(Poeta e dramaturgo inglês)
23/04/1564, Stratford on Avon
23/04/1616, Stratford on Avon
Um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, William Shakespeare foi o terceiro filho do casal John e Mary. Teve uma vida sem maiores problemas financeiros até os 12 anos, quando o seu pai, que fabricava tintas, bolsas e luvas de couro, faliu. A partir daí, William Shakespeare começou a trabalhar para ajudar no sustento da família. Mesmo assim, não deixou de ler autores clássicos, novelas, contos e crônicas, que foram fundamentais na sua formação de poeta e dramaturgo. Em sua juventude, estudou latim e começou a escrever logo após o seu casamento com Anne Hathaway. Na época, o dramaturgo tinha 18 anos e a sua mulher, 26. Tiveram três filhos: Susanna e os gêmeos Judith e Hamnet, que morreu aos 11 anos. A mudança radical em sua vida aconteceu quando deixou a pequena Stratford on Avon e foi morar em Londres, cidade onde escreveu as suas maiores obras. Em 1592, com menos de 30 anos, Shakespeare já tinha o seu talento reconhecido no teatro, tendo redigido pelo menos duas peças: "A Comédia dos Erros" e "A Megera Domada". O seu prestígio aumentou ainda mais em 1594, quando começou a trabalhar para a companhia de teatro "The Lord Chamberlain's Men". A arte dramática do poeta pode ser dividida em três partes. Na primeira, compreendida entre os anos de 1590 e 1602, Shakespeare escreveu comédias alegres, dramas históricos e tragédias no estilo renascentista. A segunda fase, que vai até 1610, é caracterizada por tragédias grandiosas e comédias amargas, o autor está no seu auge produtivo. A última parte, que vai até a sua morte, é marcada basicamente pelo lançamento de peças que têm o final conciliatório. Sua primeira peça, "Tito Andrônico", escrita provavelmente em 1590, já revelava alguns dos elementos shakesperianos: O texto era uma tragédia repleta de assassinatos e violações. Toda a sua obra, escrita em 20 anos, está presente em palcos e telas de todo o mundo. Quase quatro séculos após a sua morte, William Shakespeare é um dos dramaturgos mais encenados no planeta. O autor inglês escreveu cerca de 40 peças, entre tragédias (Otelo, Romeu e Julieta, Rei Lear); dramas históricos (Henrique V, Ricardo III); e comédias (Muito Barulho por Nada, Sonhos de uma Noite de Verão). Antes de Shakespeare, nenhum outro dramaturgo ou poeta havia mostrado a natureza humana em toda a sua complexidade: a paixão de Romeu e Julieta, a sua obra mais conhecida, o ciúme cego de Otelo, a ambição de Macbeth. Shakespeare também deve ser um dos escritores mais citados no mundo. Mesmo quem nunca leu Hamlet certamente conhece a famosa frase: "Ser ou não ser, eis a questão". Freqüentemente, alguns poucos estudiosos atribuem a Francis Bacon (1561/1626) e a Christopher Marlowe (1564/1593) parte de sua obra. No entanto, os pesquisadores que desconfiam da produção do dramaturgo não conseguiram provar as suas teorias e a densa obra de Skakespeare sobrevive pela excelente qualidade poética. Suas peças aliam uma visão poética e refinada a um forte caráter popular. Nelas, os crimes, os incestos, as violações e as traições são ingredientes para o divertimento do público. Shakespeare escreveu também poemas e mais de 150 sonetos que expressam frustração, agitação, masoquismo e homossexualismo.
LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA EDIOURO
O MERCADOR DE VENEZA (L!)
Curiosidades sobre a obra
(por Bárbara Heliodora.)
Origem
A trama de O Mercador de Veneza é o resultado da mistura de duas outras de origens diversas, mas dotadas ambas de fortes características de narrativas tradicionais como os contos de fadas ou os do folclore. Uma escolha a ser feita entre três opções, duas erradas e uma certa - e que tanto podem ser objetos quanto pessoas - tem sido apresentada em incontáveis manifestações com toda espécie de variantes, como por exemplo, O Amor de três laranjas, Cinderela ou as três irmãs de Rei Lear; mas a quase-totalidade do enredo tal como ele se apresenta nesta comédia, Shakespeare o encontrou na história de Gianetto em uma coletânea de novelle italianas intitulada Il Percorone, que foi escrita - ou talvez apenas organizada - por Ser Giovanni Fiorentino, escritor de quem não se conhece qualquer outra obra. Nesta fonte, no entanto, a prova da conquista da moça é apresentado sob a forma de o candidato agüentar uma noite inteira acordado, sendo que os dois primeiros são adormecidos com soníferos ministrados às escondidas; a variante com três arcas, por outro lado, o poeta pode ter tirado do poema Confesso Amantis, de John Gower, do Decameron, de Bocácio, ou da veneranda Gesta Romanorum, que nasceu no século XIV mas teve duas edições em inglês no século XVI.A história do pagamento de uma dívida por meio de uma liba de carne também poderia ser encontrada em bom numero de fontes, sendo que ao menos duas seriam de fácil acesso para Shakespeare, a popular A Balada da Crueldade de Geruntus, que data de antes de 1590, e O Orador, uma coletânea de orações, dentre as quais se encontra a que leva o título de De um judeu, que queria, por uma dívida, obter uma libra de carne de um cristão.
Contexto Social
Contexto Social
A criação de O Mercador de Veneza, parece refletir com bastante precisão a forte onda de anti-semitismo que varreu Londres em 1593-94; Rodrigo Lopez, um judeu português que havia atingido a elevada posição de médico pessoal da rainha Elizabeth I, envolveu-se em uma complexa trama política (em torno de Portugal e não da Inglaterra) e acabou acusado de tomar parte de uma conspiração para assassinar a soberana. Hoje em dia há quase que total certeza de que a acusação feita a Lopez foi forjada, mas na época o clima ficou muito violento, e o médico judeu efetivamente foi enforcado em junho de 1594.
Durante o período da Segunda Guerra Mundial, Shylock foi interpretado como impressionante defensor da dignidade de sua raça, vitima de constantes perseguições de um cristianismo cruel.
Psicanálise
Durante o período da Segunda Guerra Mundial, Shylock foi interpretado como impressionante defensor da dignidade de sua raça, vitima de constantes perseguições de um cristianismo cruel.
Psicanálise
Muitos psicanalistas vêm em Shakespeare o verdadeiro precursor de Freud, e esta constatação evidencia a atração que até hoje suas figuras exercem.FREUD foi tão longe em seus estudos sobre o Poeta, que em 1913, reúne dois textos para interpretá-los: O Mercador de Veneza e Rei Lear. A situação, o mote literário da escolha dos candidatos de Porcia entre os três cofres, é examinado pelo psiquiatra que demonstrou sempre, um profundo conhecimento da obra do teatrólogo inglês, e nela captou elementos pra dissecar seu conteúdo psicanalítico, dele extraindo lições para seu métier.
Anti-semitismo?
Anti-semitismo?
Reportando-se mais especificamente ao “Mercador de Veneza”, Harold Bloom (2000, p. 222) dele diz:Somente um cego, surdo e mudo não constataria que a grandiosa e ambígua comédia Shakespeariana “O Mercador de Veneza” é uma obra profundamente anti-semita. [...] Seria improvável que o próprio Shakespeare fosse anti-semita, mas Shylock é um daqueles personagens Shakespearianos que parecem transpor os limites das peças a que pertencem.
Lei, Direito e Justiça
Lei, Direito e Justiça
Nesta ponte que buscamos estabelecer entre literatura, direito, filosofia, e hermenêutica, tende-se a responder a inquirições básicas, como os descompassos oriundos entre lei, direito e justiça, ligados a um tema que não é espúrio à filosofia nem ao Direito.
O Aspecto Racial
O Aspecto Racial
No Mercador de Veneza, as personagens de António e Shylock representam, respectivamente, o julgamento coração e o julgamento da mente. Trata-se de personagens simbólicos, que transportam traços característicos dos grupos a que pertencem. O seu conflito não é, pois, meramente pessoal, mas também racial e religioso. Conforme observa Ludwig Lewisohn, “problemas constante e aprofundadamente enraizados conferem a esta fábula um significado que não se esgota nela própria”. (T. Heline)
LIVRO ESCOLHIDO – EDITORA L&PM
O REI LEAR
O REI LEAR E A AGRESSIVIDADE EGÓICA
(RITA FRANCI MENDONÇA)
Será Shakespeare, no drama do Rei Lear que exemplificará o comparecimento egóico da agressividade, sobretudo em seu liame social com a perversão. O rei protagonista representa um déspota pautado pela suposição de existir a lei de seu próprio gozo. Portanto, ele governa pelo submetimento, cuja contrapartida provoca, em alguns súditos, a identificação idólatra com seu despotismo e, em outros, desperta a obsessiva e ritual suposição de que dele emana uma lei a se obedecer, a ponto de ser venerado com lealdade, mesmo por aqueles que ele maltrata. O rei, ao propor às filhas uma incondicional demanda de amor e de cumplicidade, em troca de parte de seu reino, exemplifica uma proposta megalômana, que permitirá às mesmas lançar mão da perversão sedutória. Tal proposta de medir o amor das filhas elide qualquer relação fundada no amor, em favor de um pacto perverso. Já Cordélia, cuja relação com o pai é simbólica e amorosa, não necessita recorrer à sedução. Porém, o rei não pode suportar que ela rejeite sua demanda de identificação idólatra quando ela declara não ser somente filha, mas também mulher para ser amada e desejada por outro homem. Por esta razão, o rei não pode ouvir as advertências do conde de Kent sobre seu engano em deserdar Cordélia e abrir mão do reino para as duas filhas perversas. Isto porque, abrir mão de seu poder significa multifacetar o governar e isto poderia soar aos olhos do povo como uma confusão entre o pai severo e o pai humilhado, permitindo que as filhas o destituíssem do poder. Mas o conde recebe em troca de sua lealdade, a extradição.
Percebe-se que a perversão vai comparecer em todos os personagens interessados em usurpar algum poder. As filhas, uma vez de posse do reino, recusam-se a abrigar os cavaleiros do pai, para assim destituí-lo de qualquer proteção e poder. Elas cinicamente justificam seu sadismo, de forma aparentemente sensata. Já Edmundo, filho bastardo do conde de Gloucester, toma a legitimidade do irmão como intrusão limitante de seu gozo e, por isso, justifica sua perversão colocando-se como credor do pai, por ter sido concebido “com mais fogo vital”. Goza sadicamente ao perceber ser “fácil enganar um pai crédulo e um irmão nobre, que não conhece a maldade”. Deste modo, fingindo lealdade a ambos, joga um contra o outro. Assim, como no drama maquiavélico, justifica seus atos a fim de usurpar para si a legitimidade e os bens do irmão e põe o pai ao encalço do filho supostamente traidor. Em seguida, ele aproveita para usurpar o título e os bens do pai. Isto porque, tendo conquistado sua confiança através da manipulação, o pai lhe confidencia que ajudará o rei desamparado e que soube que o rei de França invadirá o país para restabelecer a ordem. Imediatamente ele delata o pai ao duque, marido de uma das herdeiras do rei. Este, supondo-se traído, demonstra sua perversidade facínora ao castigar o conde, que tenta contrariar seu gozo usurpador, arrancando-lhe os olhos. Seu sadismo é assim verbalizado: “ainda que não possamos condená-lo à morte sem a justiça formal, o nosso poder fará uma gentileza ao nosso ódio”. Deste modo, alia-se ao bastardo via especularidade sádica. Porém, é morto pela revolta de um servo do conde mutilado. Sua então viúva, fascinada pela perversão do bastardo, tenta seduzi-lo. O mesmo ocorre com sua irmã, que diz preferir perder a batalha ao seu objeto de desejo. Por isto esta última lhe propõe um pacto para eliminar seu marido, o duque de Albânia, já que ele tenta limitar a perversão da esposa ao perceber que “quem renega as suas origens não tem limite nem caráter” e diz: “a sabedoria e o caráter aos vis parecem vis” e “a imundície adora-se a si própria”. Por esta razão, o duque só aceita ir a guerra para defender a Inglaterra do invasor. Já Cordélia, apesar de ter sido vítima da severidade paterna, guarda deste pai humilhado um resquício de potência e, desta posição histérica, pretende reverter a impotência e banir a perversão. Para tal, reconcilia-se com o pai. A Inglaterra vence a batalha e o bastardo, supondo-se imune e impune por sua cumplicidade com as princesas, faz de Cordélia e do rei seus prisioneiros e manda enforcá-la, “colocando a culpa em seu próprio desespero”. O bastardo e as princesas são desmascarados em suas intenções e crimes e, sem saída para seu gozo, uma irmã envenena a outra, logo após suicídando-se. O rei não resiste a dor da perda da leal Cordélia, mas será simbolizado como “pai morto”, já que é colocado por seus fiéis súditos no lugar de pai ideal. Estes, em seu nome, restabelecem a lei, mesmo que, ironicamente, este texto dramático mostre que ele a supunha como “lei do gozo”.
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O REI LEAR
O REI LEAR E A AGRESSIVIDADE EGÓICA
(RITA FRANCI MENDONÇA)
Será Shakespeare, no drama do Rei Lear que exemplificará o comparecimento egóico da agressividade, sobretudo em seu liame social com a perversão. O rei protagonista representa um déspota pautado pela suposição de existir a lei de seu próprio gozo. Portanto, ele governa pelo submetimento, cuja contrapartida provoca, em alguns súditos, a identificação idólatra com seu despotismo e, em outros, desperta a obsessiva e ritual suposição de que dele emana uma lei a se obedecer, a ponto de ser venerado com lealdade, mesmo por aqueles que ele maltrata. O rei, ao propor às filhas uma incondicional demanda de amor e de cumplicidade, em troca de parte de seu reino, exemplifica uma proposta megalômana, que permitirá às mesmas lançar mão da perversão sedutória. Tal proposta de medir o amor das filhas elide qualquer relação fundada no amor, em favor de um pacto perverso. Já Cordélia, cuja relação com o pai é simbólica e amorosa, não necessita recorrer à sedução. Porém, o rei não pode suportar que ela rejeite sua demanda de identificação idólatra quando ela declara não ser somente filha, mas também mulher para ser amada e desejada por outro homem. Por esta razão, o rei não pode ouvir as advertências do conde de Kent sobre seu engano em deserdar Cordélia e abrir mão do reino para as duas filhas perversas. Isto porque, abrir mão de seu poder significa multifacetar o governar e isto poderia soar aos olhos do povo como uma confusão entre o pai severo e o pai humilhado, permitindo que as filhas o destituíssem do poder. Mas o conde recebe em troca de sua lealdade, a extradição.
Percebe-se que a perversão vai comparecer em todos os personagens interessados em usurpar algum poder. As filhas, uma vez de posse do reino, recusam-se a abrigar os cavaleiros do pai, para assim destituí-lo de qualquer proteção e poder. Elas cinicamente justificam seu sadismo, de forma aparentemente sensata. Já Edmundo, filho bastardo do conde de Gloucester, toma a legitimidade do irmão como intrusão limitante de seu gozo e, por isso, justifica sua perversão colocando-se como credor do pai, por ter sido concebido “com mais fogo vital”. Goza sadicamente ao perceber ser “fácil enganar um pai crédulo e um irmão nobre, que não conhece a maldade”. Deste modo, fingindo lealdade a ambos, joga um contra o outro. Assim, como no drama maquiavélico, justifica seus atos a fim de usurpar para si a legitimidade e os bens do irmão e põe o pai ao encalço do filho supostamente traidor. Em seguida, ele aproveita para usurpar o título e os bens do pai. Isto porque, tendo conquistado sua confiança através da manipulação, o pai lhe confidencia que ajudará o rei desamparado e que soube que o rei de França invadirá o país para restabelecer a ordem. Imediatamente ele delata o pai ao duque, marido de uma das herdeiras do rei. Este, supondo-se traído, demonstra sua perversidade facínora ao castigar o conde, que tenta contrariar seu gozo usurpador, arrancando-lhe os olhos. Seu sadismo é assim verbalizado: “ainda que não possamos condená-lo à morte sem a justiça formal, o nosso poder fará uma gentileza ao nosso ódio”. Deste modo, alia-se ao bastardo via especularidade sádica. Porém, é morto pela revolta de um servo do conde mutilado. Sua então viúva, fascinada pela perversão do bastardo, tenta seduzi-lo. O mesmo ocorre com sua irmã, que diz preferir perder a batalha ao seu objeto de desejo. Por isto esta última lhe propõe um pacto para eliminar seu marido, o duque de Albânia, já que ele tenta limitar a perversão da esposa ao perceber que “quem renega as suas origens não tem limite nem caráter” e diz: “a sabedoria e o caráter aos vis parecem vis” e “a imundície adora-se a si própria”. Por esta razão, o duque só aceita ir a guerra para defender a Inglaterra do invasor. Já Cordélia, apesar de ter sido vítima da severidade paterna, guarda deste pai humilhado um resquício de potência e, desta posição histérica, pretende reverter a impotência e banir a perversão. Para tal, reconcilia-se com o pai. A Inglaterra vence a batalha e o bastardo, supondo-se imune e impune por sua cumplicidade com as princesas, faz de Cordélia e do rei seus prisioneiros e manda enforcá-la, “colocando a culpa em seu próprio desespero”. O bastardo e as princesas são desmascarados em suas intenções e crimes e, sem saída para seu gozo, uma irmã envenena a outra, logo após suicídando-se. O rei não resiste a dor da perda da leal Cordélia, mas será simbolizado como “pai morto”, já que é colocado por seus fiéis súditos no lugar de pai ideal. Estes, em seu nome, restabelecem a lei, mesmo que, ironicamente, este texto dramático mostre que ele a supunha como “lei do gozo”.
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