um: quando ainda faz parte com todos. (pg. 201)
45) Acho que o espírito da gente é cavaío que escolhe estrada: quando ruma para tristeza e morte, via não vendo o que é bonito e bom. (pg. 202)
46)...só aos poucos é que o escuro é claro. (pg. 207)
47)Medo, não, mas perdi a vontade de ter coragem. (pg.215)
48) A morte é corisco que sempre já veio. Ânsias, ao em que bola me vinha goela arriba, do arrocho grosso, imposto, que às vezes em lágrimas nos olhos se transforma. A bobagem.... (pg. 231)
49) Como é eu que posso com este mundo. A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado... (pg.237)
50) Deus a gente respeita, do demônio se esconjura e aparta...Quem é que pode ir divulgar o corisco de raio do borro da chuva, no grosso das nuvens altas? (pg. 237)
51)...que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é. (pg. 253)
52) Se não, o senhor me diga: preto é preto? Branco é branco? Ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade? (pg. 262)
53) Quem vai em caça, perde o que não acha... (pg. 293)
54)A gente estava desagasalhados na alegria, feito meninos. (pg. 299)
55) Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera. (pg. 302)
56) Tem trechos em que a vida amolece a gente, tanto, que até um referver de mau desejo, no meio da quebreira, serve como beneficio. (pg. 303)
57) Um homem de tão alta bondade tinha mesmo de correr perigo de morte, mais cedo mais tarde, vivendo no meio de gente tão ruim... (pg. 314)
58) Atravessaram por nós, sem a gente perceber, como a noite atravessa o dia, da manhã à tarde, seu pretume dela escondido no brancor do dia, se presume, (pg. 318)
59A vida é vez de injustiças assim, quando o demo leva o estandarte.(pg. 319)
60) Sofrimento passado é glória. É sal em cinza. (pg. 319)
61) Semeei minha presença dele, o que da vida é bom eu delo entendia. (pg. 319)
62) Para ódio e amor que dói , amanhã não é consoto. (pg. 320)
63) Mas liberdade - aposto- ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, nodentro do f erro de grandes prisões. 'Tem uma verdade que se carece de aprender,do encoberto, e que ninguém não ensina: o beco para a liberdade se fazer. Souum homem ignorante. Mas, me diga o senhor, a vida não é cousa terrível? (pg.323)
64) Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. (pg. 327)
65) Eu sendo água, me bebeu; eu sendo capim, me pisou; e me ressoprou, eu sendo cinza. Ah, não! Então, eu estava ali, em chão, em a-cú acôo de acuado?! (pg. 349)
66) Para as coisa que há de pior, a gente não alcança fechar as portas. (pg. 369)
67) Mas, mente pouco, quem a verdade toda diz. (pg. 380)
68) O que brotava em min e rebrotava: essas demasias do coração. Continuando, feito um bem, que sutil e nem me perturbava, porque a gente guardasse cada um consigo sua tenção de bem-querer, com esquivança de qualquer pensar, do que a consciência escuta e se espanta; e também em razão de que a gente mesmo deixava de excogitar e conhecer o vulto verdadeiro daquele afeto, com seu poder e seus segredos; assim é que hoje eu penso. (pg. 389)
69) A gente só sabe bem aquilo que não entende. (pg. 394)
70) O que mais digo: convém nunca a gente entrar no meio de pessoas muitodiferentes da gente. Mesmo que maldade própria não tenham, eles estão comvida cerrada no costume de si, o senhor é de extremos, no sutil o senhor sofreperigos. Tem muitos recantos de muita pele de gente. Aprendi dos antigos.Oque assenta justo é cada um fugir do que bem não se pertence. Parar o bomlonge do ruim, o são longe do doente, o vivo longe do morto, o frio longe doquente, o rico longe do pobre. (pg. 405)
71) O maior direito que é meu — o que quero e sobrequero -: é que ninguém tem odireito de fazer medo em mim! (pg. 410)
72) "Vida" é noção que a gente completa seguida assim, mas só por lei duma idéiafalsa. Cada dia é um dia. (pg. 414)
73) Eu tinha medo de homem humano. (pg. 422)
74)... um dia é todo para a esperança, o seguinte para a desconsolação. (pg. 426)
75) Do contrario, não tinna sincero jeito possível: porque ele era de raça tão persistente, no diverso da nossa, que somente a estância deíe, em frente, já media, conferia e reprovava. (pg. 430)
76) Uma coisa, a coisa, esta coisa: eu somente queria era – ficar sendo! (pg. 436)
77) Parente não é o escolhido - é o demarcado. (pg. 444)
78) Dentro de mim eu tenho um sono, e mas fora de mim eu vejo um sonho — umsonho eu tive. O fim de fomes. (pg. 451)
79)Aqui digo: que se teme por amor; mas que, por amor, também, é que a coragem se faz. (pg. 472)
80) Um outro pode ser a gente; mas a gente não pode ser um outro, nem convém...(pg. 476)
81)A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação - porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada. (pg. 477)
82) O que nesta vida muda com mais presteza: é lufo de noruega, caminhos de antaem setembro e outubro, e negócios dos sentimentos da gente. (pg. 478)
83) Só quando se tem rio fundo, ou cava de buraco, é que a gente por riba põeponte...(pg. 479)
84) "Minha Senhora Dona: um menino nasceu — o mundo tornou a começar.... u- e saí para as luas. (pg. 484)
85) Digo ao senhor. meu medo é esse. Todos não vendem? Digo ao senhor: o diabo não existe, não há, e a ele eu vendi a alma... Meu medo é este. A quem vendi? Medo meu é este, meu senhor: então, a alma, a gente vende, só, é sem nenhum comprador... (pg. 501)
86) O que meus olhos não estão vendo hoje, pode ser o que vou ter de sofrer no diadepois d’amanhã. (pg. 534)
87) Dói sempre na gente, alguma vez, todo amor achável, que algum dia sedesprezou... (pg.538)
88) Tirante que não pedi conselhos. Mas não houvesse: mas, pedir conselho - não ter paciência com a gente mesmo; mal hajante... (pg. 548)
89) Riobaldo, hoje-em-dia eu nem sei o que sei, e, o que soubesse, deixei de saber oque sabia... "(pg. 549)
90) Só que não entendo quem se praz com nada ou pouco; eu, não me serve cheirar a poeira do cogulo - mais quero mexer com minhas mãos e ir ver recrescer a massa. (pg. 560)
91) Mas eu sabia que era o minuto e não era a hora. (pg. 566)
92)... e para sentir que Diadorim não era mortal. E que a presença dele não me obedecia. Eu sei: quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade... (pg. 568)
93)E, Diadorim, que vinha atrás de mim uns metros, quando virei o rosto vi meu sorriso nos lábios deíe. (pg. 579)
94) O senhor escute meu coração, pegue no meu pulso. O senhor avista meus cabelos brancos... Viver- não é? - é muito perigoso. Porque ainda não se sa6e. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo. (pg. 601)
95)”Tu não acha que todo o mundo é doido? Que um só deixa de doido ser é em horas de sentir completa coragem ou o amor. Ou em horas em que consegue rezar?"(pg. 603)