NASSAR, RADUAM

RADUAM NASSAR


Raduan Nassar nasceu em Pindorama, São Paulo, a 27 de novembro de 1937. Seu nascimento se deu pelas mãos da parteira Rosa Conca de esquina da rua 15 de Novembro com a rua 1º de Maio, onde vivia a família Nassar.
Iniciou seus estudos primários no Grupo Escolar de Pindorama, em 1943, onde recitava poesias nas datas comemorativas. No ano seguinte, 1944, Raduan entra em uma fase de grande fervor religioso, e se tornaria, dois anos depois, coroinha.
Em 1947, inicia o curso ginasial do Colégio Estadual de Catanduva, na cidade de mesmo nome e começa a trabalhar com o pai. Dois anos depois, a família de Raduan muda-se para Catanduva a fim de tornar mais fácil o acesso das crianças da casa aos estudos. Em 1950, durante uma aula da quarta série ginasial, Raduan é acometido de uma convulsão ? a primeira de uma série de sete que se ocorreriam por mais dois dias seguidos. Diante de um diagnóstico irresponsável e alarmista, seus pais decidem transportá-lo para São Paulo, onde Raduan será tratado por um neurologista.
É a partir dessa data que o adolescente expansivo e de memória excelente passa a ser quieto e introvertido. Raduan abandonaria os estudos neste ano para só retomá-los no ano seguinte, 1951.
No mesmo ano é que o escritor começa a ler clássicos da literatura brasileira. Sua irmã Rosa, licenciada em Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, passa a ser a professora da escola em que Raduan estuda e também a prestar consideráveis progressos no aprendizado de língua portuguesa do irmão, em casa.
Em 1953, com o pai dos Nassar tendo em vista uma maior comodidade para que os filhos continuem os estudos, a família Nassar muda-se para o bairro de Pinheiros, em São Paulo, mais exatamente na rua Teodoro Sampaio, número 2173, local onde o pai de Raduan abre um armarinho, o Bazar 13. O Bazar 13 do pai dos Nassar se tornaria, anos mais tarde, uma empresa de expressão comercial em São Paulo.
Em 1955, Raduan ingressa na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e no curso de Letras Clássicas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Abandona, no segundo semestre do mesmo ano, o curso de Letras e conhece, no curso noturno de Direito, Hamilton Trevisan que acabaria apresentando-o a Modesto Carone, de quem Raduan se tornaria grande amigo.
O três amigos têm todos pretensões literárias e muitas de suas conversas são a respeito de literatura. Em 1957, Raduan ingressaria no curso de Filosofia da USP. Era o sexto dos irmãos Nassar a freqüentar a mesma faculdade, à época funcionando no antigo prédio situado à rua Maria Antonia, no centro de São Paulo.
Em 1959, decidido a se dedicar integralmente à literatura, Raduan abandona o curso de Direito no último ano e passa a freqüentar apenas o curso de estética na Faculdade de Filosofia. No ano seguinte, morre seu pai, João Nassar, então paralítico, depois de convalescer durante oito anos de grave doença. Cristão ortodoxo e agricultor num Líbano sob domínio otomano, o pai de Raduan foi o responsável pela primeira formação política dos filhos, pois estes cresceram ouvindo os relatos sobre aquela presença colonial.
Em 1961, deixa os negócios da família e viaja para o Canadá a fim de encontrar-se com duas tias, irmãs de seu pai, que moravam em Matane. Depois, segue para os Estados Unidos como imigrante, onde permanece por apenas dois meses. É também em 1961 que escreve o conto Menina a Caminho.
Volta ao Brasil no ano seguinte e retoma o curso de Filosofia na USP e o conclui um ano depois, em 1963. Em 1964, Raduan viaja para Alemanha com o intuito de estudar alemão. Fica sabendo do golpe militar de 31 de março através das cartas que recebe dos amigos. Comunica então ao Departamento de Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP sua decisão de não assumir a assistência da cadeira de Psicologia Educacional no campus de São José do Rio Preto daquela instituição. Decide também abandonar o curso de alemão e viajar para o Líbano, onde conhece a aldeia em que seus pais viveram, retornando, em seguida, ao Brasil.
De volta ao Brasil, Raduan passa a ser criador de coelhos na chácara Taipi, em Cotia, São Paulo. Seu sócio no empreendimento, Ernst Weber se dedicaria com ele ao jornalismo, alguns anos mais tarde. Em 1967, abandona a carreira de criador de coelhos e funda, ao lado dos irmãos, o Jornal do Bairro, no qual conta com a participação de seu amigos, sobretudo, de José Carlos Abbate, que assume as funções de redator-chefe da publicação, onde Ernst Weber se iniciou no jornalismo. Apesar de ser um jornal regional, o semanário se dedicava uma boa parte do seu conteúdo jornalístico à cobertura de fatos da política nacional e internacional.
Em 1970, Raduan Nassar escreve a primeira versão da novela Um Copo de Cólera, e os contos O Ventre Seco e Hoje de Madrugada. Dois anos depois, participa junto com seus familiares de uma leitura do Novo Testamento. As leituras duram quase que o ano todo. Ao mesmo tempo, ele retoma as leituras do Velho Testamento e do Alcorão (esta iniciada em 1968). Todo esse estudo religioso irá, mais tarde, se refletir de modo acentuado em Lavoura Arcaica.
Conhece sua futura companheira, a professora Heidrun Brückner, do Departamento de Línguas Germânicas da USP, em 1973, e, no ano seguinte, deixa o Jornal do Bairro por discordar de algumas mudanças editoriais. Nessa época, o semanário tinha uma tiragem de 160 mil exemplares.
Começa a trabalhar exclusivamente no livro Lavoura Arcaica, chegando a trabalhar mais de 10 horas por dia no texto. Depois de terminado o romance, Raja, irmão de Raduan, oferece uma cópia dos originais ao professor de psicologia Dante Moreira Leite, o qual encaminha os originais à Livraria José Olympio Editora, no Rio de Janeiro, que, em 1975, publica o livro com um ajuda financeira feita pelo próprio Raduan.
Em 1976, o livro ganha o prêmio Coelho Neto para romance, da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Jabuti e a Menção Honrosa da Associação Paulista de Críticos de Arte. Dois anos depois, a Livraria Cultura Editora publica Um Copo de Cólera, pela Alfaguara, de Madri.
Em 1982, a mesma Alfaguara lança a edição espanhola de Lavoura Arcaica, e, em 1984, a Editora Gallimard, da França, lança Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera. Nesse mesmo ano, 1984, Raduan compra a fazenda Lagoa do Sino, em Buri, sudeste do Estado de São Paulo e passa a se dedicar integralmente à produção rural, deixando claro, em entrevista concedida ao caderno Folhetim do jornal Folha de São Paulo, que abadonara a literatura. No mesmo número o Folhetim traria publicado o conto O Ventre Seco.
Raduan ainda teria seus livros e contos publicados em alemão, pela editora Suhrkamp, na década de 80 e o relançamento dos mesmos seria feito pela Companhia das Letras aqui no Brasil. Em 1994, o livro Menina a Caminho sai numa edição não-comercial em comemoração aos 500 títulos da Companhia das Letras.
Em 2000, Raduan não quis receber, das mãos de FHC, a Ordem do Mérito Cultural, condecoração sempre entregue com muita pompa para dezenas de intelectuais. Adota essa posição por ser um contundente crítico da política cultural do governo e também da política agrícola.


LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS

UM COPO DE CÓLERA

"... e estava assim na janela, quando ela veio por trás e se enroscou de novo em mim, passando desenvolta a corda dos braços pelo meu pescoço, mas eu com jeito, usando de leve os cotovelos, amassando um pouco seus firmes seios, acabei dividindo com ela a prisão a que estava sujeito, e, lado a lado, entrelaçados, os dois passamos, aos poucos, a trançar os passos, e foi assim que fomos diretamente pro chuveiro.""O corpo antes da roupa", afirma o personagem de Um copo de cólera ao narrar o que acontece numa manhã qualquer, depois de uma noite de amor, quando a aparente harmonia entre ele e sua parceira se rompe de repente. Tensa, contundente, a linguagem de Um copo de cólera alcança tal intensidade e vibração que faz desta narrativa uma obra singular da literatura brasileira, um clássico dos nossos tempos.

LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS

LAVOURA ARCAICA

 
Lavoura Arcaica é um texto em que se entrelaçam o novelesco e o lírico, por meio de um narrador em primeira pessoa –André – o filho encarregado de revelar o avesso de sua própria imagem e, conseqüentemente, o avesso da imagem da família. É sobretudo uma aventura com a linguagem: além de fundar a narrativa, a linguagem é também o instrumento que, com seu rigor, desorganiza um outro rigor, o das verdades pensadas como irremovíveis. Lançado em dezembro de 1975, foi imediatamente considerado um clássico, “uma revelação, dessas que marcam a história da nossa prosa narrativa”, segundo o professor e crítico Alfredo Bosi.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my site, it is about the CresceNet, I hope you enjoy. The address is http://www.provedorcrescenet.com . A hug.