Sem diploma do secundário (ensino médio), o prêmio Nobel de Literatura em 1949, e prêmio Pullitzer em 1955 e 1963 (póstumo), William Faulkner viveu em sua pequena cidade no Estado mais pobre dos Estados Unidos, o Mississipi. Só viajava para Hollywood para arranjar trabalho como roteirista. Indo e vindo, entre 1932 e 1955, trabalhou para os estúdios Metro, Fox e Warner. Como escreveu o crítico brasileiro Sérgio Augusto: "Só aderiu ao cinema porque precisava de dinheiro. Tinha 35 anos e acabara de escrever 'Luz em Agosto'. A venda de seus livros mal dava para pagar a conta da luz. Seus primeiros quatro livros não venderam mais de 2 mil exemplares cada. Seu primeiro (e único) best seller, 'The Wild Palms', é de 1939".
Por volta de 1958, a Fox tentou trazê-lo de volta. Na época, Faulkner, que já não estava mais tão necessitado de dinheiro, recusou o convite.
Tímido, ele preferia a companhia de seus amigos caçadores e dos vizinhos de seu sítio a outros escritores e intelectuais.
Seus primeiros livros traziam características da literatura do fim do século 19. "O Povoado", o primeiro romance da "Trilogia Snopes", é um retrato irônico das grandes depressões que antecederam a Guerra Civil norte-americana.
Faulkner entrou numa nova fase, quando encontrou seu estilo nas obras "O Som e a Fúria", "Enquanto agonizo", "Santuário", "Luz em agosto", "Absalão! Absalão!" e "Palmeiras Selvagens".
Além de viagens necessárias à sua carreira, Faulkner continuou enfurnado no Mississipi até se tornar escritor residente da Universidade de Virgínia. O contato com os estudantes está registrado no livro "Faulkner na Universidade".
Faulkner entrou numa nova fase, quando encontrou seu estilo nas obras "O Som e a Fúria", "Enquanto agonizo", "Santuário", "Luz em agosto", "Absalão! Absalão!" e "Palmeiras Selvagens".
Além de viagens necessárias à sua carreira, Faulkner continuou enfurnado no Mississipi até se tornar escritor residente da Universidade de Virgínia. O contato com os estudantes está registrado no livro "Faulkner na Universidade".
LIVRO ESCOLHIDO - EDITORA COSAC NAIFY
LUZ EM AGOSTO ( L! )
Entre 1929 e 1932, William Faulkner publicou algumas das narrativas mais extraordinárias do século XX: Sartoris (1929); O som e a fúria (1929); Enquanto agonizo (1929); Santuário (1931); Luz em agosto (1932). Este último é um daqueles romances de arquitetura complexa, nos quais a ruptura com a linearidade provoca, a princípio, certo estranhamento. O tempo é estilhaçado, construindo um paradigma do procedimento típico do autor de entrecruzar histórias que ganham matizes inesperados quando comparadas entre si. Para que os detalhes de cada uma das narrativas apareçam, é necessário que o tempo, em um jogo de avanços e recuos, faça com que o leitor, em um primeiro momento, se perca entre as idas e vindas. Nas palavras de Sartre: “Seria equivocado tomar essas anomalias por exercícios gratuitos de virtuosidade: uma técnica romanesca sempre remete à metafísica do romancista ... a metafísica de Faulkner é uma metafísica do tempo”.
Faulkner valoriza todos os estilhaços. Multiplica os pontos de vista. Ilumina figuras sublimes e grotescas. Da atmosfera de violência e horror do Mississippi surgem personagens profundamente humanas: o assassino dilacerado pela herança de sangue; a mulher de família abolicionista hostilizada por uma cidade orgulhosa de seu passado escravocrata; o pastor refém de um passado familiar de violência e glória; o brutal defensor da justiça feita com as próprias mãos; o casal de velhos atormentados pelo fantasma do neto; o homem solitário que pensou estar livre das desgraças, e dos encantamentos, de amar; a jovem decidida e ingênua, deixada à própria sorte.
O ponto de entrecruzamento das três histórias é Joe Christmas, um mulato em quem, aparentemente, não se nota o sangue negro, mas a quem a marca do passado miscigenado não abandona nunca. Torturado pela falta de identidade, tem uma postura reativa e violenta frente ao mundo e, segundo o escritor Marçal Aquino, na orelha do livro, “Christmas é também o personagem mais dolorosamente trágico criado por Faulkner”. A seu lado, como companhia na marginalidade e no abandono, há Lena Grove, uma jovem que busca desesperadamente - do Alabama ao Tennessee - o pai do filho que carrega na barriga e que fugiu, tendo mudado de nome. Como elo da narrativa, está o não menos desesperado reverendo Hightower, um pastor rejeitado e traído por todos – pela mulher, por sua igreja e pela comunidade.
O romance se divide em 21 capítulos, como os Evangelhos, e a analogia da vida de Joe Christmas com a de Jesus Cristo já foi traçada pela crítica. De fato, JC não sabe quem foi o pai e sua vida será um constante conflito com a própria identidade negra ou mestiça, que não pode ser assumida integralmente sem confrontar as bases da sociedade racista de seu tempo.
Faulkner transforma a vida em vertigem. Nada está morto. Os estilhaços do passado ainda ferem. Sartre soube explicar a vertigem faulkneriana: “Parece que podemos comparar a visão de mundo de Faulkner àquela de um homem sentado num carro aberto e que olha para trás. A cada instante sombras disformes surgem à sua direita, à sua esquerda, lusco-fusco, tremores difusos, confetes de luz que não se tornam árvores, homens, carros senão um pouco depois, com o distanciamento”.
(A bem dizer, os primeiros capítulos apresentam a limpidez da paisagem sulista refletida também na linguagem, cujas dobras vão se acentuando a partir do capítulo 6. O título se refere a esta luz outonal em pleno verão – os sinais naturais de uma decadência em meio ao apogeu da vida. Alude ainda a uma canção tradicional norte-americana sobre os nascidos antes do tempo. Os fatos que inspiraram o autor aconteceram quando era criança em Oxford, Mississippi.) Mas a história não termina aí. Toda a maestria da construção de Luz em agosto se confirma no último capítulo, numa reviravolta narrativa que o consagrou definitivamente. O leitor, guiado por Faulkner, encerra o livro em estado de assombro. Viveu intensamente o horror, tomou contato com regiões sombrias da alma. Percebeu o passado como um inimigo que não dá trégua. Será assombrado por imagens poderosas da grandeza épica brotando naquela vida pobre, sórdida e trágica. Um livro que não tem fim.
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